"A recuperação económica, no ano passado, não foi tão rápida como se esperava. As empresas privadas ainda enfrentam enorme pressão", descreveu Guo, fundador do Fosun Group, que detém em Portugal a seguradora Fidelidade, uma participação de quase 30% no banco Millennium BCP e mais de 5% da REN - Redes Energéticas Nacionais.
O Governo chinês deve publicar na quarta-feira os dados relativos ao crescimento económico no ano passado. Os analistas esperam uma taxa de 5,2%. Embora o valor exceda ligeiramente o objetivo oficial de 5%, os economistas afirmam que 2024 será um ano mais difícil, prevendo que o crescimento abrandará para 4,6%.
Guo Guangchang, de 56 anos, tem um património líquido calculado pela Forbes em 4 mil milhões de dólares, cerca de metade do valor que tinha há cinco anos, como resultado de uma queda no preço dos ativos na China, incluindo ações e imobiliário.
"No entanto, o pior já passou. Só aqueles que conseguirem sobreviver vão poder colher mais oportunidades", argumentou, durante uma reunião anual da Câmara de Comércio de Zhejiang, em Xangai.
O investimento privado caiu 0,5% na China, em termos homólogos, nos primeiros 11 meses do ano passado. Uma crise de liquidez no setor imobiliário, que concentra cerca de 70% da riqueza das famílias chinesas, segundo diferentes estimativas, afetou a confiança dos consumidores e pesou sobre a economia.
Guo atribuiu as dificuldades sofridas por muitas empresas privadas a estratégias baseadas em altos níveis de endividamento e acumulação de grandes volumes de ativos.
Este modelo é particularmente vulnerável numa altura em que Pequim tenta desalavancar a economia, visando reduzir riscos financeiros e construir um modelo assente na produção de bens com valor acrescentado e alocação eficiente de recursos.
Nos últimos anos, o grupo Fosun acelerou a venda de ativos para reforçar a liquidez e apostar em setores estratégicos, incluindo a biociência, produtos farmacêuticos e o turismo, numa altura de pressão no mercado obrigacionista.
O conglomerado soma uma dívida de 40 mil milhões de dólares (quase 37 mil milhões de euros), mas a emissão de títulos tornou-se mais cara, após várias empresas chinesas terem entrado em incumprimento, incluindo a Evergrande, a segunda maior construtora da China.
Entre os ativos vendidos nos últimos anos pela Fosun constam uma posição no valor de 500 milhões de euros na Tsingtao Brewery, a principal marca de cervejas da China, 5% do grupo chinês Taihe Technology, no valor de 43 milhões de euros, ou 6% do capital da empresa Zhongshan, por 100 milhões de euros.
No ano passado, o grupo vendeu também uma participação de 60% na Nanjing Iron and Steel, depois de a ter detido durante 20 anos.
"Os dias de crescimento desenfreado já lá vão. A rentabilidade no futuro só pode ser extraída a partir de indústrias com alto valor agregado, tecnologia e boa gestão", afirmou Guo.
Guo também encorajou mais empresas chinesas a expandirem-se além-fronteiras.
"Quando se consegue sobreviver no mercado doméstico, ferozmente competitivo, é provável que se consiga prosperar em quase todo o lado", acrescentou.