Faixa-a-faixa: O Lobo Um Dia Irá Comer A Lua de João Maia Ferreira explicado pelo próprio

20 horas atrás 25

João Maia Ferreira lançou a 4 de Outubro o seu segundo álbum a solo, mas o primeiro com o seu nome próprio, O Lobo Um Dia Irá Comer A Lua. Esta quinta-feira, dia 17, sobe ao palco do B.Leza, em Lisboa, para apresentar oficialmente o disco com os diferentes convidados que participam nos 14 temas.

Depois de publicarmos uma entrevista com o músico, o Rimas e Batidas revela um faixa-a-faixa feito por João Maia Ferreira. O artista descortina as novas canções com mais detalhe, revelando histórias ou pormenores criativos sobre cada uma.



[“Ser Como Sou” (co-prod. Baco)] 

“É muito auto-explicativa. Curiosamente, não começou por ser uma faixa para mim. Foi um rascunho que fiz para outro projecto, e que acabou por deixar de fazer sentido, mas era uma ideia que eu queria muito utilizar em alguma coisa então fui repescá-la. A partir daí metamorfoseou-se muito e acabou por se tornar nesta faixa. O maior highlight é o facto de não ter sido originalmente pensada para mim. Depois, houve essa vontade de a transformar na faixa mais representativa do álbum. Na ‘Ser Como Sou’ consegues encontrar um pouco de todas as coisas que depois aparecem.”



[“Titã” (co-prod. Kidonov e Lunn)]

“Curiosamente, também é uma faixa que não começa por ser para mim. Isto é algo que acontece muito nesta primeira fase do disco. Esta faixa surge num writing camp do xtinto há uns meses, em que estávamos a ouvir esqueletos de instrumentais que a malta da MUNNHOUSE fez, e estávamos todos a tentar sacar iogurtes que, para quem estiver a ler, é uma expressão muito utilizada para ideias melódicas… A partir do momento em que abri a boca e me saiu isto percebeu-se muito rapidamente que isto era uma faixa para o João.”



[“Incandescência” (co-prod. Ned Flanger)]

“Queria ter uma faixa que fosse muito assumidamente mais electrónica nu-disco e esta foi a que acabei por escolher por esse motivo. E também foi por isso que chamei o Ned Flanger, que tinha essa capacidade. É uma das minhas faixas favoritas. Acho que é importante salientar isso, caso passe um bocado mais despercebida no projecto.”



[“Baú” feat. prettieboy johnson (co-prod. Izzoh)]

“É a única faixa neste álbum que não tem origem na minha cabeça, é um pouco o inverso do que aconteceu antes com a ‘éden’, que era minha e se tornou do xtinto. A ‘Baú’ era uma faixa do prettieboy johnson que, através da minha influência, se tornou minha. Existia um refrão e era isso. E eu pensei: ‘’Bora desenvolver isto, adoro este tema, acho que isto ficava super bem no meu álbum se estiveres afim de participar nele. E ‘bora trabalhar nesse sentido’. Foi assim que aconteceu. Aí já sabíamos que era uma faixa para um álbum meu, trabalhámos nela, acabámos por adicionar um pequeno verso do prettieboy johnson só para complementar e não ficar só com o refrão. Até porque as pessoas têm saudades dele e para adicionar um bocadinho mais de sumo à coisa. A partir daí, foi fazer a ponte de produção com o Izzoh. Já havia uma base instrumental drasticamente diferente, acabámos por manter algumas coisas mas transformou-se noutra coisa por completo.”



[“Credo”]

“É um bocadinho a mesma imagem da ‘Incandescência’. Neste caso não era nu-disco, mas queria muito ter uma faixa que fosse electro francês. Foi das últimas a serem feitas no álbum; curiosamente, depois tornou-se um single.”



[“Mandrágora” feat. xtinto (co-prod. Baco)]

“Foi a última do disco. É uma faixa que existe graças ao xtinto. Ele gostava bué dessa faixa, disse-me para não desistir dela, e, se não fosse ele, tinha ficado de fora. Não me sentia capaz de acabá-la, tanto que ela nem tinha um verso quando o xtinto me disse para não desistir daquele instrumental e refrão. E foi através dessa força que ele me deu que depois acabei por escrever o verso e acabei por dizer: ‘Agora vais entrar nesta faixa, ela existe graças a ti e tens de fazer parte dela’.”



[“Nenúfar”]

“Também foi das últimas a serem feitas. É uma faixa mais calma, se calhar até um pouco mais house n’ B, uma mistura de house e R&B… Queria muito explorar uma coisa mais ligeira, um pouco mais romântica. Para mim é a faixa do disco que representa isso.”



[“Borda Fora” feat. Mike El Nite (co-prod. RIVA)]

“Também é uma das mais experimentais. É uma das mais políticas, embora não ache que seja uma chapada, não é brutalmente declarada… Mas é das mais políticas e tem dos instrumentais mais arrojados. Tem um je ne sais quoi de Thundercat. Tive a felicidade de conseguir trazer o Mike El Nite rapper, que hoje em dia é uma aparição rara, e fico feliz de o ter conseguido. Não foi muito desafiante, saiu-lhe. Mas tive de lhe apresentar uma faixa para que isso fizesse sentido e, mesmo assim, para mim não era garantido. Ele surpreendeu-me e fico super feliz.”



