Desafios e novas abordagens em Saúde Mental: o ponto de vista da Psiquiatria

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São vários os desafios que o psiquiatra encontra nos dias de hoje. Porém, também estão disponíveis novas “armas” que lhe permitem ultrapassar muitos desses desafios. Objetivo: conduzir a diagnósticos mais exatos e a tratamentos mais específicos.

Artigo da responsabilidade do Prof. Dr. Luís Madeira. Professor Auxiliar de Psiquiatria e Saúde Mental e de Ética e Deontologia Médica, ULisboa. Coordenador de Psiquiatria do Hospital CUF Descobertas. Presidente-eleito da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental

As questões relacionadas com a Saúde Mental têm estado na ordem do dia pela visibilidade acrescida da doença mental – em particular ansiedade e depressão – as quais parecem surgir associadas a vários desafios contemporâneos.

Aos habituais fatores de stress biográficos – amorosos, familiares, do trabalho e da saúde – acrescentam-se os da nossa historicidade, tais como a aceleração social ou os efeitos pós-pandemia Sars-COV-2 ou, ainda, a exposição ao sofrimento à escala planetária com variadas guerras e os desastres climáticos.

Estes elementos têm determinando sofrimento psicológico nos cidadãos com maior ou menor impacto no funcionamento, umas vezes pedindo ajuda a técnicos (psicólogos e psiquiatras) e noutras continuando a funcionar nessa adversidade.

VENCER O ESTIGMA

Recorrer a uma consulta por motivo de sofrimento mental, mesmo nos dias de hoje, requer ainda vencer um estigma que desde sempre determinou a subnotificação e o subdiagnóstico. A procura de ajuda em serviços de Saúde Mental, apesar de ser muito significativa, poderá não expressar a totalidade daqueles que poderiam beneficiar de ajuda. Este recurso e a intervenção precoce permitiriam a recuperação sintomática e funcional completa, bem como evitariam o surgimento de doenças comórbidas que são frequentes em pessoas que estão deprimidas ou ansiosas, como é o caso da obesidade.

OS DESAFIOS PARA O MÉDICO

Na entrevista clínica, o médico encontra hoje vários desafios, sendo impossível listá-los por ordem de importância. Um deles é a complexidade do universo de doentes que se apresentam clinicamente, oriundos de culturas variadas em face ao mundo globalizado em que vivemos.

Outro constitui-se na adaptação do médico ao ritmo das mudanças sociais e tecnológicas, em que o risco de obsolescência é cada vez maior, pela rapidez com que os conceitos e as práticas mudam.

O terceiro traduz-se no impacto sobre o médico das alterações sociais (aceleração, segregação social e liquefação das estruturas que anteriormente existiam) que têm determinado uma pressão cada vez maior de performance e uma alteração da natureza da prática médica – em particular, do tempo anteriormente disponível para cada consulta. Assinale-se que o processo de diagnóstico, em especial na área da Saúde Mental, baseia-se em dados subjetivos e que qualquer abordagem simplista pode levar ao sobrediagnóstico, subdiagnóstico ou erro de diagnóstico.

Por último, existem vários desafios que se referem à enorme variedade de tratamentos com maior ou menor eficácia e diversos efeitos secundários e que obrigam a uma medicina personalizada.

Esta última define-se como “medicina de precisão” e manifesta-se não apenas ao nível da consulta, mas também pelos avanços na Genética e na Neurobiologia, que têm criado novos caminhos para abordagens ao tratamento em Psiquiatria, com base na composição genética individual e na resposta aos medicamentos, por exemplo, o perfil de metabolização dos fármacos.

NOVAS ARMAS

No entanto, ao psiquiatra de hoje estão disponíveis novas “armas” que lhe permitem ultrapassar muitos destes desafios.

Primeiro, a pandemia Sars-COV-2 impulsionou uma série de tecnologias de informação, pelo que hoje temos disponíveis várias ferramentas digitais, incluindo as teleconsultas, que têm alargado o acesso aos cuidados de Saúde Mental, especialmente em zonas que anteriormente tinham pouco acesso a esses cuidados.

Observamos também uma ênfase crescente nos cuidados integrados, que combinam cuidados psiquiátricos, psicológicos e médicos gerais, numa abordagem da pessoa como um todo, que tem um incremento da efetividade do tratamento.

Existe hoje um enfoque renovado nas psicoterapias, agora menos estigmatizadas, através de novas modalidades, quer de formatos antigos (em todas as áreas psicoterapêuticas, por exemplo, a terapia cognitivo-comportamental) e/ou o surgimento de novas intervenções, como o neurofeedback.

Faz ainda parte do tratamento psiquiátrico atual a atenção ao estilo de vida, reconhecendo-se o papel dos fatores relacionados com este na saúde mental, com abordagens holísticas, que incluem dieta, exercício físico, hidratação e sono saudável.

Leia o artigo completo na edição de Janeiro 2024 (nº 345)

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