O custo que a TAP teve a transportar cada passageiro nos primeiros três meses do ano (dividido pelos quilómetros da rota) foi de 5,26 cêntimos, um cêntimo abaixo da receita gerada por esse mesmo passageiro (6,25 cêntimos). Juntando o combustível, esse custo total sobe para 7,30 cêntimos.
O primeiro trimestre do ano é, tradicionalmente, fraco para as companhias de aviação. As vendas relacionadas com a época festiva (dezembro do ano anterior) abrandam e sobem os custos (por exemplo relacionados com pessoal, com aumentos ou entrada em vigor de acordos de empresa). A TAP e os três grupos que a querem comprar – a Lufthansa, o grupo IAG (Bristish Airways e Iberia) e a Air France/KLM – registaram quebras na sua folha de resultados. Mas nem todos foram afetados da mesma maneira. E as diferenças ajudam a explicar o estado de saúde de uns e de outros.
Entre estas quatro entidades, a TAP foi que teve uma maior degradação do seu resultado operacional (EBIT) até final de março, passando de -16,3 milhões para -57,1 milhões, um agravamento de 250%. Sendo um dos KPI mais importantes de uma empresa, o EBIT na aviação permite aferir a capacidade (ou incapacidade) da empresa de gerar receita a partir das suas actividades core. Graças a essa descida, a margem EBIT (no fundo, quanto lucro é que a companhia produz em cada euro gerado nas vendas, depois pagar salários e outros custos, mas antes de juros ou impostos) passou de -2% de janeiro a março de 2023 para -6% no mesmo período deste ano.
Num comunicado sobre os números divulgado na sexta-feira, a TAP classificou os seus resultados operacionais como “resilientes”. “Apesar da diminuição face a 2023, a TAP registou, no primeiro trimestre de 2024, um EBITDA recorrente de 83,7 milhões de euros e um EBIT recorrente negativo de 43,3 milhões de euros, mas significativamente superiores aos níveis pré-crise de 2019 (EUR 5,5 milhões e EUR -99,3 milhões). Estes resultados confirmam o nosso compromisso, mantendo uma abordagem equilibrada, de proporcionar valor consistente ao nossos stakeholders”. Incluíndo os itens não recorrentes, o EBIT totalizou -57,1 milhões de euros.
A seguir à TAP, a maior queda no lucro operacional entre as quatro analisadas foi a da Air France/KLM. O grupo francês registou um EBIT de -489 milhões de euros no primeiro trimestre, uma descida de 157% face aos -183 milhões do mesmo período de 2023. Já a Lufthansa registou um tombo de 67% no lucro operacional (passando dos -381 milhões de euros de janeiro a março de 2023 para os -641 milhões de euros este ano).
A exceção neste indicador foi mesmo o grupo IAG (que engloba a British Airways e a espanhola Iberia), cujo lucro operacional passou de 9 milhões de euros para 68 milhões.
Olhando para o lado das receitas operacionais, a TAP registou uma ligeira melhoria até março face a 2023. As receitas operacionais, escreve a companhia, totalizaram 861,9 milhões de euros, “aumentando em 3,1% em comparação com o primeiro trimestre de 2023, ultrapassando e representando 140% das receitas operacionais do primeiro trimestre de 2019, impulsionadas principalmente pelas receitas do segmento de passageiros”. Ou seja, estas receitas registaram um aumento de 37,2 milhões de euros (+5%) face ao primeiro trimestre de 2023, para 774,7 milhões de euros.
Tudo somado, a TAP está a gerar uma receita por passageiro (por assento disponível e quilómetro) de 6,25 cêntimos, um aumento de 1,2% (0,07 cêntimos) face aos primeiros três meses de 2023 e de 28,0% (1,37 cêntimos) em relação a 2019. O problema está no outro lado da equação: os custos.
Segundo a TAP, os custos operacionais recorrentes atingiram 905,2 milhões de euros, um aumento de 7% face ao primeiro trimestre de 2023. Recorde-se que a receita operacional cresceu 3,1% (olhando apenas para a receita com passagens aéreas o crescimento foi de 5%), mas abaixo do aumento dos custos. Só o custo com aumento de pessoal (70 milhões) foi quase o dobro do crescimento das receitas com passagens (37 milhões). A quebra de 12 milhões de euros na receita de “carga e correio” também prejudicaram o resultado final.
