Reportagem no Bairro do Zambujal. "Perdem a razão ao fazer isto"

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22 out, 2024 - 09:20 • João Cunha

Os habitantes no Bairro do Zambujal, onde residia o homem abatido a tiro pela PSP na madrugada de segunda-feira, saíram esta manhã à rua para ver de perto os efeitos dos distúrbios provocados na última noite por cerca de 30 pessoas.

Caixotes do lixo queimados nas ruas e cruzamentos do bairro, pelo menos uma paragem de autocarro destruída e dezenas de pedras no meio das ruas. São alguns dos efeitos visíveis dos distúrbios da última noite no Bairro do Zambujal, provocados por cerca de 30 pessoas, para protestar pela morte, na madrugada anterior, de um homem de 43 anos, residente no bairro.

O homem em causa não terá respeitado uma "operação STOP" e terá resistido à detenção, depois de se despistar numa das ruas do Bairro Cova da Moura. Alegadamente, terá tentado agredir os agentes com uma arma branca. Na resposta, atingiram-no a tiro.

Perto das oito da noite, instalou-se o caos, com caixotes do lixo incendiados e outros virados ao contrário, de forma a travar a entrada das autoridades no bairro do Zambujal.

Os bombeiros foram chamados para apagar as chamas, mas tiveram de pedir apoio policial, ao terem sido mal recebidos por alguns moradores. E foi nessa altura que alguns polícias foram apedrejados, tendo sido necessário um reforço policial, no caso, com equipas de intervenção rápida da PSP e elementos da Unidade Especial de Polícia.

Nesta manhã de terça-feira, lá estavam as pedras, às centenas, bem como como os caixotes, incendiados, com muito lixo espalhado pelas ruas, para gáudio de gaivotas, pombos, cães e gatos.

A polícia, entretanto ,deixou o local, mas, pelo menos por duas vezes, uma carrinha com agentes numa viatura descaracterizada circulou pelo bairro.

Numa das paragens na Estrada do Zambujal, que atravessa parte do bairro e onde se registaram mais incidentes, muitos residentes perguntavam-se se os autocarros ainda circulavam, dado o estado das ruas.

"Acho que há pouco vi passar um para Algés", dizia uma das residentes no bairro, que confessava que não gostava de ali viver. Tem uma habitação social, "com uma renda pequenina", e lamenta que, mesmo tendo razão para protestar tenham optado por destruir e queimar.

"Perdem a razão ao fazer isto", diz, enquanto aponta para um monte calcinado de caixotes do lixo, completamente derretidos devido á intensidade das chamas. E para o lixo espalhado, ali ao lado, que as gaivotas e pombos insistem em escrutinar, à procura de alimento.


"Os vidros de minha casa estavam quentes", adianta uma outra moradora, também à espera do autocarro, que acrescenta que viu vizinhos "a borrifar os estores, de plástico, com água, para que não derretessem".

Para alguns dos moradores, foi excessiva a forma como a polícia atuou. E expressaram essa opinião num dos cafés do bairro, aberto às primeiras horas da manhã.

"Vi três policias, de coletes e escudos de proteção, a correr com uma senhora que só queria ir para casa", explica o condutor de uma viatura comercial que, depois de estacionar em segunda fila, entrou para beber um café e comprar tabaco.

Ao balcão, o proprietário do café confessava que não está a ver Odair, o homem morto pela policia, a sair de um carro com uma arma branca na mão, para atacar polícias.

"Não... Eu conhecia-o, ainda na semana passada aqui esteve, a almoçar com a mulher e o filho. Nunca o vi em problemas", adianta, enquanto coloca no balcão mais um pires com colher e pacote de açúcar enquanto se prepara para tirar mais um café.

Contudo, admite que, "com o álcool, um homem transforma-se", dando o seu próprio exemplo, sempre que bebe demais.

De novo na rua, uma residente num edifício próximo bate a porta do prédio de mão dada com a filha, com 6 ou 7 anos, a quem tenta explicar por que razão a paragem de autocarro próxima está destruída e o lixo queimado, no meio da rua.

"Tentamos explicar-lhes como podemos e sabemos", diz a mãe. Foram os meninos "que se portaram mal". E a polícia "também não esteve melhor", explica a mãe, enquanto abre a porta do carro para a menina entrar e a levar à escola.

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