Numa mensagem publicada hoje na rede social X (antigo Twitter), o ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Cravinho, apelou ao Governo de Israel para que se "demarque claramente" das declarações proferidas por vários ministros, que juntaram as vozes às de milhares de israelitas que defendem o regresso dos colonatos à Faixa de Gaza.
"Portugal condena firmemente as declarações proferidas numa conferência em Jerusalém por membros do Governo israelita, nas quais se defendeu a expulsão do povo palestiniano de Gaza e a implantação de colonatos nesse território", afirmou o chefe da diplomacia portuguesa.
"Apelo ao executivo de Israel para uma demarcação clara face a estas declarações, recordando as obrigações de Israel, na sequência da recente decisão do TIJ [Tribunal Internacional de Justiça], para tomar todas as medidas no seu poder para prevenir e penalizar atos de incitamento a um genocídio", acrescentou.
Domingo, milhares de israelitas favoráveis ao regresso dos colonatos à Faixa de Gaza, incluindo diversos ministros, reuniram-se em Jerusalém e exortaram o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu a concretizar este projeto.
Membros do Likud, o partido de Netanyahu, e outros ministros, de extrema-direita, participaram na iniciativa, numa altura em que os combates redobravam de violência entre o Exército israelita e os combatentes do movimento islamita palestiniano Hamas em Gaza.
"Chegou o momento de regressar a Gush Katif e encorajar a emigração voluntária", declarou o ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, ao evocar um grupo de colónias israelitas antes instaladas em Gaza.
"A retirada conduziu à guerra e se não queremos mais '07 de outubros' devemos regressar a nossa casa, controlar o território e [...] encorajar" a partida 'voluntária'" dos palestinianos, acrescentou.
A reunião contou com a presença de outros 11 ministros, e decorreu num centro de conferências repleto em Jerusalém, segundo os organizadores.
Os intervenientes exigiram a expulsão dos palestinianos da Faixa de Gaza, ao considerarem que a reinstalação de colonatos constitui a única solução para garantir a segurança de Israel.
O encontro testemunha o reforço dos setores de extrema-direita e ultra religiosos na sociedade israelita, com riscos de uma profunda convulsão política e social e eventuais problemas nas relações com os Estados Unidos, o seu indefetível aliado.
Israel ocupou a Faixa de Gaza, a Cisjordânia e Jerusalém leste após a guerra de 1967. Pelo menos meio milhão de israelitas vivem atualmente na Cisjordânia em colónias consideradas ilegais pela maioria da comunidade internacional, ao lado de três milhões de palestinianos.
Em 2005 Israel retirou os seus nacionais de 21 colónias instaladas na Faixa de Gaza. O território abriga 2,4 milhões de palestinianos, a larga maioria deslocada desde o início dos combates em outubro passado.
O conflito em curso entre Israel e o Hamas, que desde 2007 governa na Faixa de Gaza, foi desencadeado pelo ataque do movimento islamita em território israelita em 07 de outubro.
Nesse dia, 1.140 pessoas foram mortas, na sua maioria civis mas também perto de 400 militares, segundo os últimos números oficiais israelitas. Cerca de 240 civis e militares foram sequestrados, com Israel a indicar que 127 permanecem na Faixa de Gaza.
Em retaliação, Israel, que prometeu destruir o movimento islamita palestiniano, bombardeia desde então a Faixa de Gaza, onde, segundo o governo local liderado pelo Hamas, já foram mortas pelo menos 26.400 pessoas -- na maioria mulheres, crianças e adolescentes -- e feridas mais de 64.000, também maioritariamente civis.
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