A própria companhia aponta o “aumento dos custos com o pessoal (70,5 milhões, uma subida de 56,9%)” como o principal responsável pelo aumento dos custos, explicando que se deve, entre outros aspetos, aos “novos acordos de empresa”. Mas ao contrário das outras componentes (nomeadamente da receita) que, segundo a TAP; estão melhor do que no pré-pandemia, os custos estão piores do que antes. “Quando comparado com o mesmo período de 2019, os custos operacionais recorrentes aumentaram 27%, principalmente devido ao aumento dos custos com combustíveis e custos com o pessoal. O CASK total de custos operacionais recorrentes aumentou 3,1%, atingindo 7,30 cêntimos, quando comparado com o primeiro trimestre de 2023”, adianta a TAP.
Mas isso é com o factor combustível. Excluindo custos com combustíveis, o CASK (custo por cada passageiro transportada a dividir pelos quilómetros da viagem) de custos operacionais recorrentes atingiu 5,26 cêntimos. Ou seja, aumentou 10,3% face ao primeiro trimestre de 2023 e 2,8% face ao primeiro trimestre de 2019, antes do plano de reestruturação que implicou ajudas do Estado português à TAP de 3,2 mil milhões de euros (em troca de um plano de corte salarial e de slots temporário na companhia). Importa salientar que a companhia tem hoje mais 500 trabalhadores (para um total de 7.623 funcionários) do que tinha no final dos três primeiros meses do ano passado.
Ou seja, excluindo custos com combustíveis, o custo que a TAP teve a transportar cada passageiro nos primeiros três meses do ano (dividido pelos quilómetros da rota) foi de 5,26 cêntimos, um cêntimo abaixo da receita gerada por esse mesmo passageiro (6,25 cêntimos). Mas juntando o combustível, esse custo total sobe para 7,30 cêntimos.
Por exemplo, no mesmo período a Lufthansa também contratou mais 2.600 funcionários. Mas o seu custo por passageiro e quilómetro (CASK) subiu 2,9%, não os 10,3% da TAP. O CASK da IAG no período em análise subiu 3,7% (com uma subida das receitas superior: 4,4%). Em fazendo as mesmas contas que foram feitas para a TAP, a Lufhansa ganha 8,4 cêntimos e gasta 7,3 cêntimos por cada passageiro transportado, enquanto a IAG ganha 7,34 cêntimos e gasta 5,96 cêntimos, isto apesar de um aumento de 14,3 dos custos com o pessoal, devido “ao timing dos acordos salariais no grupo, que ocorreram após o primeiro trimestre de 2023”.
No comunicado que acompanha os resultados do primeiro trimestre, o CEO da TAP, Luís Rodrigues, deixou, no entanto, uma nota positiva, salientando que está em curso um processo de “transformação estrutural” que culminará em lucros. “No primeiro trimestre de 2024 continuámos o processo de transformação estrutural que a TAP exigia. O investimento nas nossas pessoas, incluindo o fim dos cortes salariais, correções da elevada inflação e os novos acordos de empresa, têm um impacto imediato no resultado, mas os benefícios continuarão a materializar-se”, sublinhou.
“Tivemos a capacidade de aumentar a oferta, transportar mais passageiros e melhorar as taxas de ocupação quando comparado com o primeiro trimestre de 2023, o que se traduziu em aumento da receita, enorme redução de irregularidades, melhoria da pontualidade e regularidade numa infraestrutura aeroportuária altamente congestionada. Isto traduziu-se igualmente num salto no Índice de Satisfação do Cliente. Confiamos totalmente nas nossas pessoas e sabemos que vamos estar à altura do Verão forte com um significativo aumento de frequências para o Brasil e América do Norte. O nosso foco e empenho mantêm-se: estabelecer a TAP como uma companhia sustentadamente rentável e uma das companhias mais atrativas da indústria para todos os nossos stakeholders”, concluiu.