Bangladesh. Protestos estudantis recomeçam após Governo ignorar ultimato

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Desde hoje de manhã que estão a realizar-se várias manifestações na capital do país, Daca, e noutros locais do Bangladesh, mas em menor escala do que as registadas no início do mês.

A polícia usou bastões para dispersar uma manifestação nos arredores da capital, prendendo pelo menos 20 pessoas, noticiou o maior diário bengali, Prothom Alo.

As forças de segurança foram fortemente mobilizadas em Daca, uma megalópole de 20 milhões de habitantes, para impedir novas concentrações.

Os recentes protestos dos estudantes contra as quotas de emprego na função pública causaram a morte de pelo menos 205 pessoas, incluindo vários polícias, segundo uma contagem da agência noticiosa France-Presse (AFP) organizada com base em dados da polícia e dos hospitais locais.

Os confrontos foram dos piores em 15 anos de liderança de Sheikh Hasina e os esforços do Governo para restabelecer a ordem incluíram o envio do exército para as ruas, o corte do acesso à Internet e a imposição de um recolher obrigatório.

A polícia prendeu pelo menos seis líderes dos Estudantes Contra a Discriminação, o movimento que organizou as primeiras manifestações.

"O Governo continua a mostrar total insensibilidade em relação ao nosso movimento. Estamos a convocar manifestações em todo o país e pedimos a todos os bengalis que se solidarizem com as nossas reivindicações e se juntem ao nosso movimento", afirmou hoje Abdul Kader, um dos coordenadores do movimento estudantil, num comunicado.

Os Estudantes Contra a Discriminação tinham-se comprometido a pôr fim a uma moratória de uma semana sobre as manifestações se a polícia não libertasse os seus líderes até à noite de domingo, 28 de julho.

O grupo exigiu igualmente um pedido de desculpas público de Hasina pelo "massacre de estudantes", a demissão de vários ministros e a reabertura de escolas e universidades encerradas no auge da crise.

Pelo menos 9.000 pessoas foram detidas em todo o Bangladesh desde o início da agitação, segundo o Prothom Alo.

O exército continua a patrulhar as zonas urbanas, mantendo-se vigente um recolher obrigatório nacional, embora este tenha sido gradualmente flexibilizado desde o início da semana passada.

A rede de Internet móvel foi restabelecida no domingo, 11 dias após um apagão nacional imposto no auge da agitação.

"A situação está a regressar à normalidade graças às medidas adequadas tomadas pelo Governo e pela população", declarou, no domingo, o Ministério dos Negócios Estrangeiros num comunicado, em que decretou para terça-feira um dia de luto nacional em memória dos mortos nos distúrbios.

Os protestos começaram após a reintrodução, em junho, de um sistema que reserva mais de metade dos empregos na função pública a determinados candidatos, incluindo quase um terço aos descendentes dos veteranos da guerra de independência do Bangladesh.

Com cerca de 18 milhões de jovens no desemprego, segundo dados do Governo, esta decisão ofendeu profundamente os licenciados.

Os críticos veem as quotas como uma forma de reservar lugares na função pública para os próximos do partido da primeira-ministra, a Liga Awami.

Há pouco mais de uma semana, o Supremo Tribunal reduziu o número destes empregos reservados, mas não respondeu à exigência dos manifestantes de que este sistema de recrutamento fosse completamente abolido.

Sheikh Hasina, de 76 anos, governa o Bangladesh ininterruptamente desde 2009 e venceu as quartas eleições consecutivas em janeiro, num escrutínio sem verdadeira concorrência e boicotado pela oposição.

O seu executivo é acusado por grupos de defesa dos direitos humanos de utilizar as instituições do Estado para consolidar o seu domínio do poder e reprimir a dissidência, sobretudo através de execuções extrajudiciais de ativistas da oposição.

As autoridades acusaram os partidos da oposição de desviar as manifestações para provocar distúrbios.

No domingo, o ministro do Interior bengali, Asaduzzaman Khan, disse aos jornalistas que as forças de segurança tinham atuado com contenção, mas que tinham sido "obrigadas a abrir fogo" para defender os edifícios governamentais.

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