“Woodstock dos Capitalistas”

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No passado 4 de maio tivemos a reunião mais esperada do ano, em transmissão aberta para todo o mundo: o “Woodstock dos Capitalistas”, i.e., a Berkshire Hathaway Annual Meeting.

Em Portugal, o evento passou quase despercebido. Para quê falar em investimentos num país que ainda vive de subsídios a fundo perdido? Eles que invistam, lá no estrangeiro, e depois mandem para cá algum.

A reunião deste ano foi diferente das outras, a primeira sem Charlie Munger. O antigo vice-presidente da Berkshire e principal companheiro de investimentos de Warren Buffett morreu a 28 de novembro de 2023, aos 99 anos. Deste modo, foi-lhe prestado o merecido tributo, de cerca de meia hora, seguido de uma ovação geral com todos os acionistas de pé.

O próprio Buffett, entretanto, já não vai para novo. Tem 93 anos e continua a comer hambúrgueres, cachorros, gelados e a beber cinco latas de Coca-Cola por dia. Há que vender o seu peixe, afinal, detém 9% das ações da companhia. Ainda assim, tendo em conta a sua idade avançada, o clima da reunião ficou inevitavelmente marcado pela sucessão que, mais tarde ou mais cedo, recairá em Greg Abel.

Não se prevendo aumentos significativos das taxas de juro, que neste momento estão estáveis, previu-se que as ações da Berkshire mantenham um desempenho superior ao mercado, ou possam subir ainda mais se as referidas taxas descerem.

Quanto à venda de dez milhões de ações da Apple, Buffett esclareceu que tal não se devia a qualquer previsão de mercado, mas à preferência de alocação de recursos noutros negócios. Ou talvez em ter cash, neste momento. Pois, coincidência ou não, a verdade é que o stock de caixa da Berkshire Hathaway subiu para 188 mil milhões de dólares. O que dará sempre jeito, caso estejamos às portas de uma crise financeira, seja ela repentina ou progressiva.

Sobre investimentos na China, e após a recente venda de 60% da sua participação na BYD (companhia de veículos elétricos), Buffett reforçou que a Berkshire Hathaway continuará a focar-se maioritariamente em companhias americanas. Sendo esta uma declaração bem fiel ao seu famoso lema: “Never bet against America.” Pessoalmente, continuo a dar-lhe razão, mas o mundo está a mudar. Não sei se daqui a dez anos poderemos dizer o mesmo.

A reunião acabou com um apontamento de humor e aceitação da frágil condição humana: “Não só espero que todos venham no próximo ano, como espero que eu próprio venha”, rematou Buffett. Todos riram e bateram palmas. Pelo sim pelo não, Greg aplaudiu a dobrar.

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