Nápoles está rendida a Osimhen, «um espetáculo da natureza»

Três anos e meio depois do Napoli ter feito de Victor Osimhen a contratação mais cara da sua história, com 75 milhões de euros pagos ao Lille, a decisão arriscada parece agora sensata em retrospetiva. Numa fase em que aparenta regressar ao seu máximo, trata-se de um dos melhores e mais valiosos avançados do Mundo.

O nigeriano é um dos craques mais amados pelas ruas napolitanas, onde as figuras desportivas são objeto de culto. Para os devotos, só é superado por D10S, Diego Armando Maradona. E se isso ficou evidente a cada esquina do centro storico, muito mais no interior do estádio. Osimhen marcou o golo do 2-0 frente ao SC Braga, no duelo que nos levou até esta cidade, e levou os tiffosi locais à loucura (embora, como poderá ver no vídeo abaixo, já estivessem bem-dispostos antes da bola entrar).

24 horas antes desse golo, o primeiro contra equipas lusas, esteve em Marrocos para levantar a Bola de Ouro Africana, superando a concorrência de Salah (Liverpool) e Hakimi (PSG). À conversa com o zerozero, Luca Cirillo, jornalista do arenanapoli e especialista em todos os temas azzurros, falou da importância do prémio individual para Osimhen e da importância do jogador para o coletivo.

Vida pós-Spalletti e... TikTok

«Bola de Ouro... A bola mais bonita é a de trapos, de fantasia. Sem dúvida que é merecido, pelo que fizemos na época passada. Para o Napoli e para De Laurentiis é um aspeto positivo, aquela visibilidade que é sempre útil. Acredito que este prémio se possa transformar em novos estímulos para ele, que precisa de uma faísca para se encontrar nesta temporada em que tem sofrido com lesões», começou Cirillo.

«Considerando, friamente, que o Nápoles ganhou o terceiro scudetto da sua história graças aos golos de Osimhen, que se tornou o artilheiro da Série A, e sobretudo ao seu físico transbordante, digo que valeu a pena gastar esse dinheiro. Atingimos uma meta maravilhosa após 33 anos e o Victor foi um espetáculo da natureza no espetáculo técnico-tático criado por Spalletti.» 

qOsimhen e Kvaratskhelia vivem num quebra-cabeças alquímico. No ano do título, houve uma fusão de qualidades e os dois tornaram-se gémeos

Luciano Spalletti é realmente um nome incontornável da bonita história que o Napoli escreveu no ano que está prestes a findar. A saída do técnico foi sentida pelos adeptos e ainda não foi ultrapassada, mas o consolo está na permanência das duas maiores figuras, Kvaratskhelia e Osimhen:

«São meninos muito talentosos que, com os seus colegas e o líder Spalletti, realizaram o sonho de um povo. Dizer qual dos dois é o melhor seria um exercício forçado, porque vivem num quebra-cabeças alquímico. Khvicha é o maior, mas precisa de Victor. Osi é o maior dos dois, mas precisa de Kvara. A nível técnico o georgiano faz maravilhas, a nível físico o nigeriano é uma cascata impetuosa. No ano do título, houve uma fusão de qualidades e os dois tornaram-se gémeos», contou-nos quem acompanhou de perto.

Mas os problemas de Victor Osimhen na nova temporada não foram todos relacionados com lesões ou com a saída do treinador...

Em setembro, o nigeriano falhou uma grande penalidade que custou pontos num jogo com o Bolgna (0-0) e não gostou da reação do clube, que gozou com o próprio jogador num vídeo da plataforma TikTok. O erro de um gestor de redes sociais criou uma enorme polémica que agora, segundo Luca Cirillo, aparenta estar resolvida:

«O episódio é fruto de diferentes nuances culturais e o futebol pouco tem a ver com isso. Osimhen e o clube esclareceram o tema nos dias seguintes, mas foi tudo amplificado pelas divergências contratuais. Ele sublinhou esta semana que foi um erro de uma pessoa que escolheu o momento menos apropriado para brincar e também fez questão de reiterar que o presidente estava ao seu lado.»

Sobre uma eventual permanência a longo-prazo, este napolitano não se ilude. «O Napoli não é um local de desembarque, mas sim de lançamento ou relançamento», diz, sobre o avançado que aos 24 anos leva 66 golos e 10 assistências pelo clube. Questiona as «prioridades» de Osimhen, com uma garantia: «um espírito, ou uma ideia, deve permanecer em Nápoles, independentemente dos intérpretes».