Incursão da Ucrânia na Rússia pode acabar com receio do Ocidente, diz especialista

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09 ago, 2024 - 22:02 • Filipa Ribeiro

Luís Tomé considera "surpreendente" a operação militar que a Ucrânia está a levar a cabo em território russo e realça a vantagem que Kiev pode conseguir nas negociações. Apesar de considerar que "é cedo" para prever desfecho, não nega abalo psicológico na população e ao nível político-militar em Moscovo.

Luís Tomé
Luís Tomé em declarações à Renascença

Há quatro dias que a Ucrânia continua a avançar em território russo sem resposta militar de Moscovo. Para Luís Tomé, professor e diretor do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Autónoma, a incursão ucraniana é "surpreendente".

Em declarações à Renascença, Luís Tomé fala numa "intenção" de Kiev em "agitar a Rússia". O especialista em assuntos internacionais diz que o avanço ucraniano " é um abalo psicológico para a população, para os militares e para as chefias politica militares" da Rússia, mas sublinha que ainda é cedo para perceber o desfecho "uma vez que pode haver um banho de sangue dos militares ucranianos".

Luís Tomé não tem dúvidas de que os avanços da Ucrânia podem resultar numa mensagem de Kiev para os aliados do Ocidente. O especialista acredita que Kiev, ao mostrar capacidade para conquistar território russo, "está a dizer aos aliados que os receios dos Estados Unidos da América e dos estados europeus, sobre uma eventual resposta massiva e escalada para a NATO que tem servido de justificação para limitar o uso de meios militares, são exagerados".

Esta sexta-feira, a Ucrânia reivindicou uma central de gás da Gazprom. Para Luís Tomé, a conquista de território de Kiev na Rússia pode trazer vantagem para as negociações.

O especialistas lembra, por outro lado, que a eventual ocupação da central nuclear de Kursk pelas tropas de Kiev pode fazer com que a Ucrânia consiga "margem negocial para uma troca (da central nuclear) por Zaporíjia ou outros territórios ucranianos ocupados pelos russos".

Numa análise na Renascença, Luís Tomé não afirma se este é ou não um momento de fragilidade para a Rússia, no entanto, realça que "há muitas explicações que Putin vai pedir sobre como é que é possível que "estando a Rússia em ofensiva e a avançar nas últimas semanas em território ucraniano, as forças armadas se tenham deixado surpreender pelas tropas ucranianas".

O especialistas em assuntos internacionais indica que é esperada uma explicação do chefe de Estado das Forças Armadas da Rússia sobre se ignorou ou não as indicações dadas pelos serviços secretos e que consequências vão ter essas explicações.

Sobre os apelos de Vladimir Putin para que seja evacuada a região se Kursk, Luís Tomé diz que "é natural" que o Presidente russo procure evitar perdas civis, no entanto não tem dúvidas de que se a Rússia "tiver que destruir cidades e arrasar por completo cidades russas para capturar militares ucranianas fa-lo-á". O investigador recorda o comportamento das tropas de Moscovo na Síria e na Ucrânia.

Também esta sexta-feira, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo disse que a Rússia quer levar as ações que considera "terroristas" da Ucrânia às Nações Unidas, ponto que Luís Tomé sublinha como "desfaçatez" de Moscovo, por a Rússia "estar a ser punida pela primeira vez pelo que anda a fazer há dois anos e meio na Ucrânia".

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