Aumento de casos de sarampo na Europa: "Uma chamada de atenção muito importante"

9 meses atrás 92

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Em entrevista, o pediatra Gustavo Januário reforça essa necessidade de vacinar as crianças, de forma a que Portugal mantenha as “ótimas taxas de vacinação”, que tem registado desde a inserção da vacina em 1973.

 "Uma chamada de atenção muito importante"

gdinMika

Os casos de sarampo têm sofrido um aumento, um pouco por toda a Europa, sobretudo nos últimos meses. A Portugal chegou um caso importado, notificado dia 10 de janeiro. A deteção de sarampo numa criança de 20 meses não residente em Portugal, que não estava vacinada contra a doença, levou a Direção-Geral da Saúde (DGS) a emitir um novo apelo à vacinação.

Só no último ano, o aumento nos países da União Europeia (UE) foi 30 vezes superior ao de 2022, facto que levou a Organização Mundial de Saúde (OMS) a emitir uma notificação europeia o mês passado.

Mais de 30.000 casos de sarampo foram notificados por 40 dos 53 estados-membros da UE entre janeiro e outubro de 2023. Um valor 30 vezes superior ao registado em 2022, onde apenas foram notificados 941 casos durante todo o ano.

“Observámos na Região [Europeia] não só um aumento de 30 vezes nos casos de sarampo, mas também quase 21.000 hospitalizações e cinco mortes relacionadas com o sarampo. Isto é preocupante”, explicou o diretor regional da OMS para a Europa, Hans Henri P. Kluge.

Em que consiste o sarampo?

O sarampo é uma infeção provocada por um vírus, caracterizada por febre, tosse, conjuntivite, corrimento nasal e manchas vermelhas na pele, denominadas por exantemas.

A transmissão ocorre por contacto direto, através de gotículas infeciosas ou por propagação no ar, quando a pessoa infetada tosse ou espirra.

Habitualmente a doença é benigna, mas, em alguns casos, pode ser desenvolver-se para estados mais graves, sendo potencialmente perigosa e até fatal.

A única solução? Vacinar

De acordo com a OMS, existe apenas uma forma de prevenir esta doença: a vacinação.

“A vacinação é a única forma de proteger as crianças desta doença potencialmente perigosa. São necessários esforços urgentes de vacinação para travar a transmissão e prevenir uma maior propagação”, acrescenta o especialista.

Em entrevista, o pediatra Gustavo Januário reforça essa necessidade de vacinar as crianças, de forma a que Portugal mantenha as “ótimas taxas de vacinação”, que tem registado desde a inserção da vacina em 1973.

“Portugal é um exemplo na vacinação contra o sarampo. Ainda assim, estes casos são chamadas de atenção muito importantes”, afirma o especialista da Unidade de Infeciologia Pediátrica do Hospital Pediátrico de Coimbra.

De acordo com uma nota publicada pela UNICEF em dezembro, estima-se que 931.000 crianças na Europa e no centro da Ásia não foram vacinadas parcial ou totalmente contra o sarampo entre 2019 e 2021.

O pediatra conta que, em sentido oposto, a OMS estima que “entre os anos de 2000 e 2021 terão sido prevenidas mais de 50 milhões de mortes devido à vacinação”.

Possíveis causas para a subida (acentuada)

Em 2023, o sarampo afetou todas as faixas etárias, com diferenças significativas na distribuição etária dos casos entre os países. No geral, dois em cada cinco casos ocorreram entre crianças de 1 a 4 anos de idade e um quinto dos casos ocorreu entre adultos com 20 anos ou mais.

Segundo o pediatra Gustavo Januário, “2019 foi o pior ano em que foram reportados 100.000 casos na Região Europeia. Nos anos seguintes houve uma melhoria”.

Este ressurgimento do sarampo é, em grande parte, atribuído ao retrocesso na cobertura vacinal nos países da UE entre 2020 e 2022. A pandemia da covid-19 teve um impacto significativo no sistema de imunização neste período, resultando numa acumulação de crianças não vacinadas ou subvacinadas.

A cobertura nacional com a primeira dose da vacina (que ocorre aos 12 meses da criança) contra o sarampo diminuiu de 96% em 2019 para 93% em 2022, enquanto a cobertura da segunda dose (administrada aos cinco anos) caiu de 92% em 2019 para 91% em 2022.

Ao todo, mais de 1,8 milhões crianças na UE perderam a vacinação contra o sarampo entre 2020 e 2022.

Quais são os sinais e sintomas?

No início do contágio existe febre e mal-estar, seguido de corrimento nasal, conjuntivite e tosse.

De seguida e em algumas situações podem surgir pontos brancos no interior da bochecha, cerca de um a dois dias antes do aparecimento da erupção cutânea.

O aparecimento da erupção cutânea (“manchas” que se iniciam na face e que depois se espalham para o tronco e para os membros) pode acontecer conjuntamente com períodos de febre alta.

Caso (excecional) de Inglaterra

Inglaterra é um dos países europeus que está a registar um maior número de casos nas últimas semanas. A BBC conta que no último mês, houve mais de 50 crianças a necessitar de tratamento, “o número mais elevado registado nos últimos anos”

Os dados da Agência de Segurança Sanitária do Reino Unido (UKHSA) revelam que as West Midlands (condado onde se insere a cidade de Birmingham) registaram pelo menos 167 casos confirmados em laboratório e 88 casos prováveis.

O especialista português explica que existem razões sociológicas para este aumento dos casos, tendo em conta “as associações históricas erradas, e sem qualquer fundamento científico, de doenças à vacinação”.

“Quando há grupos de meninos com baixa taxa de vacinação, é aí que surgem os surtos”, explica.

Tendo em conta que o sarampo é uma doença infetocontagiosa, “é preciso uma taxa de vacinação muito alta para que seja eficaz”, conclui.

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