“Não estamos a fazer contas". Pedro Nuno Santos em busca do “melhor resultado possível"

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Legislativas 2024

06 mar, 2024 - 07:00 • Susana Madureira Martins

Em entrevista à Renascença, Pedro Nuno Santos não comenta as declarações do líder do Livre, que admitiu abrir a porta a um diálogo com a "democracia autêntica", mas considera que há áreas em que é "fundamental" o entendimento com a AD.

Em entrevista à Renascença, Pedro Nuno Santos assume que, se formar governo, a privatização da TAP é para avançar, embora o tema nem sequer apareça no programa eleitoral do PS.

Já na reta final da campanha eleitoral para as eleições legislativas de 10 de março, o líder do PS lamenta o "ataque de caráter" que lhe foi feito por Luís Montenegro, que o acusou de não ter estabilidade emocional".

Luís Montenegro disse sobre o PS e sobre si que não tem estabilidade emocional para governar. Tem essa estabilidade emocional ou há episódios políticos passados que podem pesar?

Posso apenas lamentar os ataques de caráter que não ficam bem a ninguém, muito menos a quem está sempre a dizer que só fala dos problemas do país, não fala dos adversários e depois, na prática, acaba por fazer. Tenho respeito pelo meu adversário, como tenho respeito por todos os meus adversários, essa é uma péssima forma de fazer política e de nos relacionarmos uns com os outros.

É o fim da campanha limpa?

Não quero aprofundar mais, sinceramente, porque aquilo que me interessa é falar para os portugueses, mobilizá-los para uma grande vitória no dia 10 de Março e não estar a entrar no mesmo registo que o líder da AD escolheu entrar.

Nesta campanha não falou, ou evitou falar, da esquerda à esquerda do Partido Socialista. Há um pacto de não agressão entre o PS, o Bloco de Esquerda, o PCP e o LIVRE?

Não. O que há é um Partido Socialista concentrado no seu projeto, no seu programa, nos seus candidatos e no seu principal adversário que é a AD. Nunca nos enganámos sobre quem é o nosso principal adversário é e em derrotar a AD que nós estamos concentrados, é só isso.

Isto ajuda depois a um eventual entendimento entre os partidos de esquerda se for preciso?

Não é nisso que estamos a pensar, neste momento. Só estamos a pensar em ter uma vitória que permita ao país continuar a avançar, defender e proteger os serviços públicos ao subir os salários e as pensões. É nisso que nós estamos concentrados e nós sabemos que com o Governo do PS isso é possível, com um Governo do PSD é duvidoso.

Já tirou o Chega da equação da direita. Isto não é perder um argumento do do Partido Socialista contra o próprio adversário?

O nosso argumento é pela positiva. Nós queremos um país, uma economia mais sofisticada, mais vibrante, a pagar melhores salários, conseguir também que os nossos mais velhos tenham melhores pensões, tenham um Estado social mais forte.

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O fantasma do Chega, que é trazido pelo PS desde 2022, desapareceu, entretanto?

Só estava a dizer que não tínhamos perdido nenhum argumento porque o nosso argumento é um argumento pela positiva. Quando nós olhamos para o nosso principal adversário, eles querem aproveitar a estabilidade orçamental e financeira que foi conquistada nos últimos anos para passar borlas fiscais a quem não precisa delas: às grandes empresas, aos que mais têm. E esse não é o nosso caminho. Portanto, nós temos um argumento forte, um argumento pela positiva, de construir futuro e, ao mesmo tempo, temos do outro lado uma direita que quer usar a estabilidade e a boa condição financeira do país para fazer o errado, para servir alguns, não a maioria. Nós queremos servir todos.

Regressando à esquerda, se o Partido Socialista formar governo, se precisar dos partidos à sua esquerda, esses partidos, desta vez, podem entrar governo ou o entendimento que tem é que o melhor é um acordo, tal e qual como o de 2015?

Percebo o esforço, mas estamos concentrados na nossa vitória no dia 10 de Março. Não estamos a pensar nos cenários pós-eleitorais. Nós estamos a dias de terminar esta campanha eleitoral e, neste momento, o nosso grande foco é mobilizar o máximo de votos, garantir que as pessoas não ficam em casa, venham votar para nós conseguirmos ter um governo que permita ao país continuar a avançar e as pessoas continuarem a ter as suas vidas a melhorar, e isso faz-se com o PS. Por isso, nós queremos é que as pessoas venham votar e é por isso que estamos concentrados é no dia 10 de Março, não é nos cenários pós-eleitorais.

O PS e o secretário-geral do PS não acreditam numa maioria absoluta?

Não é acreditar nem deixar de acreditar. Nós estamos com humildade nesta campanha. Humildade é respeitar os portugueses e por isso nós queremos ter o melhor resultado possível.

Luís Montenegro, por exemplo, já disse que está a lutar por uma maioria absoluta...

Já não diz, mas também não me interessa o que o líder da AD diz ou não sobre esse tema. O que me interessa é o que nós dizemos e o que nós dizemos é que, com muito respeito democrático que temos pelos portugueses, queremos ter o melhor resultado possível e é para isso que nós vamos trabalhar, para ter o melhor resultado possível. Nós não estamos a fazer contas. Sabemos que as pessoas têm problemas por resolver, há insatisfação e nós queremos, com humildade, convencer e explicar a essas pessoas que é no Partido Socialista que está a solução. A mudança que é necessária, é uma mudança que não ponha em causa aquilo que conseguimos construir até agora, é uma mudança que passa pelo PS.

