REPORTAGEM | Maria da Fonte, um dos sobreviventes dos distritais na Taça: «Eles podem ter qualidade, mas nós temos mais vontade»

2 horas atrás 15

Dos 64 clubes ainda em prova na – tão majestosa - festa da Taça, sobram três elementos dos distritais. Pouco habituados a estas andanças, mas com uma ambição enorme de fazer o que nunca foi feito. 

O distrital: a base da pirâmide do futebol português. É onde os esforços se fazem no inverno às oito da noite, depois de trabalhar numa escola, num banco ou num hospital. É onde acontecem as maiores histórias de amor ao clube e à terra. O jogo, ali, é pura paixão.

A juntar-se a GD Lagoa e JD Lajense, o Maria da Fonte, clube (quase) centenário da Póvoa de Lanhoso. Situado na periferia de Braga, o Maria é um dos clubes mais tradicionais do distrito.

O zerozero foi ao Estádio dos Moinhos Novos – onde o Maria da Fonte irá receber o Arouca - conhecer a realidade dos marifontistas e conversou com Amaro Leite, presidente do clube, Rui Abreu, capitão e Filipe Gonça, treinador.

O clube (quase) centenário que quer fazer história

Amaro Leite é, desde 2022, o presidente do SC Maria da Fonte, depois de já ter assumido cargos em direções anteriores. O responsável máximo pelo clube traçou um Raio-X do que é o emblema povoense para quem não o conhece. 

«O Maria da Fonte é um clube muito importante no distrito de Braga. Estamos a entrar agora em 2025, ano do centenário. É um clube com muita história aqui no distrito, juntamente com o SC Braga e Vitória SC. São clubes muito antigos e, apesar de estarmos numa divisão que não é a nossa, é um clube que continua a ser reconhecido para qualquer sítio que vá como um dos clubes importantes do distrito», disse o presidente. 

@Maria da Fonte

Sobre o jogo com o Arouca, Amaro descreve o momento histórico pois, em 99 anos de história, será apenas a segunda vez que uma equipa da Primeira Liga defronta o Maria da Fonte. 

«Tivemos o Santa Clara, em 2018, mas nunca tivemos outra equipa da Primeira Liga aqui. Já estamos a fazer história, porque o clube por muito poucas ocasiões conseguiu atingir a terceira eliminatória. A quarta eliminatória só por uma vez em 100 anos é que conseguiu e nós queremos pelo menos igualar esse feito. Temos muito respeito pelo Arouca, mas queremos passar.»

As expectativas são de uma grande tarde de domingo. Às 15:00, horário habitual dos jogos da equipa no campeonato, pode ser um presságio para se fazer Taça, e que o David possa tombar o Golias. «Teremos uma grande equipa pela frente, ainda há pouco disputou competições europeias. O jogo, quando começa, está zero a zero. O Arouca tem, obviamente, mais qualidade que nós, mas mais vontade não vai ter. Vamos dar tudo para, quando o jogo terminar, dignificarmos a Póvoa e o clube. Se aí se pudermos juntar uma vitória, melhor.»

O objetivo da temporada é claro: subir ao Campeonato de Portugal, divisão da qual foram despromovidos há três temporadas. «No ano passado ficamos em segundo lugar e não conseguimos a subida. O objetivo passa por colocar o Maria da Fonte nos Campeonatos Nacionais. É isso que nos faz sentido, ainda para mais em ano de centenário. O Maria entra para ganhar em qualquer campo.»

O plantel do Maria da Fonte @Francisco Silva / zerozero

Uma «vida de paixão» pelo Maria da Fonte

Como em tantos outros emblemas das distritais por esse país fora, na Póvoa de Lanhoso o capitão é um ídolo da terra. Em 36 anos de vida, Rui Abreu representou o Maria da Fonte em 23 deles. O porquê? Paixão.

@Maria da Fonte

«É uma vida de paixão. Todos os anos tenho a oportunidade de sair de ir para outros clubes, mas o coração fala mais alto e vou ficando. É a paixão, o querer, as pessoas gostarem de mim. Cada ano que passa sinto-me melhor aqui e voltava a fazer tudo igual», assumiu o capitão.

Com «ânsia que chegue a hora», o capitão dos marifontistas assumiu-se com vontade de «dar a volta ao texto». 

«Sabemos que a responsabilidade está toda do lado do Arouca. Vão enfrentar-se os opostos do futebol português. A Primeira Liga, completamente profissional, e nós, completamente amadores. O Arouca tem 99 por cento de probabilidade de ganhar, mas não vamos dar o jogo de barato, nem quero passar a imagem de coitadinhos. Vai ser extremamente difícil, mas seja como for, vamos entrar 11 para 11, não é? Vamos combater, vamos tentar dar a volta ao texto.»

Rui Abreu
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Rui Abreu, Paulo Jorge, Caseiro, Antunes, José Vaz, Henrique Vieira e Dino: o núcleo forte do Maria da Fonte. Todos juntos já há seis temporadas no clube, já fazem parte da mobília. «Os jogadores que conhecem bem o clube, a estrutura e a vila. Alguns fizeram cá a formação. É bom haver uma base forte de ano para ano. Já nos conhecemos muito bem.»

Em jeito de conclusão, o extremo assumiu que, em caso de vitória, já há quem tenha prometido rapar o cabelo e ir ao São Bento a pé.

«O futebol distrital já não é aquele de há largos anos»

Depois uma temporada como selecionador da AF Braga, Filipe Gonça voltou à rotina de clube pela porta do Maria Fonte, casa que considera especial. «O Maria é um clube especial, onde as pessoas têm aquele bairrismo quando entram aqui nos Moinhos Novos. Sinto-me em casa, é um clube acolhedor, que me recebeu muito bem aqui e todos os jogadores que passam por cá sentem isso mesmo.»

«É uma semana diferente, onde não é preciso motivação. Nós tentamos levar isto da melhor forma possível, tranquilos, com a preparação normal deste jogo, mas sabemos que temos pela frente uma equipa muito capaz. O importante era marcar aqui a presença, nesta eliminatória e, a partir daqui, temos chances de conseguir eliminar o Arouca. Porque não?», assumiu o técnico de 40 anos. 

@Maria da Fonte

O Maria da Fonte, quarto classificado da Pró-Nacional da AF Braga a três pontos do topo, joga, por norma, sempre um jogo ofensivo, na procura da vitória. Como é que se defronta uma equipa da Primeira Liga com esta postura? Filipe Gonça explica.

«Temos uma mentalidade vencedora Queremos também aproveitar o facto de jogarmos em casa e fazer da nossa fortaleza ainda mais um ponto a ter em conta. Esta época estamos imbatíveis em casa e queremos utilizar essa arma como um fator mais próximo para atingir o resultado final, que quero que seja que a vitória. Posso estar a exagerar um bocadinho, mas não faria sentido se eu estivesse aqui a fazer-me de coitadinho. Entramos em campo com uma mentalidade de ganhar. Há três resultados possíveis, nós vamos em busca de melhor.»

Por último, uma reflexão sobre o futebol distrital. Serão agora as diferenças tão evidentes como há 10, 20 anos atrás? «No futebol amador já se trabalha muito bem. Os treinadores são competentes, os jogadores são competentes e as estruturas também querem melhorar e tornam-se competentes. Ano após ano a competitividade e a qualidade aumenta. Já não é aquele futebol que víamos há uns anos largos atrás. Hoje, já temos cuidados especiais e o Arouca terá de ter esse cuidado também.»

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