Um peixinho vermelho num lago de tubarões

3 horas atrás 19

Benfica envolvido em tempos difíceis, tanto no futebol jogado como no jogo dos tribunais.

De novo embrulhado em problemas com a Justiça, o que revela, no mínimo, a forma descuidada e leviana como as direções do Benfica deixaram o clube desprotegido, preparamo-nos para mais um daqueles processos infinitos que muito provavelmente, tal como aconteceu com a maioria dos casos mais mediáticos dos últimos anos, dará com os burrinhos na água. Claro que, para a imprensa mais sensacionalista, berrar aos quatro ventos que o clube pode ser expulso de todas as competições, é um fartar vilanagem. A estratégia é simples e repete-se: procuram a pena mais dura que o espetro jurídico admite e fazem-se manchetes dramáticas. Entretanto procuradores e advogados irão esgrimir argumentos e a confusão será tanta que nenhum cidadão comum conseguirá acompanhar verdadeiramente o que se passa. Demos, por isso, tempo ao tempo. De pouco serve traçar horizontes apocalípticos se a procissão ainda vai no adro e nem sequer houve tempo para que o gabinete jurídico do clube da Luz se debruçasse sobre a estratégia a seguir. O barulho, esse, diluir-se-á rapidamente, como aliás já aconteceu.

Tomara o Benfica que fosse só essa a sua preocupação. Chegámos a uma fase da época em que sobre o relvado os berbicachos têm de ser ultrapassados de forma inequívoca para que possamos ficar convencidos de que a escolha que recaiu sobre Bruno Lage foi a acertada. É evidente que não seria o Pevidém a criar dores de cabeça aos encarnados, ainda por cima tendo o jogo sido desviado para Moreira de Cónegos em mais uma daquelas manigâncias em que o futebol português é fértil. Reparem que também o Sintrense receberá o FC Porto (domingo, 17h00) na Reboleira numa desvirtuação daquilo que deveria ser o espírito da competição. Se o regulamento manda as equipas mais fortes jogarem no campo das mais fracas, de forma a impor-lhes uma maior dificuldade, levar os jogos para campos mais largos e mais bem tratados desfaz o princípio da coisa. Não seria mais interessante para Pevidém e Sintrense jogarem na Luz e no Dragão? Em termos económicos, e tendo em conta a divisão de receitas, não me parece haver dúvidas. Mas também a gente que governa a Federação Portuguesa de Futebol parece estar distante da realidade do futebol português, demasiado fixada na realidade das seleções e pouco na dos clubes.

Europa outra vez

Enquanto, depois de uma paragem para os jogos da equipa de Portugal, os clubes portugueses se entretêm com esta pífia eliminatória da Taça, os seus adversários europeus entram logo na dinâmica mais competitiva do campeonato em mais uma prova de que os calendários se mantêm desajustados às necessidades dos representantes nacionais na UEFA. Um hiato longo não lhes serve os interesses. Recebendo o Feyenoord na Luz, o Benfica tem obrigação de dar um passo firme em direção pelo menos aos play-off. Depois de já ter goleado os holandeses na Eusébio Cup, nova vitória colocá-lo-á com nove pontos em três jogos e sobrando-lhe ainda dois encontros nos quais tem todas as possibilidades de pontuar – Mónaco, fora, e Bolonha, em casa. Os dois restantes (Bayern em Munique – logo a seguir recebe o FC Porto – e Barcelona na Luz) assumem graus de dificuldade dificilmente ultrapassáveis.

Sporting no bom caminho

O Sporting, por seu lado, vai a Graz, no sudeste da Áustria, procurando remediar a exibição muito cinzenta de Eindhoven na qual, apesar de tudo, salvou um ponto. O Sturm pode estar, tal como os leões, no topo do campeonato do seu país, mas não deixa de ser um dos adversários mais acessíveis para o conjunto de Rúben Amorim que tem, na jornada seguinte, uma daquelas grandes estuchas de que falava o Ega do divino Eça: receber o Manchester City em Alvalade. Esta nova forma da Liga dos Campeões jogada em sistema de campeonato deixa as margens de erro muito reduzidas. Se, nas duas primeiras rondas, pudemos assistir a algumas surpresas, entre as quais as derrotas de Real Madrid e Bayern de Munique, que não sobrem dúvidas que à medida que a prova for decorrendo os gigantes perderão a paciência e correrão com avidez em busca dos pontos que lhes garantam os oito primeiros lugares da classificação, aqueles que dão apuramento direto para os oitavos-de-final. Aceitemos, portanto, que na terça (Sporting) e na quarta-feira (Benfica) ficam obrigados a ganhar se sonham com voos mais altos. A UEFA construiu – com medo do aparecimento da tão anunciada Superliga – um edifício bisonho ao topo do qual cada vez menos serão os que lá chegarão. Benfica e Sporting são dois dos pobres do meio da tabela que farão o que puderem pela vida e ficar na primeira metade da classificação não pode deixar de ser considerada uma proeza. Mais perto, para já, os encarnados, mas o mais complicado ainda está para chegar. O peixinho vermelho nada num lago de tubarões. Não só no futebol jogado mas também no futebol dos tribunais.

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