Joga no Young Boys e foi colega de Amorim no Benfica: «Era o mais engraçado do balneário»

7 meses atrás 60

A propósito da viagem do Sporting para a Suíça, onde defrontará esta quinta-feira o Young Boys, o zerozero procurou entender melhor o clube que atualmente lidera o campeonato desse país, tendo conquistado cinco das últimas seis edições do mesmo.

Para tal, ninguém mais adequado do que Loris Benito, um internacional helvético que ainda seria facilmente reconhecido em Portugal devido à curta passagem pelo Benfica (2014/15)! Com quase 150 jogos, o defesa de 32 anos está mais do que qualificado para falar acerca do emblema de Berna e antever este duelo europeu, mesmo que o próprio, por ter sido operado na semana passada, não vá jogar mais esta época.

Marcámos os dígitos e Benito atendeu, num português imaculado. Disse-nos que aperfeiçoou o idioma nesse ano lisboeta, embora as raízes galegas tenham ajudado, e a partir daí fluiu uma conversa que foi além do jogo que a motivou... Com um olhar sobre o presente e o futuro, mas com grande foco nas memórias da Luz, onde jogou ao lado de dois leões que agora se prepara para reencontrar.

Benito em duelo com Matheus Nunes, na fase de grupos da Liga dos Campeões @Getty /

zerozero [zz]: Sabemos que teve agora neste mês de fevereiro - dia 3, em Lausanne - um dos maiores azares que um futebolista pode ter: uma rotura dos ligamentos cruzados. Como está a lidar com isso?

Loris Benito [LB]: O momento foi difícil porque estava em boa forma tanto no campeonato como nos jogos europeus. Claro que uma lesão assim é sempre horrível, mas ao mesmo tempo eu sou uma pessoa muito pragmática e sei que a vida é o que é. Trabalho com o que tenho, vou focar-me na recuperação e não vou olhar para trás. Nunca se sabe se vou voltar mais cedo, mas a minha reabilitação é para 6-8 meses.

zz: Esquecendo isso por um momento, como está a ser esta segunda passagem pelo Young Boys? Como se sente nesta fase da carreira em que já é um dos mais experientes do seu plantel?

LB: Sinto-me muito bem. Este ano comecei a jogar como defesa central de forma fixa, porque antes era lateral e jogava mais raramente a central. Para mim isso é top. Já no Benfica o Jorge Jesus me disse que defesa central podia ser uma boa solução para o meu perfil e agora estou muito contente com a experiência. Tirando a lesão, está a correr muito bem.

zz: Contávamos perguntar-lhe acerca dessa mudança, até porque em Portugal o conhecemos como lateral esquerdo. Como surgiu a troca de posição?

Internacional 13 vezes pela Suíça (um golo) @Getty /

LB: A decisão foi minha. Eu falei com o diretor-desportivo, que me conhece bem de quando era jogador, e disse-lhe "olha, as minhas características são boas para essa posição". Para mim é mais natural. Eu quando era miúdo jogava a médio defensivo, mas por ser esquerdino acabei por ir para lateral e joguei quase toda a carreira como lateral, mas nunca foi a minha posição preferida.

zz: Na teoria, jogar a central também permite uma maior longevidade na carreira...

LB: Também, mas não foi o principal motivo. Eu sentia-me bem fisicamente para jogar a lateral. O ponto mais importante é o conforto e o que posso dar à equipa, mas sim, pode ser que dê para jogar mais anos.

zz: Como se explica o Young Boys a quem não conhece? O que significa o clube para o Benito?

LB: Uma coisa que tenho de destacar neste clube é a forma como está a ser levado pela direção. É um clube muito bem gerido, com uma ideia clara de como quer fazer as coisas. Muito familiar. Os jogadores chegam aqui e dizem que é fácil adaptar, temos um balneário que recebe os jogadores de braços abertos. Esse tipo de coisas faz as pessoas de Berna amar o clube. Eu sou de Aarau, mas tudo isto fica no meu coração também.

zz: Da experiência que teve no futebol português, que comparação faria em relação ao que se vive na Suíça?

LB: Acho que a maior diferença é o interesse. Em Portugal o futebol é uma religião, enquanto aqui não é bem assim. O interesse na Suíça é grande, mas em Portugal nota-se que toda a gente respira futebol e dá atenção. Até a vida como jogador é diferente, porque tens sempre os olhos em ti e quando vais à cidade toda a gente fala contigo.

Cristante, Renato e dois leões: a passagem pela Luz

zz: Temos mesmo de falar acerca dessa passagem pelo Benfica. Foi uma experiência boa para si? 

LB: São memórias muito lindas. É claro que, desportivamente, gostava de ter jogado mais, mas era um miúdo e foi o primeiro ano fora de casa. Na minha posição tinha o Eliseu, que na altura jogava na seleção de Portugal. Quando cheguei ao Benfica era um momento bom para mim, mas quando não jogas é sempre difícil. Depois o selecionador disse-me que para eu ir ao Euro (2016) tinha de jogar mais e por isso ao fim de um ano saí. Até o JJ saiu, por isso havia muita incerteza e não quis correr riscos. 

zz: O Benito estreou-se pelo Benfica com 90 minutos e uma bela assistência para o Jonas na vitória (2-3) sobre o SC Covilhã. Olhando para o início, acha que a história podia ter sido diferente?

