Portugal tem de voltar a ser um país com propósito

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Portugal é hoje um país asfixiado. Os portugueses perderam poder de compra, perderam qualidade de vida, e a resignação reina perante as poucas expectativas de que o país onde nasceram lhes possa dar espaço para concretizarem as suas ambições e poderem evoluir em termos de oportunidades, de ganharem mais e de melhorarem a sua qualidade de vida.

É também um país com uma sociedade estagnada, aprisionada numa narrativa demasiado estatizante, onde foi promovida uma cultura assistencialista, onde se diabolizou o reformismo, e se condicionou de forma absolutamente ideológica a iniciativa privada, reduzindo o espaço para que os portugueses pudessem prosperar, económica e socialmente.

Portugal falhou absolutamente em criar uma mentalidade positiva para fazer os portugueses acreditarem em si próprios, de que são competentes para realizarem os seus sonhos. E temos, no nosso país, uma cultura cada vez maior de cidadãos conformados, que sacrificam mais para terem o mesmo, ou menos.

É, por fim, um país sem um plano próprio. Não existe projeto estratégico para Portugal que não seja produzido em Bruxelas. E, pior ainda, não existe ambição de ter peso real dentro da União Europeia. Não temos uma estratégia própria para nos tornarmos um parceiro valioso para a Europa, e somos cada vez mais um passageiro de classe económica, contentes por ser distribuído qualquer tipo de snack gratuito a bordo.

É pouco, muito pouco para um país com uma dimensão cultural, diplomática e global como o nosso. E diria que, no contexto atual, onde a guerra e as fronteiras se estão a erguer, onde os desafios ecológicos e tecnológicos são imensos, este é um posicionamento bastante perigoso. Um país que desiste de pensar por si é um país condenado a perder-se facilmente, em termos de coesão social e cultural. E isso não pode ser bom para o futuro.

Os portugueses não estão melhor, apesar das notícias dizerem o contrário. Para eles, esse Portugal do milagre económico é, cada vez mais, outro Portugal. Um outro país, com apoios comunitários (PRR) que apenas servem ao Estado e às grandes empresas, onde existe um milagre orçamental e uma pujança económica que eles não conhecem, nem sentem no bolso. Para os portugueses, o que existe é apenas mais impostos, mais despesas, menos serviços públicos e menos confiança no futuro. Vivem asfixiados numa austeridade silenciosa que não entendem nem da qual se conseguem libertar.

Afinal, a verdade é que, ao contrário do que foi dito pelo governo do Partido Socialista, não virámos a página da austeridade. Fez-se, sim, de conta que tinha terminado, só que não é assim. Se fosse, por que razão mais de 250 mil portugueses (5% da população ativa) necessitariam de ter dois empregos atualmente? Ou porque teríamos 850 mil jovens (30% do total) a deixar o país para procurar uma oportunidade?

Na verdade, apenas uma política monetária irrepetível do Banco Central Europeu, que durante anos suportou custos de financiamento do Estado e os juros pagos pelas famílias e empresas portuguesas, baixíssimos, conseguiu disfarçar a realidade destas dificuldades.

O país tem de se reencontrar. Os portugueses precisam de quem lhes possa devolver palco no país, através de um renovado contrato social, no âmbito do qual seja possível voltar a gostar de viver, onde os Portugueses não vivam asfixiados e sem ter o controlo do seu destino.

Um país que trabalhe para mais coesão e mobilidade social, mais liberdade de escolha individual, e que seja capaz de repor a autoridade do Estado sem autoritarismos e divisões absurdas entre portugueses.

Um país que devolva esperança de que amanhã podemos ser mais do que somos hoje.

Um país com propósito e que sabe o que quer ser a cinco, a dez anos, trabalhando com a Europa, mas com uma agenda própria, apostando na sua identidade cultural como fator diferenciador para crescer e criar mais oportunidades para os portugueses se valorizarem.

Portugal tem de mudar de vida, reformar para ter futuro e voltar a ser um país com propósito.

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