Líder do Hamas assassinado por Israel em Teerão. O que se seguirá?

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O líder político do Hamas, que vivia no Qatar há vários anos, foi assassinado em Teerão esta madrugada, onde estava para a tomada de posse do novo primeiro-ministro iraniano. Guerra regional afigura-se cada vez mais provável e analistas sublinham o timing dos ataques, após a visita de Netanyahu aos EUA, bem como a probabilidade cada vez menor de um cessar-fogo em Gaza.

O líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, foi assassinado esta madrugada em Teerão num ataque que o movimento palestiniano e o governo iraniano atribuem a Israel. Telavive não se pronunciou, mas assumiu a autoria do bombardeamento em Beirut que vitimou três civis, incluindo duas crianças, e fez 74 feridos, afirmando ter visado um dos líderes do Hezbollah, Mushin Shukr. A milícia libanesa não confirma a morte do comandante, mas já garantiu, juntamente com o Hamas e o Irão, vingar os ataques israelitas.

Como reagiu a comunidade internacional?

Os ataques israelitas foram vistos como uma perigosa escalada da violência na região, violando a soberania de dois Estados, o Líbano e o Irão, isto depois da visita de Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, aos EUA. Os norte-americanos frisaram repetidas vezes em público que a diplomacia ainda seria uma via possível, mas continuam a falar num direito à defesa por parte de Telavive e a fornecer material bélico ao regime israelita.

O Governo libanês condenou o ataque israelita, com o primeiro-ministro interino, Najib Mikati, sublinhando a irresponsabilidade de bombardear a poucos metros de um hospital da capital. Também o Irão garantiu que Israel pode contar com “uma resposta dura e dolorosa” após o ataque a Ismail Haniyeh, líder político do Hamas que se encontrava em Teerão para a tomada de posse do novo primeiro-ministro iraniano.

China e Rússia também condenaram o assassinato político em Teerão, tal como o Qatar, que fala num “crime hediondo, uma escalada perigosa e uma enorme violação do direito internacional”.

As forças do eixo de resistência também já garantiram que irão retaliar, com os Houthis, do Iémen, a falarem num “hediondo ato terrorista” e o Hezbollah a classificar o ataque a Beirut como “um erro estúpido”.

Quais as consequências políticas?

Haniyeh, que residia há vários anos no Qatar, estava indiretamente envolvido nas negociações para um cessar-fogo em Gaza, negociações essas que devem sofrer um forte rombo. O Hamas havia já afirmado que Israel impunha novas condições inaceitáveis ao acordo avançado pelos EUA, isto após a visita de Netanyahu a Washington, DC, o que já minava o processo negocial.

Com o assassinato da principal figura do movimento palestiniano, um desfecho positivo das negociações parece cada vez mais improvável. Hasan Ayoub, professor de ciência política citado pela Al Jazeera, fala num “golpe fatal à presença diplomática do Hamas” que “mina meses de esforços diplomáticos e políticos para atingir um cessar-fogo em Gaza”.

Ainda assim, Yahya Sinwar, o líder do Hamas em Gaza, é o principal responsável pelas discussões com as forças israelitas sobre um cessar-fogo no enclave palestiniano onde já mais de 39 mil pessoas, na sua maioria mulheres e crianças, foram mortas pela ofensiva de Telavive.

Por outro lado, a escalada de violência das últimas 24 horas envolvendo dois Estados soberanos, o Líbano e o Irão, deixa tudo em aberto para uma guerra regional em plena força, cenário que vários analistas também antecipam. Em particular, a escolha de assassinar Haniyeh em território iraniano é um embaraço que os ayatollahs procurarão compensar.

Quem seguirá a Haniyeh na liderança do Hamas?

O chefe diplomático era uma figura importante nas relações com o principal financiador do movimento, o Irão, mas as operações militares em Gaza estavam pouco dependentes da sua atividade. Ainda assim, o seu assassinato é um duro golpe na capacidade diplomática do movimento.

Juntando-se a uma longa lista de líderes palestinianos assassinados por Israel no estrangeiro e em território palestiniano, Haniyeh deixa uma sucessão incerta. Uma das principais figuras do movimento, Yahya Sinwar, sucedeu-lhe na governação da Faixa de Gaza após a sua saída em 2013, mas o papel diplomático fica agora por preencher.

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