LB: Sim, claro. Ao fim de um ano tu só pensas em como podia ter sido diferente, e vou ter essa pergunta para sempre, mas não me posso focar nisso.

A celebrar o título de campeão nacional ao lado de... Cristante @Carlos Alberto Costa

zz: Falou em «memórias lindas»... O que guarda desse ano?

LB: Jogadores fantásticos, por exemplo. Eu passei essa época inteira, quase todos os dias, com o Cristante. Foi o meu melhor amigo, passei cada minuto com ele.

zz: E quem era o mais fantástico dos jogadores do Benfica. Privou com alguns craques na equipa A, mas na B também jogou com jovens que chegariam aos maiores palcos internacionais...

LB: - É muito difícil escolher só um jogador, porque há tantos! Acho que a mim quem mais me impressionou foi o Renato Sanches. Na altura estava na B.

zz: Nesses três jogos que fez pela equipa B do Benfica cruzou-se também com duas pessoas que agora estão no Sporting. Um deles foi o Nuno Santos, que até marcou no primeiro jogo em que estiveram juntos. Lembra-se dele?

LB: Vai ser um bom reencontro! O Nuno Santos era só um miúdo, mas nessa passagem pela equipa B eu falei muito com ele e não me esqueço, era muito bom gajo. Do que me lembro, era uma pessoa fantástica. Também era bom jogador, tecnicamente forte e muito rápido. Está a mostrar isso no Sporting e fico muito feliz por ele, mas como pessoa só posso dizer boas coisas.

zz: O outro foi o Rúben Amorim, que hoje é o treinador do Sporting. Não jogou consigo na A porque sofreu uma lesão prolongada - também num sintético, curiosamente - mas atuaram juntos na B quando ele começou a ganhar ritmo competitivo...

LB: O Rúben era muito engraçado. Ele era a pessoa que fazia mais piadas, imitava toda a gente e só gerava risos. Era a pessoa mais engraçada do balneário e ajudava a equipa dessa forma, além de ser um bom jogador.

zz: Via esse lado mais cómico, mas ele já era um líder ou isso só veio mais tarde?

LB: Claro, ele sabia dizer "agora é trabalho, agora é brincar". Ele fazia essa distinção, na hora de treinar era muito profissional e tinha qualidade. Já pela forma como ele comunicava na altura dava para perceber que podia ser treinador.

Apenas seis jogos pela equipa A das águias @Carlos Alberto Costa

«O Sporting tem feito grandes resultados»

zz: Sobre o encontro de amanhã, para a Liga Europa, qual é a expectativa em Berna?

LB: O Sporting vai entrar como favorito e esse peso vai para eles. Nós em casa fazemos bons jogos no futebol europeu então temos de levar essa confiança, sabendo que o Sporting também está confiante e fez grandes resultados nas últimas semanas. Temos de estar juntos, defender bem e fazer o melhor possível com as ocasiões que nos derem.

zz: Já passou muito tempo desde a última vez que o Young Boys fez verdadeiros estragos numa campanha europeia. Acreditam que podem ir longe?

qMesmo estando habituado ao sintético, não quer dizer que eu goste. Claro que prefiro o relvado natural!

LB: Eu acho que temos de fazer a distinção entre o que nós queremos e o que público pensa, porque se nós não acreditarmos que podemos passar, então mais vale nem jogar. Eu acho que um atleta, em todos os desportos, quer sempre ganhar. Sabemos que somos capazes de jogar bem contra grandes equipas, portanto acreditamos que tudo é possível.

zz: O relvado sintético do Stade de Suisse é um tema incontornável. Para os adversários é um fator que torna o jogo completamente diferente, mas para vocês, que estão habituados, é só mais um jogo em casa. Como vivem isso?

LB: Mesmo estando habituado ao relvado, não quer dizer que eu goste. Claro que eu prefiro o relvado natural! É só isso que posso dizer... Mesmo estando acostumado, eu não gosto e é do meu entendimento que os outros também não gostam muito.

zz: Os adversários que não estão habituados temem as lesões. O Benito lesionou-se recentemente em casa do Lausanne-Sport, que é um dos outros clubes que também jogam em relva artificial...

LB: Sim, nós e o Lausanne somos das poucas equipas que jogamos em sintético, mas eu não considero que tenha sido essa a causa da minha lesão. 

zz: Consideram uma vantagem jogar nesse piso, especialmente nestes jogos europeus?

Loris Benito
Young Boys
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LB: No nível em que jogamos, não acho que faça uma diferença enorme. Se assim fosse, então no campeonato suíço os primeiros lugares eram sempre ocupados pelas equipas que jogam em sintético, mas não é bem assim.

zz: Só podemos agradecer pela conversa e desejar-lhe uma boa recuperação, mas antes disso, uma última questão: o que guarda o futuro de Loris Benito, para os últimos anos da carreira e mesmo depois?

LB: Não tenho uma ideia clara, acho que no futuro vou ter mais respostas. Não acho que vá ser treinador, porque sei que isso implica dedicar ainda mais horas ao futebol e quando eu terminar a carreira vou querer mais tempo. Diretor-desportivo pode ser uma opção, porque tem o lado da economia e eu posso gostar disso. Mas ainda não sei, sinto que ainda tenho uns seis anos para jogar.

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