Os movimentos de consolidação bancária na Ibéria

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Na Europa, temos várias vozes que defendem uma maior e mais ativa consolidação bancária no espaço europeu. O próprio Banco Central Europeu (BCE) não esconde que o caminho já começou há muito, mas que ainda há muito por consolidar, designadamente ao nível dos pequenos bancos.

A plena realização da união bancária defendida por países como a França tem resistência em muitos Estados-Membros. A própria criação de um sistema europeu de garantia de depósitos tem sido bloqueada, nomeadamente pela Alemanha, apesar do aumento dos poderes de supervisão do BCE. Importa acautelar que um excesso de consolidação também pode trazer dificuldades, porque se existir um problema num grande banco europeu, este passa a ser sistémico.

Em Portugal, tem passado despercebida a OPA apresentada pelo BBVA ao Sabadell, que pode dar origem a um gigante bancário que seria o segundo maior banco de Espanha em ativos (perto de um bilião de euros em ativos), ultrapassando o CaixaBank e tornando-se um dos principais bancos europeus. Tudo começou há uns meses com uma OPA hostil que apanhou todos de surpresa e que não agradou ao Governo. Há mais de 40 anos que não havia uma OPA no mercado bancário espanhol.

A última grande fusão em Espanha foi em 2021: do CaixaBank e do Bankia. Quase metade das ações do Banco Sabadell são detidas pelos seus clientes, designadamente as empresas. O Banco Sabadell tem um papel muito relevante no financiamento das empresas, em operações de Trade Finance, e uma forte atividade na América Latina.

Esta fusão, tal como na fusão de 2021, vai implicar uma redução de funcionários através de reformas antecipadas e rescisões por mútuo acordo. Carlos Torres, presidente do BBVA, já admitiu publicamente esta redução laboral que, com a fusão, terá mais de 135.000 trabalhadores em todo o mundo e uma rede de mais de 7.000 agências.

Em Portugal, a consolidação bancária e o papel dos bancos nacionais face aos estrangeiros são temas que também têm sido discutidos. Ainda recentemente, o CEO da Caixa Geral de Depósitos, Paulo Macedo, manifestava alguma preocupação: “Se nós não estivermos disponíveis para isso (compra de outros bancos), a Caixa perderá a liderança e penso que também não é desejável que haja um maior crescimento de bancos, designadamente dos nossos vizinhos espanhóis”.

Os bancos portugueses – e mais concretamente o nosso banco público – têm um papel fundamental no financiamento da economia e, muito particularmente, às nossas empresas e indústrias com operações no estrangeiro.

A Lone Star já anunciou que quer vender o Novo Banco. A venda do Novo Banco pode fazer com que o banco do Estado possa perder a liderança bancária nacional ou possa reforçar o seu estatuto de liderança no crédito e nos depósitos. Confesso que não me chocaria, depois de tudo aquilo que já custou o antigo BES e uma vez que o Estado já detém 25% de capital do banco, que a Caixa pudesse adquirir o Novo Banco e manter a liderança. Aguardemos pelos próximos capítulos…

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