Não pode dizer que não está a fazer contas, porque ainda há dias disse que há uma maioria de esquerda maior do que a direita, se se excluir o Chega.

Neste momento só estou concentrado no dia 10 de Março e no resultado do PS. É nisso que nós estamos concentrados. Queremos bater-nos por um grande resultado, porque é a única forma de derrotarmos a AD é com uma vitória do PS, por isso é que eu tenho apelado ao voto dos indecisos no PS.

A semana passada, Rui Tavares, o líder do LIVRE, abria a porta a entendimentos com a direita democrática, ou seja, com esta AD e a Iniciativa Liberal. O Partido Socialista também pensa assim, que com esta direita democrática, depois das eleições, também é possível entender-se?

Voltamos sempre ao mesmo. Estamos concentrados em vencer as eleições do dia 10 de Março. Nós não estamos concentrados em mais nenhum cenário. Fui o único que falei há umas semanas sobre cenários ao meu adversário. Insistiram na pergunta, mas como ele nunca respondeu, também desistiram de continuar a perguntar.

O que lhe estou a perguntar é sobre entendimentos relativos a políticas. O PS quer tenha maioria quer não a tenha, terá de entender-se com o PSD, por exemplo, para a escolha de sustituto da Procuradora-Geral da República...

Com certeza, há áreas em que é fundamental continuarmos a preservar consensos alargados. Na área da política externa, da política de segurança, de justiça, de defesa. As áreas de soberania são áreas em que é preciso que tenhamos todos a preocupação com consensos o mais alargados possível. No que diz respeito a outras áreas, é muito difícil haver entendimentos. Temos visões diferentes do SNS, nós queremos investir no Serviço Nacional de Saúde, dar resposta aos seus problemas sem desistir do SNS, como quer a AD, portanto, são visões diferentes e muito dificilmente compatíveis.

Que opinião tem sobre a saída de cena da Procuradora Geral da República, por sua própria iniciativa?

Não tenho nenhum comentário a fazer sobre isso. É uma opção individual, foi anunciada.

É menos um problema que os partidos - PS e PSD - terão de resolver?

Não sei se é um problema ou não. A questão não é de ser um problema ou não. É um dado que temos agora para tomar uma decisão, depois, em Outubro. É só isso, é um dado novo.

E não tem nada a dizer em relação a esta decisão não querer um segundo mandato?

Não acho que o deva fazer, não é correto, não é o mais acertado para alguém que se apresenta a eleições para ser primeiro-ministro.

Porquê?

Não acho que num contexto em que nós estamos, de campanha eleitoral, se esteja a fazer considerações sobre o trabalho da procuradora. Não acho correto.

O programa eleitoral do Partido Socialista não contempla a privatização da TAP e o tema tem estado arredado da campanha. O que é que vai fazer à TAP? A privatização vai acontecer e em que moldes?

Sempre defendi que a TAP abrisse capital ou parte do seu capital a grupos de aviação privados, porque é muito importante que a TAP não ficasse sozinha no mundo da aviação. O Estado deveria procurar, num processo de abertura do capital, manter a maioria do capital.

Não privatizar não é opção?

Não privatizar nada, não. Não privatizar nenhuma parte do capital, seria errado, porque acho importante que a TAP esteja enquadrada com outras empresas no setor da aviação.

O PS precisa de reconciliar-se com os professores? O líder do PSD diz que precisa de reconciliar-se com os pensionistas. E o PS?

Bem, eu não diria que o PSD tem que se reconciliar só com os pensionistas, porque também não tratou bem os professores enquanto esteve no Governo. Não hà educação de qualidade se não tivermos professores motivados, que se sintam respeitados e valorizados. Isso para mim, é claro, é central ter os nossos professores a sentirem-se bem com a sua profissão, a irem trabalhar com gosto, a sentir que o país os respeita e os valoriza.

Para os professores aposentados falou de incentivar esses professores aposentados para regressarem às aulas durante um período. Que incentivos é que podem ser esses?

Essa proposta é apresentada como uma medida de transição. Nós só vamos conseguir dar resposta à falta de professores quando tivermos uma carreira mais apelativa, que seja capaz de atrair jovens para a carreira docente. Devíamos melhorar os índices remuneratórios dos primeiros escalões e diminuir o hiato entre os primeiros e os outros e o hiato remuneratório entre os primeiros escalões e os outros, tornar a carreira atrativa para conseguirmos atrair mais jovens para a carreira docente.

E em relação aos aposentados?

Temos um problema e devemos recorrer a todas as possibilidades e uma delas é usar um modelo que já usamos no SNS, com os médicos aposentados e, mediante uma compensação monetária, tentarmos recuperar alguns professores que queiram e sintam que estão ainda com capacidade e vontade para dar aulas para durante um período transitório, até nós conseguirmos ter novos professores e não termos falta que é aquilo que temos neste momento e que resulta de opções erradas no passado. Foi durante o Governo da PáF que perdemos quase 28 mil professores e hoje pagamos caro essa desistência.

Se perder estas eleições, qual é o futuro de Pedro Santos? O partido não vai exigir que se demita nem exige isso a si próprio?

Não estou nesse cenário. Estamos mesmo focados em ganhar as eleições e sentimos isso a cada dia, que o povo português quer uma mudança, mas quer uma mudança connosco, quer uma mudança comigo e é nisso que estamos a trabalhar e é só nisso que eu estou focado, em mais nada.

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