Uma década depois, Maria Luís Albuquerque vai mesmo para a Comissão Europeia

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Perfil

28 ago, 2024 - 17:37 • Fábio Monteiro

Teve nas mãos as Finanças de Portugal durante o período da Troika. Esteve envolvida na venda do BPN ao BIC e nas privatizações de empresas como EDP e REN. Em 2022, assumiu funções no conselho de supervisão do Morgan Stanley – banco com o qual negociou contratos "swap" do Estado enquanto foi ministra. Passados quase 10 anos, a economista - que foi professora de Passos Coelho - volta à vida política ativa.

Eis o retorno à vida política ativa de um nome associado ao período da Troika e Governo de Pedro Passos Coelho: Maria Luís Albuquerque, ministra das Finanças entre 2013 e 2015, é a escolhida de Luís Montenegro para integrar a Comissão Europeia.

Enquanto governante, esteve envolvida na venda do BPN ao BIC, nas privatizações de empresas como EDP e REN e assistiu (na primeira fila) à "saída limpa" da Troika.

A opção pela economista, de 56 anos, não é do agrado do PS nem dos restantes partidos da esquerda parlamentar. Onde Montenegro vê currículo, “uma personalidade de reconhecido mérito académico, profissional, político e cívico", a oposição vê cadastro.

Ainda na terça-feira, Pedro Nuno Santos defendeu que o nome português indicado para a Comissão Europeia devia ser de alguém “suprapartidário”. Mas o primeiro-ministro não parece ter feito caso. Segundo o “Público”, o secretário-geral do PS apenas soube o nome indicado pelo Governo minutos antes do anúncio oficial, esta quarta-feira.

Nas palavras do socialista Pedro Delgado Alves, Maria Luís Albuquerque representa um “regressar ao passado”. O Livre quer que a ex-ministra vá à Comissão de Assuntos Europeus do Parlamento prestar explicações, dizer o que pensa sobre o projeto europeu. O Bloco de Esquerda já veio recordá-la como “uma agente da Troika no Governo português”. E o PCP não esquece que, no passado, a ex-ministra teve "responsabilidades sérias no corte de salários e pensões".

O mesmo cargo, um fim diferente

Maria Luís Albuquerque não é nova nestas andanças. Há uma década, a antiga secretária de Estado e ex-ministra das Finanças já havia sido apontada para o cargo de comissária europeia. Mas, na época, com o Banco Espírito Santo em crise, Pedro Passos Coelho optou por lançar Carlos Moedas.

Em 2014, era ministra das Finanças há pouco mais de um mês quando se deu a Resolução do BES – uma decisão e muito contestada pela oposição.

No ano seguinte, na comissão parlamentar de inquérito ao colapso do BES e Grupo Espírito Santo, a ex-ministra garantiu que "não podia prever que na sexta-feira, 1 de agosto, o Banco Central Europeu retirasse o estatuto de contraparte ao BES. Foi isso que retirou tempo para outra solução que não a resolução" aplicada ao banco.

Após a queda do segundo Governo de Pedro Passos Coelho e o nascimento da “geringonça”, a economista, natural de Braga, casada e com três filhos, assumiu funções como deputada, mas deixou de ser protagonista.

Em 2022, assumiu funções no conselho de supervisão do Morgan Stanley – banco com o qual negociou contratos "swap" do Estado enquanto foi ministra.

No PSD, Maria Luís Albuquerque foi vice-presidente durante a liderança de Passos Coelho e cabeça de lista dos candidatos a deputados pelo PSD em Setúbal em 2011 e 2015. Em 2019, durante a direção de Rui Rio, de cuja estratégia foi crítica, ficou de fora da lista de candidatos à Assembleia da República.

Em 2022, já sob a liderança de Luís Montenegro, Albuquerque foi o número dois da lista apresentada pela direção ao Conselho Nacional e encabeçada pelo presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas.

Um percurso público

Salvo nos últimos anos, Maria Luís Albuquerque fez carreira no setor público. Passou pela Direção-Geral do Tesouro e Finanças, foi diretora do Departamento de Gestão Financeira da REFER, coordenou o Núcleo de Emissões e Mercados do Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público.

Entre 1991 e 2006, foi ainda docente da Universidade Lusíada de Lisboa, no Instituto Superior de Economia e Gestão e no polo de Setúbal da Universidade Moderna. (Foi neste período que se cruzou, pela primeira vez, com Pedro Passos Coelho. Então, ela professora, ele aluno.)

A economista, membro do Conselho Nacional do PSD, é a segunda mulher alguma vez indicada por Portugal para ocupar um cargo na Comissão Europeia. Irá suceder a Elisa Ferreira, atual comissária para a Coesão e Reformas, responsável pelos fundos europeus.

Na rede social “X”, a socialista escreveu: "Desejo as maiores felicidades à comissária portuguesa indigitada, Maria Luís Albuquerque. Bom trabalho no fortalecimento da construção europeia e em prol do interesse nacional.”

A pasta que Maria Luís Albuquerque irá ter em mãos é ainda uma incógnita. Carlos Moedas, ex-comissário europeu e autarca de Lisboa, já veio a público partilhar a sua preferência: a Energia.

Portugal e os outros 26 Estados-membros da União Europeia (UE) têm até sexta-feira para propor os seus candidatos para o posto de comissário europeu no próximo mandato.

Entre setembro e outubro vão realizar-se audições públicas no Parlamento Europeu aos nomes propostos para novos comissários europeus, cabendo à assembleia europeia dar o aval final em plenário para, mais tarde, a nova Comissão Europeia tomar posse.

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