Lucas Pires era "livre" e reconhecia "liberdade dos outros"

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Livro "O Príncipe da Democracia"

16 abr, 2024 - 00:50 • Tomás Anjinho Chagas

Gonçalo Nuno Poças, que biografa antigo líder do CDS, descreve um homem "à frente do seu tempo", que antevia problemas que estamos a viver hoje, e assinala a sua importância para "afirmar a direita liberal conservadora".

Entrevista a Nuno Gonçalo Poças, autor do livro "O Príncipe da Democracia, uma biografia de Francisco Lucas Pires"
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Essencial nas primeiras décadas da democracia portuguesa, ex-ministro da AD (a primeira), ex-líder do CDS e "a primeira pessoa que - depois do 25 de abril- disse na televisão que era de direita e que não havia nenhum mal nisso".

Por estas e outras razões, Gonçalo Nuno Poças decidiu escrever uma biografia sobre Francisco Lucas Pires, no ano em que se assinalam cinco décadas da revolução de abril e em que o antigo político faria 80 anos, se estivesse vivo (faleceu em 1998).

"Recuperar" uma "personalidade "liberal"

"O Príncipe da Democracia" é o título da obra. O autor explica: "era de facto uma personalidade liberal, uma pessoa livre que respeitava a liberdade dos outros", resume Gonçalo Nuno Poças em entrevista à Renascença. Considera que a característica continua a escassear nos dias que correm.

"É uma coisa que não é muito comum em democracia, quer à esquerda quer à direita", destaca o escritor que considera Lucas Pires um dos políticos que tem uma "certa aura de príncipe", além de ter estado na "vanguarda da produção de ideias".

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Recuperar uma figura que - não sendo da esquerda nem do socialismo - foi muito importante na construção da democracia.

No entanto, Gonçalo Nuno Poças diz que "muito do seu trabalho e da sua reflexão continuam parcialmente por cumprir" e daí a relevância de escrever sobre Francisco Lucas Pires.

Apesar de assinalar que Lucas Pires foi sempre uma figura "mainstream", a ideia do livro é também "recuperá-lo e recuperar uma figura que - não sendo da esquerda nem do socialismo - foi muito importante na construção da democracia e da integração de Portugal na Europa", explica o autor.

Ser de direita sem medo

No leque de qualidades que assinala, Gonçalo Nuno Poças destaca a forma como Francisco Lucas Pires teve a coragem de assumir as suas preferências políticas numa época em que isso não era pacífico. "Percebeu que era sempre mais importante o produto do que o rótulo".

Ainda assim, não se inibiu: "Foi a primeira pessoa, depois do 25 de abril, que tenha dito na televisão que era de direita e que não havia nenhum mal nisso", recorda.

"Ajudou a afirmar a direita liberal conservadora enquanto setor político com a mesma legitimidade que a esquerda", argumenta o escritor.

Um antecipador de problemas

Europeísta convicto, Francisco Lucas Pires conseguiu, nas palavras do escritor, "antecipar vários riscos" que o continente europeu acabou por enfrentar. Gonçalo Nuno Poças lamenta que não seja possível saber o que pensa agora, uma vez que "muitos dos problemas que temos hoje por resolver foram vistos por ele há muitos anos".

"Em 2024 estamos a discutir muitos dos temas que foram levantados por eles, alguns deles antes do 25 de abril. Foi uma pessoa do seu tempo e para lá do seu tempo", resume assim Gonçalo Nuno Poças, justificando assim a vontade de biografar Lucas Pires, depois de ter publicado um livro sobre Marcelino da Mata, polémico militar português envolvido na guerra colonial e outro sobre as FP-25.

O livro foi apresentado no final de março em Lisboa por duas figuras da política de alas diferentes: Francisco Assis (PS) e Paulo Rangel (PSD).

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