Venezuela. Detidos nos protestos pós-eleitorais em condições alarmantes, denuncia ONG

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"As detenções arbitrárias atingiram níveis alarmantes na Venezuela, visando maioritariamente líderes políticos, ativistas dos direitos humanos, trabalhadores da imprensa, pessoas que foram testemunhas da oposição [nas assembleias de voto] durante as eleições ou quem se atreva a expressar um pensamento contrário, através das redes sociais", afirma a organização em comunicado.

No documento, o OVP refere o caso de um estudante de Medicina, que foi detido à porta da sua casa, sem uma ordem de detenção, quando falta uma semana para receber o diploma de médico-cirurgião.

"A sua detenção é um reflexo de como se viola o direito dos estudantes a levantarem a voz e exigirem um futuro melhor", considera.

Outra situação "alarmante", segundo o OVP, "é a ameaça constante contra jornalistas, o que constitui um grave atentado à liberdade de expressão".

Pelo menos sete jornalistas e trabalhadores da imprensa, refere a organização não-governamental (ONG).

Segundo o OVP, várias ONG identificam mais de 1.500 pessoas que foram detidas após as presidenciais, das mais de 2.000 anunciadas pelo Ministério Público.

"Temos denunciado de forma contínua e consistente a sobrelotação crítica das prisões (...) razão pela qual estas práticas inconstitucionais se tornaram lei para o regime e violam as garantias judiciais estabelecidas na nossa Carta Magna", sublinha.

O OVP manifesta ainda "grande preocupação com as condições sub-humanas de detenção em que se encontram todos os arbitrariamente presos".

"Nenhum desses cidadãos foi submetido a avaliações médicas ou psicológicas, e alguns até sofrem de determinadas patologias ou deficiências, não lhes sendo garantido o acesso a cuidados médicos dignos e adequados", sublinha.

O comunicado refere que "não há acesso a água potável nas prisões, ou a pouca água que chega não é própria para consumo ou para se lavarem".

A alimentação é à base de cereais, arroz ou farinha de milho cozido e "não comem fruta, legumes e muito menos proteínas".

Os detidos em esquadras "são obrigados a partilhar celas sobrelotadas e insalubres, têm de fazer as suas necessidades em sacos de plástico e são obrigados a dormir no chão ou de pé".

"Comida e água têm de ser levadas por familiares", descreve.

"O denominador comum nestas detenções arbitrárias é a violação do direito a um processo justo, uma vez que nenhum deles teve acesso aos seus advogados de confiança e nem sequer puderam comunicar com as suas famílias", sublinha.

Segundo o OVP, "a opacidade da informação de parte do regime está na ordem do dia, de tal forma que não se sabe ao certo o número de detidos transferidos para centros penitenciários e o número de jovens enviados para centros de acolhimento de adolescentes".

Entretanto, alguns presos do interior do país estão a ser transferidos para Caracas, sem explicação e sem que as famílias saibam onde ir, o que complica a situação, aumenta os custos de transporte dos familiares para os visitarem e levarem alimentos.

 A Venezuela, país que conta com uma expressiva comunidade de portugueses e de lusodescendentes, realizou eleições presidenciais no passado dia 28 de julho, após as quais o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) atribuiu a vitória a Maduro com pouco mais de 51% dos votos, enquanto a oposição afirma que o seu candidato, o antigo diplomata Edmundo González Urrutia obteve quase 70% dos votos.

A oposição venezuelana e diversos países da comunidade internacional denunciaram uma fraude eleitoral e exigiram que sejam apresentadas as atas de votação para uma verificação independente, o que o CNE diz ser inviável devido a um "ciberataque" de que alegadamente foi alvo.

Os resultados eleitorais têm sido contestados nas ruas, com manifestações reprimidas pelas forças de segurança, com o registo de mais de 2.200 detenções, 25 mortos e 192 feridos.

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