Parlamento da Turquia aprova adesão da Suécia à NATO

7 meses atrás 90

(em actualização) 

A votação foi antecedida por um debate sobre as cedências e conquistas de Ancara depois de meses de hesitação e de exigências para com Estocolmo e com os Aliados.


O maior pretexto para as reticências turcas começou por ser o acolhimento dado pela Suécia a membros do Partido dos Trabalhadores do Curdistão, PKK, que centra há décadas a resistência curda ao domínio turco e que o governo da Turquia considera terroristas.

Já em dezembro e depois de alguns compromissos suecos quanto à questão curda, incluindo a adoção de legislação anti-terrorista mais rigorosa e outras medidas securitárias, o presidente Recep Tayyip Erdogan acrescentou às suas condições a aprovação "simultânea", por parte do Congresso dos Estados Unidos, da venda de aviões caça F-16 para modernizar a Força Aérea da Turquia.

Exigência ainda por cumprir, mas aparentemente garantida mediante luz verde parlamentar à adesão sueca e ratificação que poderá ser assinada por Erdogan ainda esta semana.

O presidente norte-americano, Joe Biden, terá deixado esta certeza ao homólogo turco e a negociação final terá sido o principal assunto na agenda do secretário de estado Antony Blinken durante a sua visita a Istambul, no início do ano.
Vantagem: Turquia
Como membro da NATO com fortes laços com Moscovo, a Turquia tem gozado de uma posição previlegiada para negociar com ambos os blocos, incluindo quanto a armamento e tem negociado com destreza a sua aprovação à Suécia.

Como parte das negociações conseguiu por exemplo que, além da Suécia, também a Finlândia, o Canadá e os Países Baixos relaxassem as suas políticas quanto à exportação de armas turcas, algo que de alguma forma poderá vir a beneficiar Moscovo na guerra na Ucrânia.

Ancara tem lucrado duplamente com este conflito, ao manter e até alargar o comércio com a Rússia ao mesmo tempo que abastece Kiev com drones e outro material militar.

Erdogan é ainda um dos únicos líderes da NATO a manter conversas regulares com o seu homólogo russo, Vladimir Putin, tanto por telefone como presenciais. 

De acordo com a imprensa turca, Putin poderá mesmo visitar a Turquia no próximo mês, quando a guerra na Ucrânia estiver a entrar no seu terceiro ano.

Órban, a pedra no sapato
Com a aprovação da candidatura sueca por parte da Turquia em sessão plenária, a Hungria permanece como único obstáculo à adesão do país nórdico à Aliança Atlântica.

Esta terça-feira, Budapeste convidou o primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson, para uma reunião de forma a "discutir" a entrada. O convite foi divulgado na rede X numa publicação do primeiro-ministro húngaro, Viktor Órban.

Questionado pelos jornalistas, o ministro sueco dos Negócios Estrangeiros respondeu contudo sucintamente. "Não vejo razão para negociar no dia de hoje", disse Tobias Billström, lembrando que a Hungria "concedeu à Suécia o estatuto de convidado, durante a cimeira de Madrid, o ano passado", com vista a uma adesão futura, sem colocar reservas.

Apesar do revés, a Hungria tem contudo seguido a batuta turca neste dossier e espera-se que não demore a seguir-lhe o exemplo acolhendo a Suécia, de acordo com o artigo 10 do Tratado, o qual estipula que os membros têm liberdade para convidar outros Estados a integrar a organização, sob consenso e sob necessidade de ratificação de cada Estado-membro.

A Suécia apresentou a sua candidatura à NATO em simultâneo com a Finlândia, em reposta à invasão da Ucrânia pela Rússia há cerca de dois anos. A Finlândia foi admitida no passado mês de abril como 31º estado membro.

Tensão crescente

A entrada da Finlândia duplicou a área fronteiriça da Aliança Atlântica com a Rússia, e reforçou as defesas das três pequenas nações do Báltico, Estónia, Letónia e Lituânia, que aderiram à NATO depois do colapso da União Soviética.

As tensões entre o bloco russo e o bloco ocidental têm vindo a agravar-se, com Moscovo a acusar a NATO de violar acordos para se manter longe das suas fronteiras e os Aliados a apontarem o dedo à estratégia musculada do Kremlin. 

Tanto a Finlândia como a Suécia, ambos países neutrais durante décadas, alteraram a sua posição oficial após a invasão russa da Ucrânia, como forma de dissuasão quanto a uma eventual política expansionista a leste.


A Ucrânia é igualmente candidata a entrar na NATO, contudo a sua pretensão coloca múltiplos problemas e reticências a outros países membros. A Eslováquia, pelo seu primeiro-ministro Robert Fico, anunciou nos últimos dias o seu veto à candidatura, para "evitar a III guerra Mundial".
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