Médio Oriente: Doze momentos-chave de um ano de conflito em Gaza

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Há um ano, cerca de um milhar de combatentes do Hamas infiltraram-se em Israel e realizaram massacres em cidades fronteiriças e num festival de música. A partir daí, adensou-se o conflito no Médio Oriente. Conheça os momentos mais importantes.

O conflito na Faixa de Gaza, desencadeado após o ataque sem precedentes do grupo islamita palestiniano Hamas em Israel, há um ano, gerou ondas de choque na região, em particular o Líbano, também sob ofensiva israelita.

Eis alguns momentos-chave de um conflito sem fim à vista:

Ataque do Hamas

Na madrugada do dia 07 de outubro de 2023, cerca de um milhar de combatentes do Hamas infiltraram-se em Israel e realizaram massacres em cidades fronteiriças e num festival de música.

O ataque causou a morte de 1.139 pessoas do lado israelita, na sua maioria civis, segundo números oficiais israelitas. O Hamas fez 251 reféns, que foram levados para a Faixa de Gaza, onde 97 continuam detidos, 33 dos quais mortos, segundo o exército.

Benjamin Netanyahu prometeu aniquilar o Hamas, classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, pela União Europeia e por Israel.

“Guerra ao Hamas”

Horas depois do início do ataque do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) e quando ainda era desconhecida a extensão dos danos, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, declarou que Israel estava “em guerra” com o Hamas.

“Cidadãos de Israel, estamos em guerra. Não numa operação, não são rondas de combates, é uma guerra. Estamos em guerra e vamos vencê-la”, disse, num vídeo difundido nas suas redes sociais.

No mesmo dia, Israel iniciou ataques aéreos contra a Faixa de Gaza, que causaram cerca de 230 mortos, enquanto as milícias palestinianas lançaram mais de 3.000 foguetes.

Centenas de membros das milícias de Gaza e as forças israelitas prosseguiram lutas em mais de 20 pontos do território de Israel.

Ofensiva terrestre

O exército israelita anunciou uma ampliação das operações terrestres na Faixa de Gaza em 27 de outubro, em paralelo com o bombardeamento do enclave. Em resposta, o Hamas apelou, através de um comunicado, a uma “ação imediata”, a nível internacional, para acabar com os ataques israelitas em Gaza.

Netanyahu alertou que a guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza seria “longa e difícil”, mas proclamou que o exército “destruirá o inimigo na terra e no subsolo”.

Trégua de sete dias

Em 24 de novembro, teve início uma trégua de uma semana entre Israel e o Hamas. O acordo permitiu a libertação de 80 reféns israelitas ou com dupla nacionalidade, em troca da libertação de 240 prisioneiros palestinianos detidos por Israel.

Foram igualmente libertados 25 estrangeiros ou pessoas com dupla nacionalidade, principalmente trabalhadores agrícolas tailandeses.

As tréguas permitiram a entrada, a partir do Egito, de mais comboios de ajuda humanitária, embora ainda insuficiente, segundo a ONU.

As hostilidades recomeçaram em 01 de dezembro, e, quatro dias depois, o exército israelita enviou tanques para o sul da Faixa de Gaza, em 4 de dezembro, onde intensificou os ataques aéreos e os combates terrestres.

Decisões judiciais internacionais

No dia 26 de janeiro, o Tribunal Internacional de Justiça, a mais alta instância judicial das Nações Unidas, decidiu impor medidas provisórias a Israel no âmbito da convenção do genocídio, na sequência de um pedido da África do Sul, a que se associaram outros países: Nicarágua, Bélgica, Colômbia, Turquia, Líbia, Egito, Maldivas, México, Irlanda, Chile, Palestina e Espanha.

O procurador do Tribunal Penal Internacional, Karim Khan, pediu a 20 de maio mandados de detenção para o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, e o então líder político do Hamas, Ismail Haniyeh (entretanto morto).

Também o ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, o comandante das Brigadas Al-Qassam, Mohammed Al-Masri, e o chefe do gabinete político do Hamas, tiveram mandados de detenção emitidos por suspeita de crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

As dificuldades de entrega e distribuição de ajuda

Em 29 de fevereiro, 120 pessoas foram mortas por fogo israelita, segundo o Hamas, durante uma distribuição de ajuda humanitária na cidade de Gaza. Israel afirmou que o comboio tinha sido invadido por uma multidão esfomeada e que os soldados tinham “disparado com precisão sobre vários suspeitos”.

Sete funcionários da organização não-governamental norte-americana World Central Kitchen foram mortos a 01 de abril num ataque em Gaza, tendo o exército israelita admitido “um erro grave”.

Apesar de a quase totalidade da população de Gaza (cerca de 2,2 milhões de pessoas) depender de ajuda humanitária, a ONU, a Cruz Vermelha e outras organizações internacionais têm reclamado que Israel dificulta a entrada de camiões com alimentos e medicamentos. Em maio, as Nações Unidas indicavam que a passagem de camiões tinha caído 67% – antes da ofensiva, entravam no enclave cerca de 500 camiões por dia.

Tensões na região

Os receios de um alargamento regional aumentaram a 13 de abril, quando o Irão lançou um ataque sem precedentes com ‘drones’ e mísseis contra o território israelita, em represália por um ataque contra o consulado iraniano em Damasco, a 01 de abril, atribuído a Israel.

