"Debate tem de ser feito". Ministro alemão da Defesa renova alerta para ameaça russa

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Boris Pistorius apelou a um “debate nacional sério” sobre o futuro das Forças Armadas na Alemanha, argumentando que, no estado atual, não estão aptas a lidar com os desafios de política e segurança que a Europa enfrenta.

“Estamos seriamente preparados para defender o país? E quem é este nós? Este debate tem de ser feito”, sublinhou o governante aos soldados em formação na Academia Militar de Hamburgo, deixando claro que também se dirigia à sociedade em geral.Boris Pistorius frisou que a paz e a liberdade de que a maioria dos países europeus desfrutou durante décadas “já não é uma certeza irrefutável” e que a Alemanha está a ser “mais desafiada do que nunca como participante ativo na segurança e na política”.

Esta semana, o ministro alemão da Defesa havia já revelado que estava a considerar a possibilidade de permitir que residentes sem cidadania alemã se alistassem nas Forças Armadas, num esforço para aumentar o número de tropas de 181 mil para 203 mil até 2031.

Espera-se que, tal como acontece no exército norte-americano, se possa obter cidadania em troca do serviço militar - ou seja, os participantes seriam recompensados com um passaporte.

O exército alemão tem uma escassez crónica de pessoal, sendo necessários 20 mil novos recrutas por ano para manter os números atuais. Na Alemanha, um emprego no exército não tem o mesmo prestígio do que noutros países, devido ao passado de guerra do país. Os países do Continente Europeu questionam-se sobre se as Forças Armadas estão preparadas para a guerra moderna e para as ameaças colocadas por nações como a Rússia.

Na quarta-feira, o chefe do Estado-Maior britânico, o general Patrick Sanders, afirmou que deveriam ser tomadas medidas para colocar a sociedade "em pé de guerra" e que o público deveria estar preparado para pegar em armas contra a Rússia.

O Ministério da Defesa do Reino Unido rejeitou rapidamente os seus comentários, insistindo que não haveria qualquer regresso ao serviço militar obrigatório, que o Reino Unido aboliu em 1960.

Na Suécia, Noruega, Finlândia e nos países bálticos, os preparativos para enfrentar um potencial ataque russo já estão a decorrer. Na Alemanha, a guerra da Rússia na Ucrânia trouxe o debate sobre as suas Forças Armadas para o espaço público.

O tenente-general Alexander Sollfrank, chefe das tropas da NATO na cidade de Ulm, no sul da Alemanha, que seria responsável por coordenar os movimentos das tropas europeias no caso de um ataque a um membro da Aliança Atlântica, afirmou que as Forças Armadas alemãs precisavam não só de recursos, mas também de "uma determinação visível para os utilizar”.

A dissuasão credível exige preparação para a guerra e tem de incluir a população", afirmou Sollfrank num discurso anual sobre o estado da segurança.

Markus Söder, líder da Baviera e chefe da conservadora União Social-Cristã, disse na quarta-feira que a Alemanha precisava de "soldados capazes de lutar na frente".

Imediatamente após a invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022, o chanceler alemão, Olaf Scholz, anunciou um denominado Zeitenwende - ponto de viragem - no compromisso militar da Alemanha, dedicando 100 mil milhões de euros a um fundo especial para financiar a sua atualização e recrutar mais pessoal.

No entanto, a mudança tem sido lenta. Pistorius, que sucedeu a um antecessor sitiado e considerado inapto para o cargo e que é visto como o político favorito da Alemanha, tem tido dificuldade em persuadir os colegas do Governo a partilharem o seu sentido de urgência e tem sido descrito como uma voz solitária no deserto da política de defesa.

Pistorius sublinhou também que não tinha conhecimento de uma troca que levaria os mísseis de cruzeiro alemães Taurus a irem para a Grã-Bretanha e a Ucrânia a receber, por sua vez, os sistemas britânicos Storm Shadow. A Grã-Bretanha ofereceu à Alemanha uma troca de mísseis de cruzeiro que poderia permitir ao Governo de Scholz superar as preocupações sobre a entrega sugerida de mísseis à Ucrânia, indica o jornal britânico The Guardian, a partir da imprensa alemã.

Em Berlim, há uma consciência crescente do impacto que uma vitória de Donald Trump poderá ter no financiamento da NATO e na estratégia militar da Europa em relação à Rússia.

Söder, que se debruçou sobre o tema, afirmou esta semana: "Se Trump ganhar, vamos ter de nos vestir a rigor. Precisamos de um exército totalmente equipado. Precisamos dos nossos próprios drones e precisamos de esclarecimentos sobre se o escudo atómico americano vai continuar a existir".

Söder acrescentou que seria a favor da reintrodução do serviço militar obrigatório, mas que este só seria obrigatório para os homens, como acontecia anteriormente.

Karl-Theodor zu Guttenberg, que ocupou o cargo de ministro da Defesa durante o mandato de Angela Merkel, entrou no debate na quinta-feira, comentando que era "um dever maldito" da Alemanha preparar-se para um ataque russo.

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