Tecnologia "deve existir para o bem da Humanidade", afirma professora

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"Nenhuma tecnologia pode substituir o humano, deve existir para assistir o humano e deve existir para o bem da Humanidade", até porque "nós somos os utilizadores", salienta a professora da Universidade de Lisboa e INESC-ID.

A tecnologia, como a inteligência artificial (IA), "deve ser para poder ajudar-nos nas tarefas mais chatas e aborrecidas que possam existir ou a analisar muitos dados que não temos capacidade para o fazer, mas não os substituir naquilo que somos nós, que somos humanos, que somos seres sociais, que vimos de uma determinada zona, que temos determinadas características", considera a académica.

Agora, a tecnologia, como qualquer outra ferramenta, pode ser usada para o bem ou para o mal. Por exemplo, a IA traz vantagens, mas também está a sofisticar a forma como a desinformação é elaborada.

"A questão é saber como utilizar e como ensinar as pessoas a ter espírito crítico e distanciamento e não o imediato", sublinha.

Ou seja, "eu tenho que me distanciar um pouco e perceber se aquela informação faz sentido (...), onde existem as fontes que suportam aquela informação, como é que eu verifico essa informação", e este é um trabalho feito, por exemplo, pelos jornalistas, professores "e um trabalho que também temos de instigar muito nas indústrias, nas escolas, na sociedade civil", prossegue.

Admitindo que "não é fácil, por vezes, ver que é uma notícia falsa", Helena Moniz defende que "é preciso ter um cuidado especial", dando como exemplo o "treino do jornalista" neste âmbito.

"O professor terá mais dificuldade, só se conhecer muito bem a área, e nós temos de juntar esses esforços multidisciplinares, esses olhares multidisciplinares para poder perceber" e dar recomendações sobre o que é uma notícia falsa, quais são as suas características.

"Eu posso ensinar os meus alunos a perceber: Isto é um artigo científico falso, não faz sentido nenhum - e já existem vários feitos com ChatGPT que são completamente falsos, são fabricados a 100% - e posso ensinar os meus alunos descobrir" como é que isso é detetado, exemplifica.

Contudo, "eu preciso desse conhecimento, desse distanciamento, desse espírito crítico", sublinha.

Para a professora e coordenadora do projeto Bridge AI - que está a olhar para implementação da regulação europeia da IA - "está a faltar muito desenvolver esse espírito crítico desde o ensino básico ao pré-escolar até universitário ou fora do ensino".

Até "porque nós precisamos de perceber que estas tecnologias falham, alucinam, dão informação errada, porque elas estão a tentar predizer a próxima palavra com base em frequências, isso nem sempre corre bem", aponta.

Helena Moniz recorda que já havia modelos de IA parecidos com o ChatGPT, "só que chegou às mãos de todos" os que têm acesso ao computador.

"Não chegou a todos os cidadãos do mundo, não chegou a sul global, de certeza, a todos, mas chegou a norte global de todos, quase de certeza" e a "ideia de que esta tecnologia [IA] está nas mãos de todos sem que o cidadão saiba como muitas vezes a utilizar cria medos" é um desafio, já que todos devem conhecer os seus benefícios e as precauções a tomar.

"Eu utilizo esta tecnologia com os meus alunos nas aulas, eles utilizam vários modelos de linguagem de grande dimensão, interagem com sistemas de reconhecimento de fala, interagem com vários desses sistemas de inteligência artificial e de tradução automática, mas eles têm que perceber que há benefícios e que há riscos e que há sempre uma coisa muito importante: agência e autonomia", exemplifica.

Até porque "se não houver agência e autonomia humana seremos meros papagaios do que estes sistemas fazem, e nós não queremos ser isso", sublinha.

Apesar de todos os receios sobre o uso da IA, "há descobertas fantásticas recentes na área da química, biologia, medicina porque a possibilidade de olhar para padrões com gigantescas quantidades de dados é permitida com estes sistemas ou até na área de alterações climáticas, quando se tenta perceber os padrões do clima com a componente da agricultura", refere.

Estas tecnologias "são excelentes (...) a perceber esses padrões, a tratar gigantescas quantidades de informação, não são nada boas, por exemplo, na minha área de tradução, na criatividade, na idiossincrasia, na adaptação cultural, na adaptação interlocutor", remata Helena Moniz.

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