Uma América fascista já não é uma história alternativa

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Em ficção, existem pelo menos três livros frequentemente citados que constroem uma história alternativa em torno de uma América dominada por uma autoridade política de natureza fundamentalista e autoritária. São eles “O Homem do Castelo Alto” de Philip K. Dick, “A História de uma Serva” de Margaret Atwood e “A Conspiração contra a América” de Philip Roth.

Atwood expõe um regime pautado pelo puritanismo, totalitário e teocêntrico que controla uma parte dos EUA e privou as mulheres dos seus direitos e individualidade, passando a existirem como servas que procriam ao serviço de famílias poderosas. Em 2022, o Tribunal Supremo dos EUA decidiu reverter a decisão de Roe vs. Wade, pondo fim ao direito constitucional ao aborto. Estava aberto o caminho para cisões profundas e o livro de Atwood voltou à ribalta, como aviso do futuro que poderia estar ao virar da esquina.

O livro de Dick parte da premissa do assassinato de Franklin D. Roosevelt num comício nos anos 30, facto que levaria à derrota dos Aliados na II Guerra Mundial. A América passa a estar dividida entre os vencedores da guerra: os alemães nazis e o império japonês. A partir daí, não é difícil para o autor imaginar uma América sob a bota do fascismo.

E temos Philip Roth, que descreve uma América em que Roosevelt é derrotado em eleições por Charles Lindbergh, dando lugar a uma presidência antissemita, em que famílias judias americanas são perseguidas.

Estamos a quatro meses das próximas eleições norte-americanas e a perspetiva de voltar a ter uma nova Presidência Trump é muito real. O realizador Alex Garland explorou recentemente a visão de uma América fraturada por uma guerra civil entre um Presidente autoritário e movimentos secessionistas, no seu filme “Guerra Civil”. Já não parece tão irrealista quanto seria há vinte anos.

Se o primeiro mandato de Trump desbravou o caminho para a perda de direitos e liberdades e empoderou o movimento MAGA, então, o mundo não está preparado para o segundo mandato, muito menos a Europa. Assim como a perda do apoio americano à II Guerra Mundial teria sido desastrosa para os Aliados, a perda do apoio americano em questões geopolíticas fundamentais terá repercussões profundas na atualidade.

A História Alternativa criada nos livros era sempre distópica porque servia de aviso aos leitores do que poderia vir a ser a nossa sociedade perante determinadas escolhas. Quando a distopia está na iminência de se tornar real, e temos de enfrentar a possibilidade de uma América abertamente fascista, qual o caminho a seguir a partir de agora? São essas as respostas que agora importam.

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