Venezuela. Jornalistas trabalham com medo e praticam autocensura

1 mes atrás 49

"Em vários estados do país, os jornalistas foram obrigados a abandonar não só os seus empregos, mas também as suas rotinas, as suas famílias e as suas casas, a fim de se protegerem das ameaças de funcionários públicos que procuram silenciá-los", explica uma investigação do portal Efecto Cocuyo (EC).

O estado de Trujillo, de acordo com o EC, tornou-se num exemplo emblemático da crise, já que nas últimas semanas, jornalistas locais tiveram de fugir desta região, temendo pela segurança e pelas suas vidas.

"Um dos casos mais representativos é o operador de imagem Paul León, que foi detido a 30 de julho, quando se preparava para filmar um protesto (...) As autoridades encontraram o cartão de identidade da jornalista que trabalha com ele na VPI TV, o que a obrigou a esconder-se para evitar represálias. Desde então, deixou de trabalhar por temer pela sua segurança, juntando-se à lista crescente de profissionais que tiveram de abandonar o seu trabalho", explica.

Por outro lado, a jornalista Yuliana Palmar viveu em primeira mão, em Trujillo, a violência sobre quem tenta informar, durante uma manifestação, em que a rápida intervenção dos manifestantes impediu que fosse detida pelas autoridades.

No entanto, "isso não a impediu de ser agredida fisicamente, tiraram-lhe o telefone e recebeu ameaças que a levaram a abandonar Trujillo, refugiando-se noutro lugar", explica o EC.

Em algumas regiões do país, rádios suspenderam as emissões de vários programas, durante uma semana, após as eleições, regressando depois com um perfil significativamente mais reservado.

Ainda segundo o EC, apagar entrevistas e opiniões críticas foi uma das medidas adotadas pelas rádios para evitar confrontos com o governo, tendo muitas optado por aumentar a programação de entretenimento.

Esta autocensura, explica o portal, afeta também as redes sociais, em estados como Amazonas, Carabobo, Lara, Barinas, Portuguesa e Anzoátegui, onde a imprensa reduziu drasticamente o número de publicações, especialmente de assuntos relacionados com a oposição.

Medo crescente e agressões

"Os jornalistas tomaram medidas extremas para se protegerem: não assinam os artigos, evitam aparecer à frente das câmaras e, em muitos casos, optam por enviar reportagens genéricas para não se exporem a represálias", sublinha.

Entre 29 de julho e 4 de agosto, o Instituto de Imprensa e Sociedade (IPYS) registou 79 violações da liberdade de imprensa no país, que correspondem a 62 casos relacionados com a cobertura de protestos da população.

Estas violações incluem agressões físicas ou verbais, discursos estigmatizantes, detenções, censura, bloqueios na Internet e administrativos, assédio judicial e restrições no acesso à informação.

Segundo o Colégio Nacional de Jornalistas da Venezuela, a entidade que atribui a carteira profissional, pelo menos oito jornalistas foram detidos desde as eleições presidenciais.

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