Personalidade internacional: Inteligência artificial

8 meses atrás 85

Inteligência Artificial
"Eu sou o ChatGPT, um modelo de linguagem desenvolvido pela OpenAI. A minha função é ajudar a responder perguntas e fornecer informações sobre uma variedade de tópicos. Posso ajudar com dúvidas, gerar texto, oferecer sugestões e muito mais. Como um programa de computador, não tenho uma identidade própria, emoções ou consciência. Estou aqui para ajudar da melhor maneira possível."

É o imaginário coletivo tornado realidade: falar com um robô e ele responder em linguagem natural, coloquial até, como se fosse uma interação humana. E que pode contar anedotas ou sugerir um restaurante ou um presente para um amigo. Mas imaginar e construir uma máquina que consiga imitar e até rivalizar com o ser humano já vem de longe.

Consegue identificar o autor desta frase: "O que queremos é uma máquina que possa aprender com a experiência"? É de 1947, daquele que pode ser considerado o pioneiro da IA, Alan Turing, o matemático britânico que acreditava ser possível construir um mecanismo que conseguisse replicar o intelecto humano. Até agora tal não foi conseguido, mas não quer dizer que seja impossível. É apenas uma evidência da dificuldade.

Mas desde que a OpenAI - um consórcio privado norte-americano de desenvolvimento da IA - lançou em novembro de 2022 a plataforma ChatGPT, que se tornou um produto acessível não apenas a um punhado de empresas de grande dimensão, mas a qualquer pessoa com um computador e ligação à internet, ou seja, 66% da população mundial.

O que faz desta "revolução" algo completamente diferente de anteriores vagas de entusiasmo tecnológico? Há um novo tecno-otimismo, não só que gira em torno da inteligência artificial, mas de toda a capacidade de evolução do hardware, com os novos microchips. A primeira explicação é, precisamente, a massificação da plataforma. E logo nos dias seguintes ao seu lançamento. Nos primeiros dois meses após o lançamento, atingiu os 100 milhões de utilizadores, registando a taxa de registo mais rápida de aplicações dirigidas aos consumidores. Por exemplo, o TikTok demorou nove meses a atingir esta marca e o Instagram dois anos e meio.

Mas esta nova vaga não se resume a uma invenção em particular ou uma máquina específica, como nas revoluções anteriores: a primeira revolução industrial, com o vapor, iniciada na segunda metade do século XVIII; a segunda revolução industrial, com o automóvel, o avião, a rádio e o televisor, que abrange o período entre meados do século XIV a primeira metade do século XX; e a terceira revolução que, mais do que industrial, envolve quase todos os quadrantes da sociedade, com a integração da ciência na produção e os avanços técnicos. Nesta revolução temos uma nova característica: a disseminação geral (e gratuita, na maior parte dos casos) da tecnologia.

Já não se trata de grandes empresas com grande capacidade de investimento e investigação a deter o monopólio de uma tecnologia. Agora todos podem aceder a ela, integrá-la na sua produção e obter melhores resultados.

Tudo, em todo o lado, ao mesmo tempo

É esta característica diferenciadora que faz da IA uma tecnologia que pode desequilibrar o xadrez do poder, para o bem e para o mal. Se por um lado, a IA ajuda a melhorar processos de produção, também pode ajudar a manipular dados, com uma capacidade quase infinita de análise. Vejam-se os bots nas redes sociais "disfarçados" de utilizadores reais. Ou a produção de imagens falsas. Tudo já acontecia, mas agora a um ritmo inimaginável, quase impossível de acompanhar. Com os respetivos vencedores e perdedores.

A IA está em todo o lado: nos telemóveis, nos computadores, no trabalho, moldando processos de produção. No marketing já é uma ferramenta essencial de análise de comportamentos dos consumidores; na saúde com a integração em sistemas de diagnóstico e recolha de dados dos pacientes. Na academia e até na agricultura. A IA afeta toda a vida em sociedade, incluindo a segurança, a política, a cultura e a ciência.

E o legislador não está a conseguir acompanhar o ritmo de avanço quase diário desta nova tecnologia. É certo que a União Europeia (UE) conseguiu chegar a acordo para a primeira lei mundial sobre regulação da IA. Trata-se de um quadro legislativo que "visa garantir que os sistemas de IA implementados e utilizados na UE são seguros e respeitam os direitos fundamentais e os valores europeus". Mas, como toda a legislação, não consegue prever o que acontecerá no futuro, é provável que ainda sofra alterações em breve. Mas os EUA, ainda estão a tentar encontrar um texto comum de acordo sobre a matéria.

O impacto económico

Muito se tem escrito sobre o impacto económico da IA, sobretudo no mercado laboral, com a destruição de postos de trabalho. Mas como aconteceu em anteriores revoluções industriais - pensemos no movimento ludista do final do século XIX - há quem antecipe ganhos profundos na produtividade, ou seja, a capacidade de fazer mais com menos ou os mesmos recursos.

É provável que se assista a uma destruição de postos de trabalho, mas a transformação será mais lenta do que os neoludistas antecipam, podendo permitir a reconversão desses trabalhadores. Travar estes avanços será como tentar parar o vento com as mãos. Mas será necessária regulação forte e implacável por parte dos países, se possível, num consenso mundial o mais alargado possível, com formas de compensação de empregos destruídos.

Mas sabemos como o histórico dos economistas para prever o futuro é, digamos, bastante frágil, como lembrou o prémio Nobel da Economia, Paul Krugman. E os dados sobre produtividade nas duas últimas décadas não têm sido brilhantes, apontando para ganhos decrescentes do avanço tecnológico, pelo menos nos EUA.

O futuro está constantemente a chegar, parafraseando uma frase do livro "Máquinas como Eu", de Ian McEwan e "os nossos brilhantes brinquedos novos enferrujavam mesmo antes de os conseguirmos trazer para casa e a vida continuava como dantes." Aguardemos pelo que chega amanhã.

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