EUA instam Israel a corrigir "deficiências óbvias" após ataques a veículos da ONU

2 dias atrás 30

Numa reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre Gaza, a embaixadora dos Estados Unidos - o aliado mais poderoso de Israel e também o seu maior fornecedor de armas - adotou hoje uma postura crítica em relação a Telavive, começando por manifestar "indignação" pela morte da ativista Aysenur Eygi, uma cidadã norte-americana baleada e morta na Cisjordânia, na semana passada, por fogo israelita.

"Essa tragédia horrível nunca deveria ter acontecido. Continuaremos a exigir detalhes e acesso à investigação de Israel, e a pressionar por responsabilização em relação às circunstâncias que levaram à morte de Aysenur", assegurou Linda Thomas-Greenfield.

Virando as atenções para a situação "catastrófica" em Gaza, a diplomata norte-americana recordou que, nas últimas semanas, registaram-se vários ataques nos quais funcionários da ONU e trabalhadores humanitários ficaram feridos ou foram mortos, reconhecendo "o preço trágico e sem precedentes que este conflito teve sobre a família da ONU".

Nesse sentido, e reconhecendo que muitos desses incidentes poderiam ter sido evitados, a embaixadora direcionou raras críticas a Israel, sublinhando o dever de Telavive de facilitar operações humanitárias e proteger trabalhadores e instalações humanitárias, como é o caso da "escola da UNRWA [Agência das Nações Unidas para Refugiados Palestinianos], alvo das Forças de Defesa israelitas na semana passada em Nuseirat", onde 18 pessoas morreram, incluindo crianças, mulheres e seis funcionários da ONU.

"Fomos inequívocos ao comunicar a Israel que não há base -- absolutamente nenhuma -- para que as suas forças abram fogo contra veículos da ONU claramente identificados, como ocorreu recentemente em diversas ocasiões", frisou Linda Thomas-Greenfield.

"As Forças de Defesa israelitas são uma força militar profissional e sabem muito bem como garantir que incidentes como esses não aconteçam. E, portanto, os Estados Unidos esperam que a sua liderança implemente mudanças fundamentais na forma como opera -- incluindo mudanças nas suas regras de abordagem e medidas para consertar as deficiências óbvias na forma como os procedimentos" de redução do risco são implementados, acrescentou.

Também o Reino Unido criticou as ações de Israel em Gaza, considerando "inaceitável" que Telavive se tenha comprometido "a inundar Gaza com ajuda, mas que isso não se tenha materializado".

Além disso, os avisos de evacuação em massa israelitas e o uso de armamento pesado significam que nenhum lugar é seguro em Gaza, advogou a embaixadora britânica, Barbara Woodward, admitindo estar "horrorizada com a matança adicional de trabalhadores humanitários".

Na reunião de hoje, a coordenadora humanitária e de reconstrução de Gaza, Sigrid Kaag - recém-chegada do enclave palestiniano - apresentou detalhes sobre a situação no terreno, frisando que além dos cerca de 41 mil palestinianos mortos, mais de 93 mil ficaram feridos.

Dados recentes da Organização Mundial de Saúde estimam que no conflito em Gaza mais de 22 mil pessoas sofreram ferimentos incapacitantes, incluindo amputações. 

"Muitos dos feridos têm mais de um ferimento. A infraestrutura de saúde, já paralisada, foi ainda mais dizimada", denunciou Kaag, considerando "inconcebível" a contínua falta de proteção efetiva para civis em Gaza.

 A coordenadora da ONU abordou ainda a recente retirada de 251 pacientes e seus familiares para os Emirados Árabes Unidos - a maior até agora -, avaliando tratar-se de um bom desenvolvimento, mas frisando que muito mais é necessário.

"Mais de 14 mil pacientes ainda requerem tratamento especializado fora de Gaza. Apelo a todos os Estados-membros para que estendam a solidariedade acolhendo estes pacientes e suas famílias", instou.

Além disso, "pelo menos 625 mil crianças continuam fora da escola --- crianças cujos futuros são marcados por traumas, perdas e privações. Todos os pais esperam um futuro melhor e mais próspero para os seus filhos. Em Gaza, esse desejo parental universal é ofuscado pelas realidades sombrias de destruição e desesperança", lamentou Sigrid Kaag.

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