Stefan Ortega: o herói do City que esteve a ponto de se juntar às Forças Armadas

«O Ortega salvou-nos, sem ele o Arsenal seria campeão» 

Pode vir a ser uma das grandes caras do inédito tetracampeonato do Manchester City - e do futebol inglês. Em lugar de concorrência difícil e de alto nível, não fosse Ederson o guarda-redes titular dos citizens, o nome que anda nas bocas do mundo é o de Stefan Ortega.

No entanto, e afinal, quem é este guardião hispano-alemão que encantou Pep Guardiola há pouco menos de dois anos e fez o treinador cair no relvado, desamparado, em plena euforia por uma (gigante) defesa diante do Tottenham?

Estreia tardia de um admirador de Kahn e Casillas 

Stefan Ortega nasceu há 31 anos, na pequena cidade de Hofgeismar, na Alemanha. Filho de mãe alemã, é o pai quem lhe dá a nacionalidade espanhola - ainda que não saiba falar a língua.

Pepe Ortega foi o primeiro grande ídolo que teve. Nunca jogou futebol profissional, mas, na bancada, tinha sempre o pequeno Stefan de olhos vidrados e a ambicionar, um dia, poder fazer o mesmo: estar entre os postes. 

No entanto, algo sempre o entristeceu, mas nada poderia fazer para mudar: a altura. O pequeno aspirante a guarda-redes media apenas 1,65 metros. Mesmo assim, correu atrás do sonho. 

Oliver Kahn e Iker Casillas sempre foram exemplos de quem almejava ser um keeper, tal como o pai. Foram incontáveis os jogos que Stefan assistiu e sonhou viver... e ainda se passou muito tempo até o sonho se realizar.

Tinha 27 anos quando se estreou na baliza do Arminia Bielefeld, clube onde realizou grande parte da formação. Decorria a temporada 2011/12 e o hispano-alemão subiu ao relvado para defrontar o Heidenheim. Dali em diante, o guarda-redes foi surpreendido pelas peripécias da vida.

Ortega chegou a duvidar de si mesmo. Em entrevista ao portal alemão 11freunde, Stefan Ortega revelou que chegou a querer desistir do futebol ainda quando representava o 1860 Munchen. «Pensei mesmo 'que se lixe, vou sair e inscrevo-me nas Forças Armadas ou algo do género'. Quando voltei ao Arminia, o meu pensamento era claro: seria a última oportunidade para colocar a minha carreira no rumo certo.»

A viagem para Inglaterra que lhe mudou a vida

Depois de um início de carreira atribulado e de reconhecimento tardio, assumiu em pleno a baliza do Arminia Bielefeld. Em 2020 foi chamado à seleção alemã como reserva, caso Manuel Neuer, Bernd Leno ou Kevin Trapp não se pudessem juntar ao grupo da Mannschaft.

A vida mudou no verão de 2022. Stefan Ortega terminou contrato com o emblema alemão e seguiu para... o Manchester City.

O que chamou a atenção de Pep Guardiola? Tudo. Afinal, e segundo o próprio guarda-redes, na altura das sondagens para a contratação, os intermediários do clube inglês disseram-lhe que a altura - que sempre foi um problema - já não era impedimento para nada.

«As pessoas diziam que eu jogava bem, mas que era muito pequeno. No City foi completamente diferente. Sempre disseram: 'Nós não queremos saber em que ligas ou clubes jogaste ou até se tens mais de 1,85 metros. Temos visto tudo há algum tempo e conhecemos-te bem. És o guarda-redes que nós precisamos no grupo.»

Desde a mudança, sempre aguardou o momento para brilhar com o azul do Manchester City - e já aconteceu. Em duas temporadas, defendeu os postes dos citizens por 32 ocasiões e, agora, terá a tarefa de por lá se manter até ao final da época, dada a lesão de Ederson.

Mesmo assim, a confiança de Pep Guardiola em Stefan Ortega não parece ser pouca, principalmente depois da última exibição em Londres.

Basta ler o que escreveu o zerozero sobre a partida: «Por um instante fugaz pareceu que Heung-min Son ia fazer o empate, tirando o título das mãos do Manchester City e deixando tudo em aberto para que o Arsenal fosse campeão, mas eis que Stefan Ortega, guarda-redes lançado aos 69 minutos para o lugar de Ederson, disse um firme 'não' ao coreano, ao Tottenham Hotspur Stadium, e aos gunners.»

A reação do treinador catalão foi, literalmente, de levar as mãos à cabeça com a enormidade da defesa do hispano-alemão. «O Ortega salvou-nos, sem ele o Arsenal seria campeão. O Son já nos castigou muitas vezes nos outros anos e eu disse 'não, outra vez não', mas depois o Stefan fez uma defesa incrível. Ele tem esse talento, no um contra um é dos melhores que já vi na vida.»

Agora, a missão é de levar a mesma destreza até ao final da temporada.