Rap PT — Dicas da Semana #164

11 meses atrás 160

Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.

De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça. Por dentro e por fora.


[Majestic T.K.] “Escafandro”

“Escafandro” inaugura um novo capítulo na jornada de Majestic T.K.. O rapper que continua a dar cartas trunfadas na Liga Knockout tem um novo álbum pronto a ser divulgado, quase cinco anos depois do seu último trabalho editorial, Sagui. O seu percurso, não obstante as suas capacidades técnicas inegáveis, tem sido particularmente sinuoso, por uma série de razões assumidas desde logo pelo próprio. Um Artista da Fome — com inspiração directa na obra de Franz Kafka — representa, por isso, um sopro criativo final de quem tantas vezes se viu sufocado. E poderá ser mesmo esse derradeiro sopro que lhe virá a trazer um fôlego renovado.


[ELIOT] “V”

O sucessor de DIAS DEPOIS parece, a julgar pelos singles que ELIOT tem lançado nos últimos dias, apontar para paisagens sonoras bem diferentes. O que não significa que este lhe seja um registo improvável. Na verdade, a vertigem poética já lhe era evidente — e daí à urgência rítmica vai um salto de perna curta. Resta saber que mais voltas nos reserva em AVESSO.


[Crate Diggs x Parker] “Rifas”

Parker é dos auto-suficientes e até faz desse método de trabalho regra. Mas não se nega a uma boa excepção quando do outro lado do binómio rapper-produtor está alguém como Crate Diggs. Assim, em “Rifas”, o autor de como foguetes entre estrelas foca-se nas rimas e deixa as batidas para quem também as sabe. Aliás, quem chamou o rapper à colação foi o próprio co-fundador da dupla Soul Providers, que tem um novo trabalho a solo em mãos: chama-se Nítido e merece uma escuta em equivalente alta definição.


[Farrusco x Chapz] “When I Walk”

Mal a voz samplada entra em cena, ainda antes dos próprios protagonistas em causa, já Romeu Rocha nos convenceu para a sua banda sonora. Assim, claro que fica mais fácil dois bons rapazes como estes darem as suas deixas com toda a naturalidade, mas Farrusco e Chapz já têm vindo a contracenar sob outras telas musicais. E quando eles andam a passo sintonizado, deixam tudo e todos em sentido.


[L-ALI] “Galope”

Os cabelos já não lhe caem ombros abaixo como nos fez crer na última sexta-feira, no arranque da sua actuação no Musicbox. Mas “Galope” conserva essa imagem que durante tanto tempo fez parte da identidade do multi-facetado L-ALI. “Às voltas em editoras / Eu escalo em tornado” atalha o caminho suis generis do autor de Balanço, que apresentou o seu mais recente trabalho a meias com Lunn num concerto ilustrativo dessa metamorfose constante. E a galope vai deixando um rasto tão exemplar quanto irrepetível.


[Prizko] “Raios Gama”

A dinâmica de grupo dá sempre azo a diferentes favoritos entre os respectivos membros, e deste lado sempre assumimos um carinho especial por um dos elementos menos vistosos do colectivo GROGNation. Não que houvesse uma hierarquização dos cinco fantásticos de Mem Martins, até porque — por muito clichê que possa soar — a união era realmente a força deles. Mas, tendo em conta os desenvolvimentos a solo de cada um, essa diferenciação de patamares poderá vir à baila num presente pouco ou nada retrospectivo. Felizmente, Prizko diz “presente” com “Raios Gama” e volta a dar sinais de vida ao seu próprio canal, com uma faixa que reacende a esperança de um projecto seu a solo. Raios queiram…


(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)

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