Refurbed: Marketplace de recondicionados que ambiciona ser Amazon da sustentabilidade chegou a Portugal

2 meses atrás 78

Com preços até 40% mais baratos que os produtos acabados de lançar no mercado, a Refurbed assume-se como o marketplace dos produtos recondicionados. A estrear-se em Portugal com produtos eletrónicos, vai continuar a alargar o espectro até vender máquinas de café e aspiradores, algo já pensado para os próximos meses.

A Refurbed podia brincar com o nome, mas a empresa austríaca decidiu abrir o jogo e ser direta. Do verbo inglês refurbish (renovar, restaurar), a Refurbed é precisamente o que o nome vende: uma empresa de produtos recondicionados, mas muito mais que os típicos smartphones de uma marca norte-americana bastante popular. Chegou recentemente a Portugal, o seu 11º mercado europeu.

Fundada em 2017, a Refurbed foi fundada por três amigos com preocupações relativamente ao ambiente, ao mundo que deixarão para os seus herdeiros e também com o aumento da poluição tecnológica.

Numa rápida visita a Portugal para a apresentação ao mais recente mercado, um dos seus fundadores e CEO, Kilian Kaminski, explicou que desde a fundação, a empresa já conseguiu poupar evitar a emissão de 270 toneladas de dióxido de carbono, 885 toneladas de e-waste (lixo eletrónico) e poupar 94 mil milhões de litros de água.

Kilian inicia a sua apresentação a referir que iniciou a sua jornada no mundo de trabalho na Amazon, no segmento do marketplace, onde os artigos à venda são novos, tendo ainda chegado a lançar o programa Amazon Renewed, onde a tecnológica avança com a venda de produtos recondicionados e em segunda-mão. Perante a problemática do lixo eletrónico, para o qual se foi apercebendo, este fundador juntou-se a dois amigos e quis passar à ação, criando então a Refurbed com o foco na economia circular.

No fundo, a Refurbed funciona como um marketplace, tendo mais de “300 parceiros espalhados por toda a Europa”. Ou seja, a empresa austríaca envia os aparelhos para estes parceiros, que fazem os arranjos necessários, e depois são colocados à venda no marketplace com uma avaliação entre A e C. São estes parceiros europeus que, posteriormente, enviam o aparelho para o cliente.

Assim, a Refurbed não funciona como uma Swappie, cuja empresa nórdica tem uma fábrica onde os aparelhos digitais são arranjados.

Porquê chegar agora a Portugal?

A chegada a Portugal enquanto 11º mercado não foi pensada ao acaso. “Vimos que havia uma grande oportunidade no mercado português por diferentes fatores. O primeiro de todos é o facto dos consumidores portugueses priorizarem o impacto ambiental e estarem focados em criar um impacto e serem mais sustentáveis”, aponta Kilian a um pequeno grupo de jornalistas presente na apresentação.

“Além disso, o mercado de recondicionados não está bem estabelecido aqui. Visto isto, optámos por apostar em Portugal para permitir que os consumidores adquiram produtos recondicionados”, explica. Apesar de marcas como Forall Phones, Fnac, Worten, Back Market ou CertiDeal já atuarem no mercado, Kilian Kaminski considera que ainda há espaço para este segmento crescer.

“Também verificámos que existe confiança na indústria de retalho de eletrónicos, e isso significa que os consumidores têm interesse em comprar produtos eletrónicos, portanto há mercado”. Outro apontamento de Kilian nas razões para a introdução ao mercado português é o facto do comércio digital estar bem estabelecido e de haver grande adoção.

Sendo uma indústria com um tamanho algo considerável, na ordem de um bilião de euros, a verdade é que também é bastante poluidora, o que cria entraves à sustentabilidade e ao ambiente. “O que observámos no mercado português é que há um enorme desenvolvimento no consumo de categorias específicas, nomeadamente eletrónicas. Os bens eletrónicos vão constituir 25% das vendas online deste ano”, adianta.

Assim sendo, e colocando numa perspetiva mais ‘redonda’, o CEO lança: “Isso significa que, em Portugal, é esperada a venda de 17 milhões de unidades de produtos eletrónicos, dos quais 3,2 milhões serão smartphones”.

Números redondos que mostram que os portugueses são ávidos consumidores de tecnologia. “A nossa ideia é dar a perceber que as pessoas podem ter um impacto ainda maior se considerarem e efetivamente comprarem um aparelho recondicionado, em vez de um novo”.

“Quando vemos que a produção de novos produtos eletrónicos implica a libertação de 70 mil milhões de quilos de CO2 por ano, se criam 50 milhões de toneladas de e-waste ou os milhares de litros de água desperdiçados. Além de que muitos produtos têm recursos como prata e cobre. Temos de mudar de uma economia linear para uma circular e estender o tempo de vida destes produtos que já estão produzidos”.

Quais as vantagens da Refurbed no mercado português?

