Nova Zelândia classifica como "vergonha" abusos cometidos em instituições

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Criada em 2018 pelo Governo neozelandês, a Comissão Real de Inquérito sobre Abusos na Assistência publicou hoje o seu relatório final de 3.000 páginas, que inclui 138 recomendações, na sequência de testemunhos de mais de 2.400 sobreviventes de abusos, incluindo bebés, crianças e adolescentes, pessoas do povo maori (povo nativo da Nova Zelândia) e pessoas com deficiência.

No relatório final, o Estado neozelandês é instado a abordar urgentemente a "vergonha nacional" pelo abuso de mais de 30% das 655.000 crianças, jovens e adultos que estiveram ao cuidado de instituições públicas e religiosas durante o período investigado, de 1950 a 1999.

"Este relatório sobre a história negra da Nova Zelândia é perturbador e difícil de ler, mas devemos aos sobreviventes que tão corajosamente partilharam as suas histórias o confronto com o que aconteceu", afirmou a presidente da comissão, Coral Shaw, por ocasião da divulgação do documento.

A comissão apelou à responsabilização das instituições públicas e religiosas pelos abusos "generalizados" e à correção dos erros através de um pedido público de desculpas e de um maior acesso dos sobreviventes ao sistema judicial, entre outras medidas.

"Nunca saberemos o número real", destacou o documento, que relata abusos sexuais, emocionais, médicos, físicos e mentais, atos de exploração grave e de negligência, bem como atitudes racistas, sexistas, homofóbicas e transfóbicas dos abusadores, que ocupavam posições de poder em relação às pessoas que necessitavam de apoio.

O primeiro-ministro da Nova Zelândia, Christopher Luxon, declarou hoje que o parlamento "aceita, com profunda tristeza e pesar" o relatório final da Comissão Real.

"Não posso tirar-vos a dor, mas posso dizer isto: Vocês são ouvidos e acreditamos em vocês", disse Luxon, num discurso citado no 'site' do Governo.

Na mesma intervenção, o governante agradeceu "a força excecional, a incrível coragem e a honestidade" dos sobreviventes, alguns dos quais presentes na cerimónia de entrega do documento.

Entre os testemunhos citados no documento está a história de PM, que foi violado, juntamente com um colega de turma, por um supervisor do programa para jovens Whakapakari, na ilha Great Barrier, no final da década de 1980, quando tinha apenas 12 anos.

No seu relato, PM conta ter sido ameaçado pelo supervisor com uma arma e que toda a situação foi "demasiado dolorosa".

"Tivemos de ficar lá a noite toda. O que aconteceu naquela cabana foi fétido", relatou.

Também citada no documento, Ann Thompson, outra sobrevivente cuja mãe a entregou em 1941, pouco depois do seu nascimento, a um orfanato em Christchurch, na sequência de uma violação, recordou ter sido espancada até sangrar e insultada pelas freiras, que repetiam que ela tinha "nascido num esgoto".

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