Pulpis ao zerozero: o momento do futsal asiático antes do Mundial

2 semanas atrás 37

A elite do futsal mundial vai concentrar-se no Usbequistão, o país selecionado para organizar o Campeonato do Mundo de 2024. Pela quarta vez na história, a fase final da maior competição mundial de seleções viaja até à Ásia, um continente que procura encontrar o seu espaço na modalidade.

Usbequistão, Tailândia, Afeganistão, Tajiquistão e Irão são os representantes asiáticos na fase final desta edição. Cinco conjuntos à procura de surpreender e desafiar as crónicas potências. Mas mais do que prever o que pode fazer esta mão cheia de seleções durante a prova, o zerozero foi à descoberta do que é que se está a fazer por estes dias na Ásia para o desenvolvimento da modalidade. Em que ponto estão? Podem ser uma ameaça aos crónicos candidatos num futuro próximo?

Para estas questões descobrimos um homem com as respostas, um bem conhecido do futsal nacional: Pulpis. O treinador espanhol, de 50 anos, tem uma vasta carreira ligada ao futsal asiático - trabalhou na Tailândia, no Vietname e no Usbequistão de 2007 a 2021 - e foi para lá que regressou, em 2023, depois de deixar o Benfica. Por estes dias, Pulpis trabalha na China e é um conhecedor profundo do que se faz naquela região do globo.

Aprimorar condições ainda raspadas pela superfície

Não é preciso conversar muito tempo com Pulpis sobre o futsal asiático para perceber que o problema não é falta de investimento ou de condições. Os asiáticos nisso estão bem apetrechados. O antigo treinador do Benfica reparou, no entanto, na questão do profissionalismo e apontou esse como o caminho a seguir.

@FPF

«O futsal asiático está num ponto em que procura ser muito mais profissional do que era, depois de muitos anos de investimento em educação, em cursos e treinadores estrangeiros para trabalhar nas diferentes equipas e federações», começou por dizer-nos. Nesta altura, a preocupação passa por aprimorar o que existe e tirar o melhor proveito das bases criadas e a receita é «ter ligas muito mais profissionais e sérias, que não durem quatro ou cinco meses, mas sete ou oito como na Europa.»

Entende-se que na Ásia há dinheiro e condições, mas tudo ainda muito em bruto e a precisar de ser polido. O profissionalismo é um passo a ser dado, mas o trabalho já começou a ser feito há muito tempo. «Muitos países da Ásia fizeram, nos últimos 15/20 anos, um grande investimento para trazer bons treinadores e formadores. A AFC, por exemplo, contratou sempre treinadores europeus e americanos nos últimos anos para virem dar formação na Ásia», contou-nos Pulpis, ele próprio um técnico europeu já com um passado vasto no continente.

Como Pulpis, muitos outros: «Estão a tratar de trazer treinadores tanto para as diferentes seleções nacionais como para os clubes mais importantes. Pode ver-se mais treinadores de alto nível, como o Bruno García no Koweit, o Diego Giustozzi no Vietname ou o Imanol Arregui no Nagoya Oceans. Isto já leva 15 ou 20 anos e ter treinadores desse nível a trabalhar na Ásia faz com que o nível cresça muito.»

O passo seguinte: potenciar talento local

As bases estão criadas e agora é preciso construir sobre elas. Para Pulpis, o passo seguinte é lógico: «O passo seguinte tem que ser tratar de ter treinadores asiáticos capazes de trabalhar e fazer evoluir o futsal como os treinadores europeus e sul-americanos. Já estão a aparecer alguns que trabalham muito bem. E depois há a questão de tornar as ligas profissionais. O problema de muitos países era que tinham ligas amadoras, com equipas a treinar três ou quatro vezes por semana e sem treinos bidiários. Agora já se veem equipas a treinar de forma muito profissional e com treinadores de altíssimo nível, como o Mário Silva que chegou agora à Arábia Saudita, e jogadores como o Pany Varela.» 

qO único país que realmente tem condições para competir com as grandes potências do futsal mundial é o Irão

Pulpis

Sem qualquer dúvida de que o futsal «já é muito popular na Ásia», o treinador espanhol realçou a importância de os treinadores locais «serem capazes de desenvolver um estilo e maneira de trabalhar próprios» para aproximar o continente das outras potências. Ainda assim, à entrada para mais um Campeonato do Mundo, Pulpis vê uma seleção asiática com condições para dar trabalho aos candidatos.

«O único país que realmente tem condições para competir com as grandes potências do futsal mundial é o Irão», afirmou. «É uma equipa muito forte, com jogadores muito bons e com experiência na Europa, como os casos do Moslem Oladghobad e do Hossein Tayebi. Têm uma boa liga, uma equipa com boas individualidades e já têm experiência. Acredito que têm potencial para poder competir com Portugal, Brasil, Rússia, Espanha, Argentina ou Marrocos, que nesta altura parecem as equipas mais fortes», disse ainda.

Sobre o Usbequistão, onde trabalhou largos anos, Pulpis destacou o facto de que «joga em casa» e é uma equipa «muito dura» e «muito física», antes de concluir com a análise aos outros três representantes do continente: «A Tailândia também tem experiência e bons jogadores, mas não teve muita sorte no sorteio. É uma equipa com qualidade e com um bom treinador. O Afeganistão e o Tajiquistão penso que não estão preparados para competir, mas têm qualidade de qualquer maneira. Estão a crescer e a evoluir, mas não penso que possam ultrapassar a fase de grupos.»

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