"Estou a dizer rigorosamente o seguinte, tenho razões para supor que aquilo [diamante] não vale nada, como vos disse. Admito poder ser contrariado, se alguém me disser que afinal vale, é uma coisa que temos que esperar para ver", disse Paulo Sá e Cunha aos jornalistas à saída para a pausa do almoço no Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC).
O advogado admitiu que inicialmente afirmou que o "valor do objeto era desprezível", mas reconheceu hoje que a melhor forma de descrever era "ter dito que era desprezável".
"O que digo agora é que continuo a ter todas as razões para confiar na afirmação que fiz", sublinhou, acrescentando que percebe "muito pouco de diamantes".
A CNN Portugal avançou na terça-feira à noite que o diamante encontrado no gabinete do ex-autarca é verdadeiro e que, segundo uma avaliação feita pela Imprensa Nacional Casa da Moeda, valerá 50 mil euros, contrariando assim a defesa de Pedro Calado que falou inicialmente em "diamante sintético".
"Aquilo que sei é que há diamantes sintéticos de elevada qualidade. Esses diamantes sintéticos valem menos do que os diamantes naturais, valem muito menos (...) e também sei o que é necessário fazer para se distinguir um diamante sintético de um diamante natural, em termos laboratoriais é algo que só se pode fazer em determinados laboratórios certificados para o efeito", acrescentou.
De acordo com o advogado que defende Pedro Calado, há elementos novos que têm sido noticiados, que apontam para outro valor e que esses elementos "foram obtidos sem contraditório da defesa", referindo que, quando a defesa puder exercer o seu contraditório, "logo se concluirá qual é o valor acertado".
Paulo Cunha e Sá admitiu que pode ter de "rever o que disse", salientando que, quando avançou que o valor "era insignificante", era porque tinha razões para acreditar nisso.
"Se me convencerem de que não é, terei que ficar convencido. Neste momento, não estou convencido porque não tive qualquer intervenção", disse, acrescentando também que deverá ser um laboratório internacional certificado a fazer perícias para avaliar o diamante.
O processo que envolve o ex-presidente da Câmara do Funchal e os dois empresários - Custódio Correia e Avelino Farinha - detidos no âmbito de um processo de suspeitas de corrupção na Madeira está a ser conduzido pelo juiz de instrução Jorge Bernardes de Melo.
Hoje é o segundo dia de inquirições a Pedro Calado, detido há 15 dias no âmbito daquele processo, e, de acordo com Sá e Cunha, decorre "a bom ritmo", mas ainda deve continuar na quinta-feira.
Os interrogatórios a Custódio Correia, CEO e principal acionista do grupo ligado à construção civil Socicorreia, e a Avelino Farinha, o líder do grupo de construção AFA, já terminaram.
Só no final de todos os interrogatórios serão conhecidas as medidas de coação.
A Polícia Judiciária (PJ) realizou, em 24 de janeiro, cerca de 130 buscas domiciliárias e não domiciliárias sobretudo na Madeira, mas também nos Açores e em várias zonas do continente, no âmbito de um processo que investiga suspeitas de corrupção ativa e passiva, participação económica em negócio, prevaricação, recebimento ou oferta indevidos de vantagem, abuso de poderes e tráfico de influência.
A operação também atingiu o presidente do Governo Regional da Madeira (PSD/CDS-PP), Miguel Albuquerque, que foi constituído arguido e renunciou ao cargo. A renúncia foi formalmente aceite pelo representante da República na região na segunda-feira e publicado em Diário da República no mesmo dia.