Ao se infiltrarem no mercado nacional, os fundadores perceberam que os portugueses gostam de uma boa ‘pechincha’. Por isso mesmo, e apostando num preço de venda até 40% mais reduzido aos produtos novos, a Refurbed decidiu mesmo avançar com a entrada em Portugal

“É realmente interessante ver como nos últimos anos, onde tem existido uma inflação muito elevada, as pessoas têm tido especial cuidado onde gastam o seu dinheiro. Não é exclusivo ao mercado português, mas por toda a Europa. Por isso, a nossa proposta de uma poupança entre os 20% e 40% face a novos produtos, é bastante atrativa para o mercado”, adianta Kilian.

Outro fator interessante é os 12 meses de garantia nestes produtos. “As pessoas optam muito por comprar em segunda mão nas plataformas existentes, e nisso não há garantia. Há pessoas que compram um aparelho eletrónico e ao fim de dois ou três dias deixa de funcionar. Perdem o produto e o dinheiro”.

Além do ano de garantia, a Refurbed permite aos clientes estenderem esse período até 18, 24 ou 42 meses. Ainda ao contrário de players no mesmo sector, a austríaca dá a hipótese dos consumidores ‘testarem’ o produto por 30 dias. “Se o produto não corresponder às expectativas, ou não for como o anunciado, temos o programa de devolução gratuito, em que as pessoas recuperam o seu dinheiro”.

Uma das últimas novidades é o programa trade-in. “Agora, um cidadão privado ou uma empresa pode vender-nos os seus dispositivos eletrónicos para os nossos parceiros os recondicionarem. Este é o fechar do ciclo, porque não pode ser só recondicionar e vender, também temos de os comprar e recondicionar, completando o círculo da economia”.

Crescimento sustentado

Nascendo de uma empresa com três cofundadores (Kilian, Peter Windischhofer e Jürgen Riedl), a Refurbed conta agora com mais de 300 colaboradores, entre os quais se junta agora Francisco Esteves, country manager para o mercado nacional.

“Somos uma empresa de remote first, porque temos operação em toda a Europa. Apesar das nossas instalações estarem em Viena, temos trabalhadores em mais de 20 países europeus.

Apesar do objetivo final é assegurar operações em mais países da Europa, expandindo a vida de produtos em várias nacionalidades europeias, a operação tem corrido de vento em poupa. Por exemplo, atualmente a Refurbed está presente na Irlanda, mas também assegura as operações no Reino Unido. Opera ainda na Suécia, Dinamarca, Países Baixos, Bélgica e República Checa.

“Os melhores talentos não estão fixos numa localização específica. Se queremos ter os melhores talentos, temos de estar disponíveis para os contratar onde eles estão localizados”.

Objetivo a longo prazo

Tendo a empresa já uma vida média, dado que foi criada há sete anos, o objetivo de longo prazo dos fundadores passa por “ser a Amazon dos produtos sustentáveis”. “Esta é uma categoria própria, porque acreditamos mesmo que não há nenhum player a fazer o mesmo no mercado. Queremos assegurar que a sustentabilidade está no core da nossa atividade”.

“A nossa melhor publicidade tem sido os nossos clientes. Ultimamente temos tido o feedback de que compram à Refurbed porque um amigo comprou, o que tem permitido aumentar a taxa de satisfação”.

Para garantir que esta satisfação se mantêm positiva, Kilian Kaminski explica que os próprios parceiros que fazem o recondicionamento têm linhas mestras, de forma a garantir que o processo é feito da melhor forma possível. Os primeiros passos são, segundo o CEO, a limpeza exterior e interior do aparelho, em que todos os dados do anterior proprietário são eliminados, seguindo-se então a troca de, no máximo, dois ou três componentes, garantido a excelência do produto.

Refurbed alarga o espectro

Engane-se quem acha que a Refurbed só trata de smartphones. É que a empresa sediada em Viena quis mesmo alargar o seu leque o mais possível, de forma a salvaguardar o ambiente.

A Refurbed conta com smartphones, na sua maioria iPhones (tal como as empresas semelhantes no mercado), computadores, tablets, dispositivos de áudio (fones e auriculares) , smartwatches e também consolas de jogos.

No entanto, e apostando na diferença, a empresa tem ainda produtos de cozinha, como máquinas de café e ainda Bimbys recondicionadas. No segmento da mobilidade, a Refurbed conta ainda com e-bikes, passadeiras de corrida e trotinetes recondicionadas. Voltando a alargar o espectro, o consumidor ainda pode comprar os aspiradores robôs e mesmo carregadores elétricos (wall charger), além de máquinas de lavar a roupa.

Um facto desconhecido é que a empresa faz parte da Associação Europeia de Recondicionadores (EUREFAS), a maior organização para a indústria dos recondicionados, que apoiar o sector da circularidade na Europa. Kilian Kaminski, também vice da EUREFAS, lembra que este ano o Parlamento Europeu aprovou a diretiva de direito à reparação, num apoio à economia circular, em que os fabricantes têm obrigação a reparar os bens e encorajar os consumidores a estender o ciclo de vida dos seus produtos através desta reparação.

Ler artigo completo