Os anúncios de emprego

2 horas atrás 15

Estes dias dei por mim a pensar o quão pouco os anúncios de emprego mudaram desde que me lembro! E de quanto isto é revelador da mentalidade que ainda reina nas empresas portuguesas. Desde logo, existem os requisitos que o candidato tem de preencher. E, neste ponto, deparei-me com várias pérolas.

Um anúncio pedia “capacidade de colaboração e trabalho em equipa”. Não vá o candidato ser mau a trabalhar em equipa, e bom a colaborar. Ou anúncios que pedem “resiliência e capacidade de trabalhar sob stress”, ao mesmo tempo que oferecem um ambiente de trabalho incrível, com grande foco no bem-estar dos colaboradores. Outros ainda pedem um candidato com alto nível de inglês e outras línguas, mas escrevem o anúncio num inglês sofrido.

Experimente analisar os anúncios de emprego – no final conseguem fazer um colar de pérolas! Mas existe um problema com os anúncios de emprego que me chateia particularmente – não apresentam um intervalo salarial, algo que é prática em muitos outros países, incluindo, claro, o Reino Unido.

Com tanta retórica sobre o poder dos mercados e a necessidade de atrair talento a diferentes níveis, não se compreende como ainda não se instituiu a publicitação de um intervalo salarial pelas empresas.

Como sabemos, os mercados competitivos são tão mais eficientes na alocação de recursos quanto menor for a assimetria de informação entre quem vende e quem compra, mas, ao que parece, isso não se aplica ao mercado de trabalho.

Em primeiro lugar, quantos não vão às entrevistas apenas para descobrir que o empregador quer pagar salários muito aquém das expectativas e necessidades do candidato?

Em segundo lugar, a não publicitação de um intervalo salarial é eticamente errada, porque aumenta o poder negocial do empregador e deixa o candidato vulnerável a ter de decidir na hora e sob pressão, ou a ir na cantiga do empregador que lhe vende o lugar como apenas o início de uma carreira fulgurante.

A não publicitação de um intervalo salarial releva ainda outro problema: não existem, em muitas empresas portuguesas, carreiras estruturadas com progressões salariais definidas em função de qualificações, competências e experiência.

Publicitar um intervalo salarial poderia obrigar muitas empresas a mudar a sua gestão de recursos humanos. Às vezes, a questão do talento começa por pequenas coisas que dão um sinal importante sobre como as pessoas são tratadas e valorizadas.

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