Pelo menos 14 pessoas foram mortas neste ataque na capital síria, incluindo “dois veteranos comandantes de guerra e conselheiros militares de alto nível na Síria”.

Em 19 de abril, foram ouvidas explosões no centro do Irão. Teerão minimizou a notícia sem acusar diretamente Israel, que não reivindicou a responsabilidade.

Operações no Sul

A partir de 07 de maio, o exército israelita levou a cabo o que descreveu como incursões “direcionadas” na zona leste de Rafah, após semanas de expectativa e inúmeros apelos da comunidade internacional contra essa operação. Israel assumiu então o controlo do posto fronteiriço com o Egito, vedando uma passagem crucial para a ajuda humanitária.

Na noite de 26 para 27 de maio, um ataque israelita provocou um incêndio num campo de deslocados em Rafah, que causou a morte de pelo menos 45 pessoas, segundo as autoridades de Gaza. O exército declarou ter atingido dois oficiais do Hamas.

Em julho, o exército israelita atacou cinco escolas que albergavam pessoas deslocadas durante um período de oito dias, matando várias dezenas de pessoas, segundo fontes em Gaza, incluindo o Hamas. Outras operações em 22 de julho mataram 70 pessoas, segundo o Hamas.

Conflitos com aliados do Hamas

Desde o início do conflito em Gaza, os rebeldes Huthis do Iémen lançaram quase cem ataques com ‘drones’ e mísseis contra navios no mar Vermelho e no Golfo de Aden, perturbando o comércio marítimo global nesta área estratégica. Aliados do Irão, os rebeldes dizem estar a agir em solidariedade com os palestinianos.

Em 19 de julho, reivindicaram a responsabilidade por um ataque com ‘drones’ a Telavive, que matou uma pessoa. No dia seguinte, Israel bombardeou o porto estratégico de Hodeida, no Iémen, provocando um incêndio e matando seis pessoas, segundo os rebeldes.

Por outro lado, na fronteira israelo-libanesa, as trocas de tiros entre o exército israelita e o movimento islamita libanês pró-iraniano Hezbollah foram quase diárias desde outubro e intensificaram-se em julho.

Em 27 de julho, um ataque com ‘rockets’ matou 12 jovens em Majdal Shams, uma cidade drusa nos Montes Golã sírios, em grande parte anexados por Israel. Acusado por Israel, o Hezbollah negou a responsabilidade.

No dia 30, um ataque de retaliação israelita matou o chefe militar do Hezbollah libanês, Fouad Chokr, perto de Beirute.

Morte do líder do Hamas

Em 31 de julho, o líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, foi morto em Teerão. O ataque foi atribuído a Israel, que não comentou.

Uma semana depois, o chefe do Hamas em Gaza e mentor dos ataques de 07 de outubro, Yahya Sinwar, foi designado como novo líder político do movimento islamita palestiniano.

Reconhecimento da Palestina

Em 28 de maio, Espanha, Irlanda e Noruega reconheceram oficialmente o Estado da Palestina, com o objetivo, sustentaram, de avançar para a paz no Médio Oriente. A Eslovénia também reconheceu a Palestina, em 04 de junho.

A Palestina é reconhecida como um país – neste caso, como um Estado soberano – por 144 dos 193 países-membros da Organização das Nações Unidas, ou seja, quase três quartos dos Estados. O Governo português tem afirmado que esta é uma matéria em permanente avaliação.

A Palestina é um Estado observador não-membro da Assembleia Geral das Nações Unidas desde 2012, mas em 09 de maio, este órgão aprovou por ampla maioria uma resolução que garante novos “direitos e privilégios” à Palestina e pede ao Conselho de Segurança que reconsidere o pedido para adesão plena, como 194.º Estado-membro da ONU. Portugal votou a favor desta proposta.

Escalada no Líbano e resposta do Irão

Após 11 meses de trocas diárias de disparos entre tropas israelitas e o Hezbollah na fronteira israelo-libanesa, o conflito escalou, com Israel a atingir o grupo apoiado pelo Irão com uma série de ataques devastadores que desferiram um rude golpe na sua estrutura militar e expuseram falhas profundas dos serviços secretos.

Entre 17 e 18 de setembro, explosivos escondidos nos ‘pagers’ e ‘walkie-talkies’ do grupo mataram dezenas de pessoas e feriram milhares no Líbano, muitos dos quais membros do Hezbollah.

Israel iniciou depois uma campanha de ataques, principalmente no sul e leste do Líbano, sobre áreas residenciais onde o grupo tem uma forte presença, matando centenas e deslocando dezenas de milhares de pessoas.

Em 28 de setembro, Israel anunciou a morte de Hassan Nasrallah, que liderou o Hezbollah durante 32 anos, e que foi sucedido, de forma interina, pelo vice-líder, Naim Kassem.

Após dias de expectativa sobre qual seria a reação do Irão, Teerão lançou, na noite de 01 de outubro, cerca de 200 mísseis contra Israel, em retaliação pelo assassínio do líder do movimento islamita palestiniano Hamas, Ismail Haniyeh, do chefe do grupo xiita libanês pró-iraniano Hezbollah, Hasan Nasrallah, e de um general iraniano.

As Forças de Defesa de Israel disseram que a maioria dos mísseis foi intercetada com o apoio dos Estados Unidos e Washington garantiu que vai colaborar com Telavive na resposta a Teerão, que, por seu lado, promete retaliar se for alvo de um ataque, aumentando assim os receios de uma propagação do conflito.

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