Trump tem mas não tem dinheiro para a fiança de 454 milhões

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Foto: Kamil Krzaczynski - AFP

A campanha de Donald Trump está numa encruzilhada neste arranque para as Presidenciais americanas: tem ou não tem dinheiro para a caução de 454 milhões de dólares exigida por um juiz de um tribunal estadual de recurso de Nova Iorque no mês passado. No início da semana o candidato republicano disse não ter essa quantia mas agora diz ter 500 milhões para a campanha que o reconduzirá à Casa Branca.

Ao seu estilo, Donald Trump gabou-se esta sexta-feira na sua rede social Truth Social de ter 500 milhões em dinheiro vivo para a campanha presidencial. Uma posição de força para a tentativa de retirar o democrata Joe Biden de um lugar que durante quatro anos sempre disse ser seu por direito dos votos. Na política norte-americana, mais do que em qualquer outra, o dinheiro conta e os fundos que impulsionam os candidatos são muitas das vezes fator decisivo para a vitória.

A narrativa, como também é muito comum em Trump, perde gás quando os seus advogados comunicam a um juiz de recurso de Nova Iorque que o magnata não tem dinheiro para pagar a caução de um processo de 454 milhões. Foi no início da semana, há escassos quatro dias.

Em fevereiro, o juiz Arthur Engoron, de um tribunal de recurso de Nova Iorque, concluiu que Trump, a empresa familiar Trump Organization, os filhos e outros executivos montaram um plano para ludibriar bancos e seguradoras ao inflacionar o montante da sua riqueza, o que lhes permitiu angariar empréstimos para a sua actividade empresarial.

Depois de Trump e a Trump Organization terem visto a sua atividade limitada pelo juiz Arthur Engoron, Trump recorreu da sentença a 26 de fevereiro, pedindo a suspensão da pena. Propôs para isso o pagamento de uma caução de 100 milhões de dólares.

A sua equipa de advogados admitia na segunda-feira a incapacidade financeira de Trump para dar cumprimento à caução de 454 milhões exigidas pelo tribunal.

Referem os media internacionais que um corretor contratado pela equipa de Trump para ajudar na obtenção de um empréstimo escreveu na declaração apresentada ao tribunal que poucas empresas admitirão a emissão de um empréstimo de caução daquele montante: face à enormidade da quantia, os prestamistas não “aceitarão ativos tangíveis, como imóveis, como garantia (…) aceitarão apenas dinheiro ou equivalentes a dinheiro (como títulos negociáveis)”.

Alegação que são hoje contraditadas pela alegação de Trump de que terá à sua disposição cerca de 500 milhões em dinheiro para a campanha: “Com trabalho árduo, talento e sorte, tenho atualmente quase 500 milhões de dólares em dinheiro, uma soma considerável que pretendia usar na minha campanha para presidente”, pode ler-se na sua conta pessoal na Truth Social.

Os advogados do magnata candidato presidencial mantêm assim a tese de que será pouco provável que este venha a conseguir depositar a caução exigida no prazo estabelecido, isto é, até 25 de março, a próxima segunda-feira, o que já levanta a possibilidade de virem a ser arrestadas algumas das suas propriedades. Será essa a intenção da procuradora-geral do Estado de Nova York, Letitia James, que teria tomado medidas nesse sentido.

Nick Akerman, analista jurídico citado pelo jornal The Guardian, classifica o texto de Trump desta sexta-feira como “a coisa mais estúpida que podia ter feito”.

“Isso é uma admissão direta de que tem o dinheiro”, sustentou Akerman, também ex-procurador assistente do Distrito Sul de Nova Iorque e promotor durante o escândalo Watergate que derrubou Richard Nixon, em declarações à CNN.

“Perceba que, mesmo com esse dinheiro à mão ou mesmo dinheiro que [Trump] supostamente tem, se não pagar Letitia James vai ser capaz de avançar e basicamente colocar ordens de restrição a todas as suas contas bancárias. Tudo o que se está relacionado com [Trump] e todo esse dinheiro vai ser congelado. Por isso, se realmente tem esse dinheiro, ele tem que o pôr em cima da mesa”.

Declarar falência não parece ser uma opção no horizonte de Donald Trump, que teme que esse fosse um sinal de debilidade que poderia pôr em causa toda a campanha presidencial.

Há, assim, uma outra manobra que tem vindo a ser denunciada e ouvem-se já críticas contra a equipa de Trump para a reeleição: parte do dinheiro que chega dos doadores para a campanha presidencial estará a ir para o pagamento das despesas de Donald Trump com os vários processos judiciais que enfrenta neste momento.

De acordo com vários órgãos de comunicação social, o novo acordo de arrecadação de fundos de Trump com o Comité Nacional Republicano (na sigla original RNC - Republican National Committee) direciona as doações para sua campanha e um comité que paga as despesas legais, só depois indo uma curta fatia para o próprio RNC.

Este desvio de verbas para o comité político Save America torna os doadores mais propensos a ver seu dinheiro ir para os advogados de Trump, que receberam em apenas dois anos cerca de 76 milhões de dólares.

Mas não é esta a única via de entrada de fundos para Trump. Esta sexta-feira os acionistas aprovaram a listagem pública (no Inglês “public listing”, que significa a oferta ou venda ao público de emissões novas ou subsequentes de valores mobiliários negociados em bolsa) da Trump Media & Technology, empresa-mãe da Truth Social.

Acresce a intenção da Digital World Acquisition Corp de adquirir a Trump Media, que administra a plataforma Truth Social. Estamos perante mexidas que podem render mais de 3 mil milhões de dólares, não sendo contudo certo que esse dinheiro venha a estar acessível no imediato e sendo certo que ficará desde logo sujeito às variações de mercado.

Trump, devendo ter uma participação de pelo menos 58% na aquisição, poderá não ter também aqui a sua tábua de salvação, já que está impedido de vender as suas ações durante pelo menos seis meses.

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