[“Impala” feat. Alex D’Alva]

“É um dos singles, uma das faixas que sinto que representa bem o disco. É extremamente dançável, mais na onda de KAYTRANADA, e é uma de duas faixas em que o refrão não é meu. Normalmente, não costumo chamar muito pessoas para os refrões, mas aqui achei que fazia sentido. E o Alex D’Alva é um criativo de excelência e achei que fazia sentido para este tema. Quando o convidei, já sabia qual era o beat e disse-lhe só: ‘Gostas disto? Então tenta lá fazer um refrão’. E surgiu assim, estou extremamente satisfeito.”



[“Pé na Porta”]

“É a faixa mais fora do álbum, embora ache que ainda faça sentido, porque continua a existir no campo do house embora este seja mais dark. É a faixa com mais rap de todas, embora também haja um momento ou dois mais cantado. Porque não queria não ter uma faixa mais de rap. E uma coisa que posso dizer aqui é que, embora nunca vá voltar a benji price ou seja, a essa personagem sinto que ainda gostava muito de fazer um álbum de boom bap na minha vida. Sinto-me mais confortável na minha pele e gostava. Há uma certa vontade de fazer isso. Mas, pronto, a ‘Pé na Porta’ tem a minha versão de rapper nesta sonoridade.”



[“Gárgulas” feat. Conan Osiris]

“Foi a primeira faixa a ser feita. É a colaboração e a faixa mais inesperada, caiu assim um bocado de pára-quedas porque nunca esperei que o Conan dissesse que sim, mas disse, e obviamente que, tendo essa carta na manga, tinha de a jogar e tinha de ser um dos singles. E foi a primeira faixa a ser feita com a intenção de dizer às pessoas: ‘Preparem-se que isto vai para outro sítio’. E mesmo para mim já me colocou num espaço mental de ‘isto agora tem mesmo de ser diferente’.”



[“Passa Rápido” (co-prod. Beiro)]

“Pela minha experiência, em todos os projectos há sempre uma faixa que está lá porque a pessoa gosta mesmo dela, e não necessariamente porque acha que vá ser uma faixa super importante. E a ‘Passa Rápido’ é a faixa ‘para mim’ deste disco. Gosto dela, então meti-a lá. Obviamente acho que é um bom tema, se não não iria incluir, mas sinto que é um gosto mais pessoal. É uma faixa de um universo mais perto da ‘Credo’, mais electro francês.”



[“Diz-me Como” feat. João Não]

“Foi uma tentativa e erro. Originalmente, tentei que o João entrasse noutro som. Ele também tentou entrar nesse som, mas não lhe saiu nada, que é uma coisa que acontece e já me aconteceu a mim. E tinha esta faixa disponível e pensei: ‘E esta, que achas?’ A ‘Diz-me Como’ é uma faixa que toda a gente me disse para não desistir dela, porque eu teria desistido dela. Era um refrão que eu tinha há anos é a única coisa deste álbum que é antiga. O refrão e este beat foram feitos, na boa, em 2018. Que é para verem que em 2018 eu já tinha vontade de fazer uma coisa assim. E era só o que existia. E, numa das minhas sessões de escuta na Sony, a malta disse: ‘Então e aquela, não vais pôr essa?’ Eu respondi: ‘A sério, acham?’ E recebi um ‘sim!’ A partir daí tinha de a ter, e acho que o João fez um trabalho incrível. O João Não é um artista fenomenal e desejo-lhe tudo de bom. E é outro elemento um pouco inesperado.”



[“Samsara” feat. Keso (co-prod. Baco)] 

“Também é uma colaboração imprevista. É, provavelmente, a minha faixa favorita. Quando digo isto, não quer dizer que seja mesmo a faixa de que eu mais goste porque isso acho que não gosto mais de nenhuma, isto é como os filhos, gosto por igual. Mas digo isto porque é a faixa que eu quis mais que estivesse dentro do álbum. Enquanto todas as outras, se calhar, há universos em que elas poderiam não estar, a ‘Samsara’ tinha mesmo de estar. E foi das primeiras que fiz. Quando a comecei a fazer, também não era para mim, e claro que depois a reconstruí por completo para ser uma faixa minha. E também tentei a minha sorte com o Keso e, felizmente, tive o privilégio enorme de ele querer entrar. A forma como a voz dele aparece foi por vontade própria; ele escolheu fazer assim. Acho que ele queria que, quando ouvisses, dissesses: ‘Ok, uau, nunca o tinha ouvido desta maneira’. Foi um pouco como o Conan, só que ao contrário: nunca esperavas ouvir o Conan tão rapper; e nunca esperavas ouvir o Keso dentro de um universo destes. Foi a forma que ele encontrou de fazer parte do disco com excelência.”


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