O Chega acabou por ficar isolado no debate de urgência que André Ventura marcou para discutir as declarações de Marcelo Rebelo de Sousa sobre a reparação às antigas colónias. Alguns partidos até podem criticar a atitude do Presidente, mas sobem o tom de voz da contestação ao Chega que acusa Marcelo de traição à pátria.
André Ventura referiu que o debate não era sobre a proposta que o partido entregou no parlamento, mas foi ele a chamar o tema para discussão ao considerar que as declarações do presidente “representam uma profunda traição sem paralelo” na história portuguesa.
A deputada do PSD Regina Bastos fala em aproveitamento político por pare do Chega.
“Não foram as declarações do Presidente da República que criaram um tumulto mediático. Quem o criou e continua a alimentar foi mesmo o aproveitamento político que delas foi feito”, acusou a deputada Social democrata.
Já Pedro Delgado Alves, do partido socialista criticou “mais uma busca desesperada de atenção” e acusou o Chega de “falta de noção e falta de respeito pela inteligência" do parlamento e do país.
“Este agendamento não tem um pingo de urgência. Urgência seria, se calhar, marcar um debate sobre a criança nepalesa agredida numa escola em Lisboa” referiu o deputado socialista.
Paulo Núncio do CDS considerou que “esta iniciativa é politicamente insana, juridicamente ignorante e institucionalmente infantil”.
Rui Rocha da Iniciativa Liberal considerou esta intenção do Chega uma reação histérica considerando que André Ventura “é jurista e tem obrigação de saber da absoluta falta de fundamento do que pretende fazer”.
Joana Mortágua do Bloco de Esquerda disse que se fosse levada a sério a queixa do Chega “o Presidente arriscaria 10 anos de prisão” perguntando se essa “é a pena para quem tem uma opinião diferente” do Chega.
Pelo PCP, António Filipe considerou que este debate só serve para o Chega “ter mais umas horas de tempo de antena nas televisões” e para desviar dos problemas do país.
Rui Tavares, do Livre, disse que os termos usados pelo Chega “indicam um total desrespeito e ignorância sobre a história de Portugal”.
Apesar do governo já ter anunciado que não havia qualquer diligencia em curso para a reparação às antigas colónias, André Ventura questionou o governo e Paulo Rangel voltou a dizer que isso nºão vai acontecer.
“Não haverá qualquer processo ou programa de ações específicas com o propósito de reparar outros estados pelo passado colonial português” garantiu o Ministro dos Negócios Estrangeiros.
Na intervenção no debate, Paulo Rangel diz que o governo cultiva a reconciliação e não o ressentimento.
“São muitos os que querem que essas reparações se baseiem no ressentimento. O Governo português, os governos portugueses, não cultivam nem instigam o ressentimento. Cultivam o respeito mútuo e a reconciliação com a História, lá onde ela se imponha e justifique”, referiu o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros.
Paulo Rangel revelou aos deputados que os ministérios dos negócios estrangeiros e da educação estão a trabalhar para criar cursos de tétum e crioulo nas faculdades de letras do país.
“Estas línguas são um tesouro cultural da nossa história comum, têm uma enorme influência da língua portuguesa que está por investigar, por estudar e por divulgar. É este o sinal que queremos deixar aos portugueses, à Assembleia da República e aos povos irmãos falantes de português”, disse Paulo Rangel.