"Dinâmica positiva" China-Europa regrediu, diz ex-conselheira de Biden

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Em entrevista à Lusa em Lisboa, onde esteve na última semana a convite da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), a politóloga recordou que antes da "Covid-19, por exemplo, antes de Xinjiang (província chinesa onde o tratamento da minoria uigur é criticado por Bruxelas), a UE estava prestes a assinar o Acordo Global de Investimento com a China", mas "atualmente, a dinâmica positiva entre a China e a Europa é menor do que há sete anos".

Para a especialista do Hoover Institution da Universidade de Stanford e autora de livros sobre a China e o seu Presidente, Xi Jinping, é agora mais difícil a capacidade de liderança de Pequim em relação à Europa e às principais economias asiáticas devido às "políticas em torno da Covid, a diplomacia do `lobo-guerreiro`, os esforços diplomáticos muito agressivos, a coerção económica".

"E continuam as violações dos direitos humanos em Xinjiang e agora a nova e importante questão da sobrecapacidade (de produção chinesa para exportação para economias mais desenvolvidas) que causa problemas", acrescentou.

Para Economy, na Europa há agora um "sentimento muito maior, que não existia antes e que sempre existiu na Ásia, relativamente à China como uma preocupação de segurança nacional, devido ao apoio da China à Rússia na guerra da Ucrânia", e o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, "está muito consciente" dessas questões.

"A União Europeia tem-se mostrado muito forte", como a presidente da Comissão Europeia Ursula Von der Lyen, exemplificou a autora norte-americana.

A especialista comentou ainda como a Covid-19 foi uma lição, mostrando como a China dominava o fabrico de muito do material indispensável em tempo de pandemia.

"Mas, como vimos durante a Covid, quando a China não gosta do que os outros países fazem, está disposta a utilizar essa influência económica em seu próprio benefício", como quando boicotou a Austrália depois de o país ter apelado a uma investigação sobre as origens da doença.

"Ninguém se sente seguro se depender demasiado da China quando esta pode utilizar a sua influência económica para fins políticos. Por isso, penso que a redução dos riscos é uma parte importante da estratégia" da Europa, segundo Economy, que afirmou ainda a diferença sobre o que acontecia há "sete ou oito anos", quando países como Portugal, Grécia e "talvez um pouco como a Espanha receberam muitos investimentos chineses importantes no início da iniciativa `Belt and Road`".

"Penso que a capacidade da China em usar esse investimento para obter outras coisas que queria, como a [entrada da tecnológica] Huawei ou algo assim, já não se verifica (...) E isso não quer dizer que [os países] não continuem a querer negociar e investir na China, mas quando se trata das grandes questões de conduta estratégica, alinham com a UE", declarou a especialista, para quem há menos divisões atualmente no seio dos 27.

Desenvolvendo a questão da sobreprodução - designadamente em veículos elétricos e painéis solares e energia eólica -, Economy disse à Lusa que o Presidente chinês, Xi Jinping, não está a fazer nada para aumentar a procura interna: "Portanto, e não só para a Europa e para os Estados Unidos, mas também para o Brasil, para a Índia e para outros países, é a questão do excesso de capacidade".

A China "limita-se a fabricar, fabricar, fabricar para exportar", frisa. Nessa produção são utilizados subsídios, mantendo-se os preços baixos e impossibilitando a competição, o que poderá levar a que "indústrias de outros países sejam dizimadas" por esta concorrência, pelo que a Europa "está a tentar usar a nova regra de subsídios" e compensar o diferencial, adianta.

Acerca da neutralidade afirmada pela China em relação à guerra na Ucrânia, a especialista não hesita em notar o apoio de Pequim a Moscovo.

"Estão a fornecer à Rússia muitos produtos de que esta necessita para prosseguir a guerra. Não se trata de material militar propriamente dito, mas de `drones`, camiões para transporte, equipamento militar, componentes, financiamento. Portanto, não se trata de neutralidade. [A China] Está a ajudar ativamente a Rússia através do seu comércio, através do seu investimento", defendeu.

Já sobre o Médio Oriente, Economy recordou o "alarido" feito por Pequim aquando da participação no acordo diplomático entre Irão e Arábita Saudita, enquanto agora face ao apoio do Irão aos rebeldes Huthis do Iémen não está a ser usado o "nível de influência para pressionar" Teerão.

Exemplo, afirma, de que a China "quer todos os direitos de ser uma superpotência, mas não quer ter a responsabilidade de fazer as escolhas difíceis".

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