Quando o capitalismo e o impacto social dão as mãos, ganham os investidores e o planeta

9 meses atrás 95

Se é verdade que o capitalismo é frequentemente acusado de ser um dos principais responsáveis pela ruína do meio ambiente, ao longo dos anos têm surgido novos olhares sobre o sistema económico que domina o mundo e que procuram aliá-lo a princípios de respeito pelo planeta e pelas questões sociais. Com um vasto histórico de contribuição para a sociedade, a Fundação Calouste Gulbenkian criou, em 2013, a Maze – trata-se de um braço de investimento em iniciativas inovadoras com impacto social. “Aquilo que trabalhamos na Maze é ajudar os investidores a encontrar projetos, startups e organizações em que possam investir para obter retorno financeiro, mas também ajudar a resolver problemas sociais ou ambientais”, explica-nos o fundador, António Miguel.

O diretor-executivo conhece bem o terreno em que se move, não tivesse já sido consultor de impacto social em várias organizações e empresas do meio financeiro em Portugal e além-fronteiras. António Miguel tem procurado influenciar, através da Maze e do fundo MSM, a adoção de projetos que contribuam para mudar o mundo, mesmo que um pouco de cada vez.

“Desde que fomos criados, há 10 anos, já mobilizámos mais de €300 milhões para investimento e financiamento sustentável e já trabalhámos com mais de 500 startups de impacto em Portugal e em toda a Europa”, revela ao Expresso.

António Miguel não tem dúvidas do potencial transformador que o sector financeiro pode ter no apoio à transição energética e ao alcance da neutralidade carbónica, nomeadamente por via da pressão dos depositantes. “A nossa voz enquanto consumidores pode ter um impacto muito significativo no que o sector faz com os nossos depósitos”, refere, enquanto apela a que todos procurem “orientar” a forma como o seu dinheiro é aplicado pelos bancos.

Para o final desta década, o gestor tem duas grandes expectativas. Por um lado, espera que a sociedade seja capaz de “retomar alguma moderação” na forma como encara os principais temas sociais e ambientais, e, por outro, perspetiva um mundo mais descarbonizado – um “mundo mais justo e moderado”, reforça.

IDEIA MICRO | OPTAR PELA ECONOMIA DE PARTILHA

DR

O conceito de propriedade tem vindo a evoluir, em especial entre as gerações mais jovens, e é daqui que parte uma das sugestões deixadas por António Miguel. “Cada vez mais existem soluções que nos permitem ter acesso a certos bens em vez de termos que os comprar”, aponta, referindo-se à partilha que já se verifica em automóveis, bicicletas ou trotinetas, por exemplo. Se um maior número de pessoas optar por este modelo – que muitos especialistas internacionais acreditam que será dominante num futuro próximo -, “haverá menos produção e a pegada carbónica desses produtos também se reduz”.

Este é, aliás, um dos principais objetivos de projetos como o The Tuga, de que já falámos aqui, que pretende disponibilizar microcarros elétricos que podem ser utilizados por qualquer pessoa, em qualquer lugar.

IDEIA MACRO | CRIAR INCENTIVOS PARA TECNOLOGIAS VERDES

Tiago Miranda

António Miguel acredita que é fundamental “criar incentivos fiscais para quem investe em tecnologias que ajudam a resolver a urgência climática”, de forma a aumentar a aposta em inovação com impacto e, com isso, a multiplicar o número de ferramentas que a sociedade tem à disposição para lidar com o desígnio da sustentabilidade. “Temos de investir bastante em inovação, principalmente em termos de ciência de materiais”, exemplifica.

E porque uma boa ideia nunca vem só, o líder da Maze sugere aplicar o mesmo modelo a temas como a habitação social e a redução da pobreza. Como? Transformar o regime de vistos gold, entretanto terminado, e atribuí-lo a investidores estrangeiros que procurem construir ou reabilitar habitação social em troca de vantagens fiscais. “É uma questão de que precisamos bastante em Portugal”, insiste.

São académicos, empresários e ativistas com vontade de mudar o mundo para melhor, um passo de cada vez. O projeto Líderes da Transição, do Expresso com apoio da EDP, selecionou 20 personalidades portuguesas com percurso assinalável na jornada da sustentabilidade e vai partilhá-lo com os leitores até dezembro. Ao longo de 10 semanas, o Expresso publica as suas histórias, percursos e ambições para incentivar a transição para um futuro mais verde.

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