Unidade de Feridas Complexas da ULS de Coimbra ajuda doentes a retomar vida normal

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O enfermeiro Luís Claro, coordenador da que foi a primeira unidade do género a funcionar em Portugal no Serviço Nacional de Saúde (SNS) - de forma multidisciplinar e integrada com os cuidados de saúde primários e hospitalares - disse à agência Lusa que a equipa conseguiu, "em muitos casos, devolver a vida às pessoas".

"Beneficiámos o núcleo familiar do utente, porque as dificuldades do dia a dia, desde os transportes, cuidados de higiene, ou até mesmo saídas de lazer, coisas normais que até então eram impossibilitadas pela própria ferida ou pelos tratamentos contínuos, deixaram de constituir um obstáculo e a qualidade de vida do doente melhorou significativamente", sublinhou.

Na equipa desde o início, a enfermeira Liliana Gonçalves recordou o caso de um homem com feridas muito extensas nos membros inferiores que exalava cheiro incomodativo, que não lhe permitia sentar à mesa com familiares, mas que, agora, com um ano de tratamento, já o consegue fazer.

"Isso é o ganho que ele mais indica. Era uma ferida muito extensa, muito exsudativa e, neste momento, está basicamente cicatrizada", salientou a profissional de saúde, referindo que era uma "situação muito complicada", num utente com doença crónica (artrite reumatoide), que também tem implicações na cicatrização.

Segundo Fábio Jesus, que também integra a equipa inicial, o tempo de tratamento varia consoante o tipo de ferida, embora a unidade cumpra o estabelecido na literatura médica, "porque há feridas, por muito pequenas que sejam, cicatrizam muito depois das feridas muito grandes".

De acordo com o enfermeiro, a dimensão não é um fator de obstáculo à cicatrização, que tem a ver com a idade da ferida e as patologias associadas ao doente.

"Há feridas que vêm muito descontroladas e que se controlam muito rapidamente - e ao fim de três meses já estão quase fechadas - enquanto outras chegam muito pequenas, mas estão muito descontroladas e demoram muito mais tempo", frisou.

Na Unidade de Tratamento de Feridas Complexas (UTFC), os doentes são submetidos a uma avaliação global, desde a medicação, controlo da dor, analgesia e depois controlo do exsudado e do odor para que seja minimizado o impacto junto do doente.

A referenciação dos doentes é feita pelos cuidados de saúde primários e instituições do setor social, cabendo atualmente a triagem à ULS de Coimbra.

Com uma ferida varicosa na perna direita há cerca de 10 anos, após duas cirurgias malsucedidas às varizes, Aniceto Fernandes, de Sepins (Cantanhede), de 64 anos, encontrou na UTFC o caminho para o restabelecimento depois daquele tempo a efetuar penso regularmente.

Acompanhado há cerca de um ano, o sexagenário tem a ferida praticamente fechada e, atualmente, só se desloca quinzenalmente à unidade de Cantanhede para "uma retificação e ver se isto abre ou não ou se continua na mesma", disse à agência Lusa.

Formada inicialmente por três enfermeiros com especialização em viabilidade tecidular e tratamento de feridas, um médico de medicina interna e uma nutricionista (quando necessário), a Unidade de Feridas Complexas foi crescendo gradualmente e, até final do ano, terá tratado quase duas centenas de feridas complexas, com uma taxa de sucesso de quase 70%.

Começou por funcionar apenas duas horas por dia, três vezes por semana, depois passou a três dias completos por semana e agora funciona todos os dias úteis das 09:00 às 15:00, com uma equipa de quatro enfermeiros e apoio de psicóloga e assistente social, sempre que necessário.

No início de 2024, foi integrada na ULS de Coimbra, que agregou os diferentes hospitais do distrito, entre eles o de Cantanhede, que pretende até final do ano abrir quatro extensões da Unidade, duas delas no final de outubro.

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