Faixa-a-faixa: FASES de DØR explicado pelos artistas convidados

2 horas atrás 17

Um novo álbum de um produtor, muitas vezes, sabe quase a uma espécie de compilação com as participações de alguns dos artistas que orbitam em sua volta. É assim com FASES, o primeiro disco a solo de Miguel Ferrador, mais conhecido por DØR, um guru do estúdio vindo de uma nova geração de criativos que tem estado a trocar as voltas ao cancioneiro pop nacional.

Este conjunto de 9 faixas é o culminar de uma prolífica fase inicial da carreira deste cientista do som, que em pouco tempo ajudou JÜRA a ascender a um patamar de excelência nos seus sucessivos lançamentos e foi conhecendo e trabalhando com cada vez mais vozes à medida que o seu nome começava a ganhar notoriedade na praça. Muitos deles reunem-se agora aqui, nestas FASES, dando às produções de DØR a interpretação que elas merecem.

Além da já referida colaboradora de longa data, JÜRA, juntam-se ainda à festa LEFT., Isaura, iolanda, L-ALI, Alex D’Alva Teixeira, Ella Nor, Hélio Morais, Rita Onofre e Niki Moss. O resultado é-nos descrito em comunicado como “uma junção sofisticada de sons urbanos, narrados por uma emergente elite da pop nacional. Nove relatos de tensão e libertação, nove incursões por ambientes compostos de hip hop, synthwave, indie, triphop e até drum n bass.”

Ao Rimas e Batidas, os artistas convidados para este trabalho comentaram as respectivas faixas que criaram ao lado de Miguel Ferrador para a sua estreia em nome próprio.


[“CANTA” feat. Ella Nor]

O “CANTA” é uma viagem no amor. Mostra-nos a saudade do início e o desespero da proximidade do fim. Foi escrito do ponto de vista da parte não correspondida. É cantado com alguma tristeza e melancolia, mas acima de tudo, com vulnerabilidade.


[“FUNDO” feat. JÜRA]

“FUNDO” é praondsevai quandjá nada ou pouco se acha saber. quando se sente tanto qsedeixa de querer. é ondsapaga à luz até a sentir dnovo. pq é também no fundo qse acende. a luz. achamos que cair no fundo é perder todas as forças mas é onde percebemos qno fundo. temx sempre mais.


[“DESALENTO” feat. iolanda & Rita Onofre]

“DESALENTO” é sobre não ser vista. Sobre não encontrar lugar num sítio onde achámos pertencer, onde o outro não abre espaço para nós mas também não nos deixa seguir caminho. Sobre dar tudo a alguém que não se quer entregar. “DESALENTO” é esse momento congelado: a tomada de consciência da toxicidade, e no fim, o momento de sair.


[“CAPAZ” feat. Isaura]

É uma canção sobre acreditarmos no nosso valor e em quão única é a nossa perspectiva. É sobre focarmo-nos no nosso caminho e responsabilizarmo-nos pelos passos que tomamos. É sobre a importância de que o caminho seja leve e “CAPAZ” introduz um pouco de humor como estratégia para contrabalançar os momentos mais difíceis. Menos comparações, mais comemoração, menos competição e mais colaboração.


[“CASA” feat. Hélio Morais]

Fiquei muito feliz quando o Miguel me convidou para cantar nesta música. Andei uns tempos às voltas com o tema sobre o qual escreveria. Pôr palavras na música de outra pessoa é uma tarefa que me chega com uma responsabilidade acrescida. Tem que fazer sentido para toda a gente envolvida na canção. Um dia eu e o Miguel fechámos o bar de um hotel madrileno, cidade onde fomos tocar com o Gui Aly. Conversámos horas. Estava muito inquieto com uma situação pessoal. O Miguel escutou-me, opinou, concordou e discordou. Mas concordaremos os dois que foi uma conversa muito rica e franca. O Miguel, nesse dia, foi casa. Só poderia escrever sobre o que falámos durante horas. As portas da minha “CASA” já estavam abertas para o Miguel, mas nesse dia talvez tenha passado a habitá-la, também.


[“AVATAR” feat. LEFT.]

“AVATAR” é uma abstração da realidade, mergulhada no futuro. O tom é distópico, mas desafiante: num futuro onde a identidade é uma construção baseada em algorítmos e alterações biogenéticas, é o nosso avatar digital que nos representa. Queremos abdicar de quem somos para nos tornarmos zeros e uns, ou agarrar a ideia de que somos seres especiais e espirituais?

A malha nasceu em 2019 (!) em Londres, numa experiência de estúdio espontânea com o Miguel. O resultado faz jus ao processo e às nossas identidades musicais combinadas. É um hyperpop suave.


[“CAMBALACHO” feat. L-ALI]

💪🏻 Este som é um flex. Umas horas de estúdio com o DØR que se transformaram em puro gabanço.


[“HAJA” feat. Alex D’Alva]

A minha admiração por Miguel Ferrador não é recente; há mais de uma década que tenho o privilégio de contar com o seu talento ímpar e a sua sensibilidade nas fases mais cruciais da música que tenho vindo a fazer, tanto em nome próprio como com os D’Alva. Quando fui convidado a fazer parte deste seu novo projeto autoral, não pude deixar de me sentir imensamente grato, não apenas pela oportunidade em si, mas pela generosidade com que me foi concedida carta branca para criar sem limitações. Geralmente, quando recebo instrumentais criados por outros e sou convidado a intervir, tenho tendência a sentir que o meu contributo poderia desvirtuar a obra que está a ser criada; no entanto, ao ouvir os primeiros acordes deste instrumental, senti imediatamente que havia um espaço aberto onde poderia expressar-me de uma forma que ainda não tinha sido possível noutros projetos, ocupando esse lugar que me era inédito sem me tornar um intruso. A letra de “HAJA” surgiu de forma espontânea e imediata, como uma flor que desabrocha no cimento, um vislumbre de criatividade num terreno que, por muito tempo, parecia estéril. Esta colaboração permitiu-me explorar caminhos novos, tanto líricos quanto musicais, levando-me a um dos momentos mais despojados e sinceros da minha jornada enquanto autor e intérprete. Hoje, esta canção, que brota de um lugar profundo de amor e intimidade, já não é só nossa; agora pertence a toda a gente.


[“ALONE” feat. Nikki Moss]

“ALONE” é sobre ter coragem para tomar decisões que, por mais difíceis ou fracturantes que sejam, podem revelar-se transformadoras e positivas. Explora a ideia de que a solidão nos faz crescer. A música alerta contra o perigo de nos acomodarmos ao conforto, desafiando-nos a ambicionar novas experiências e a enfrentar o desconhecido com audácia. É nas escolhas mais arriscadas que encontramos o nosso verdadeiro propósito, mesmo quando o caminho é tortuoso.


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