OPINIÃO | Desprestígio

2 horas atrás 18

"A Preto e Branco” é uma coluna de opinião que procurará reflectir sobre o futebol português em todas as suas vertentes, de uma forma frontal e sem tibiezas nem equívocos, traduzindo o pensamento em liberdade do seu autor sobre todas as questões que se proponha abordar.

O futebol é uma modalidade tão fácil, mas tão fácil mesmo, que qualquer criança de tenra idade o consegue jogar- basta para isso dar-lhe uma bola. Essa aura de facilidade que caracteriza a modalidade só é abandonada quando resolvem complicá-la e tornar difícil aquilo que nunca deveria ser.

E nessa matéria há que reconhecer que FIFA, UEFA, algumas federações nacionais e algumas ligas de clubes são absolutamente exímias. Atentemos em três exemplos mais ou menos recentes.

O Mundial de Clubes a disputar no próximo ano nos Estados Unidos na sua edição inaugural é uma prova que assenta essencialmente na ganância por dinheiro da FIFA, de algumas confederações e federações. Obviamente, também, dos clubes que o vão disputar, mas que não desperta qualquer entusiasmo nos adeptos e causa fundamentados receios em jogadores e treinadores. Mais uma sobrecarga de jogos para atletas que já disputam jogos a mais, com todos os riscos físicos que isso acarreta.

Dando de barato que esse mundial vai ser disputado por alguns dos melhores clubes - essencialmente da Europa e da América do Sul -, é sabido que os jogadores desses clubes já estão sobrecarregados com jogos das competições nacionais e internacionais, não esquecendo as seleções E por isso, naturalmente, todos os receios existentes quanto ao perigo que mais essa competição representa para os jogadores.

A verdade é que ao contrário do que a FIFA esperava, a competição não só não entusiasma os adeptos, como também não entusiasma eventuais patrocinadores. As cadeias televisivas que não estão dispostas a pagar aquilo que a organização pede para assegurar os direitos de transmissão.

Face a isso, que fez a FIFA?

Arranjou maneira de o Inter de Miami, um clube absolutamente irrelevante no futebol mundial, ser convidado para o torneio quando nem sequer campeão dos Estados Unidos.  Apenas e só porque lá joga Messi e Messi é o filho querido da FIFA, como prémios forçados e títulos apadrinhados bem comprovam.
Se a FIFA queria desprestigiar ainda mais algo já sem prestígio, está de parabéns!

Passemos ao futebol nacional onde o “complicómetro” está permanentemente ligado.

Na bola indígena - por razões mais justas ou menos justas -, mas com bastantes razões para isso é certo, a classe ligada ao futebol que suscita maiores desconfianças, maiores polémicas e maiores suspeitas é a dos árbitros.

Porque tem um poder importante dentro dos relvados, e agora também no VAR, que se mal usado pode decidir jogos, e campeonatos até, e porque a polémica em seu torno é diária fruto dos programas televisivos e das opiniões publicadas em jornais e redes sociais. Mas também, lamento dizê-lo, porque muitas das suas decisões ao longo dos anos e com múltiplos protagonistas têm sido erradas, às vezes muito erradas e prejudicando gravemente a verdade desportiva de muitos jogos e alguns campeonatos.

Com um padrão claro de benefício a Benfica, Porto e Sporting e prejuízo claro dos restantes clubes que os defrontam.

É pois num cenário desses que se assiste a algo que não se vê em mais nenhum outro país europeu e, menos ainda, em qualquer uma das principais ligas e federações.

Em Portugal temos um antigo árbitro a presidir à Liga de clubes, onde tem pautado a sua ação por ser fraco com os fortes e forte com os fracos, contribuindo para alargar as já de si grandes assimetrias entre os três clubes referidos e os restantes. 

Não contente com isso, está em preparação para presidir à FPF com o apoio inexplicável de associações e clubes.

E temos outro ex-árbitro em plena campanha pré-eleitoral para ascender à presidência da liga, o que a ser realidade significará que os dois principais rostos da organização do futebol profissional em Portugal (Federação e Liga) serão dois antigos juízes.

Algo que, face à imagem que a arbitragem tem neste país, será um inevitável fator de desprestígio para o nosso futebol e uma raridade em termos europeus muito difícil de compreender e aceitar,  sem sequer tecer considerações sobre méritos e deméritos de ambos.

Sem entrar em detalhes sobre as carreiras desses dois antigos árbitros, direi apenas que espero que jamais o meu clube, Vitória Sport Clube de seu nome, por respeito por si próprio, apoie qualquer candidatura à LPFP de um deles. Nem à Liga nem a nenhum cargo no mundo do futebol. Não merece!

Falo, para que não haja qualquer dúvida, de Artur Soares Dias.

A terminar, a Taça da Liga, que tem mais uma edição à porta.

É uma prova sem prestígio, maquinada em termos de regulamento para ser sempre ganha por um dos três da vida airada (Moreirense, Braga e Vitória Futebol Clube foram as honrosas excepções) e que tem na edição deste ano uma agravamento do desprestígio quando a Liga decidiu, com a inexplicável cumplicidade da maioria dos clubes, que seria disputada apenas por oito deles ficando todos os restantes a verem passar navios.

Ou seja, a taça da liga não é de toda a liga, mas apenas de oito clubes. Sui generis!

Os seis primeiros classificados da primeira liga da temporada passada mais os dois que subiram da II divisão, mas com o habitual cuidado de antes da “Final Four” se terem tomado  todas as providências regulamentares  para que os três do costume mais o quarto joguem os quartos de final em casa.

Pode ser que tenham azar e a “Final Four” não seja bem o que esperam e desejam.

De qualquer forma, como pode ser presidente da FPF quem à frente da LPFP já mostrou ter esta visão parcial e sectária do futebol?

E por isso termino elogiando, porque absolutamente justa, a posição tomada pelas claques de alguns clubes (que parece gostarem mais do futebol que os dirigentes da liga e dos seus próprios clubes) ao decidirem boicotar a próximo edição da taça da liga. Em causa, a forma como esta se disputa e muito em especial contra a anunciada intenção de no futuro a “Final Four” ser disputada no estrangeiro, à revelia da defesa dos interesses dos adeptos que são a principal razão de ser do futebol.

“White Angels”, “Insane Guys” e “Grupo 1922” do Vitória Sport Clube, mais as claques de Porto (Superdragões e Colectivo 95), Moreirense (Green Devils), Sporting (Juve Leo, Torcida Verde, Directivo XXI e Brigada Ultras), Braga (Red Boys e Bracara Legion), Nacional (Armada Alvinegra), Santa Clara (Armada Vermelha) e Associação Portuguesa de Defesa do Adepto subscrevem o protesto.

Ele sim, prestigia o futebol português e contribui para a sua defesa, ao contrário de muitos que nele andam e nem o servem nem o defendem, como é sua obrigação face aos cargos para que foram eleitos. 

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