O loiro que saltou da Luz para ser amado em Bergamo

É o Sporting o adversário da Atalanta esta quinta-feira, no entanto, foi do Benfica que chegou à Lombardia um dos jogadores mais marcantes na história do clube: Glenn Stromberg.

A passagem do craque de cabelos loiros pela Luz foi curta, mas deixou saudades e títulos para o museu. Seguiu-se a saída para o poderoso campeonato italiano para assumir o estatuto de ídolo em Bergamo. 

Pela qualidade, mas também pela personalidade especial, o sueco tornou-se figura de culto no país. Resistiu aos baixos momentos e a comentários infelizes, ajudou a Deusa a reerguer-se e saiu pelo próprio pé: amado, recordado e com estatuto de lenda. Conheça mais sobre esta figuraça!

«Se eu pedisse um Gin, o Stromberg pedia três»

Não podemos abordar o percurso do antigo internacional sem fazer referência a um nome: Sven-Goran Eriksson. O histórico treinador foi peça fundamental no desenvolvimento de Stromberg, com enorme impacto no arranque e crescimento da carreira do médio.

Foi com Eriksson que Stromberg ganhou minutos e protagonismo no IFK Goteborg, que juntou de forma fantástica troféus internos a uma conquista surpreendente da Taça UEFA. Pelas mãos do mesmo homem chegou a oportunidade de rumar ao Benfica em janeiro de 1983 e conquistou o estatuto de primeiro sueco e envergar a camisola das águias.

Em temporada e meia de passagem pela Luz, destaque para a presença em uma final europeia, além da conquista de dois campeonatos da I Divisão e uma Taça de Portugal. 

Exuberante fora do campo, uma máquina física dentro. Uma das muitas peças de um Benfica arrojado e apontado por muitos como uma das grandes equipas da história do clube, num Portugal a abrir as portas a jogadores internacionais. Uma peça de impacto e acarinhado pelos colegas de balneário, como relata Carlos Manuel.

«Se pedisse um Gin, o Stromberg pedia três (...) Tinha um poder físico impressionante, além da capacidade técnica. No primeiro treino, a correr de baliza a baliza, ele desapareceu e deixámos de o ver. Não dar uma volta de avanço já era muito bom para nós.»

«Os nórdicos são muito sérios no trabalho. Podiam cometer excessos fora, mas no trabalho nada a apontar. Concentração total. Uma cultura muito boa nesse aspeto. O Stromberg tinha também a curiosidade de jogar com tabaco de mascar na boca, com um sabor horrível», revelou sobre o antigo companheiro em conversa com Rui Miguel Tovar, na Rádio Renascença.

Il Vichingo, Il Capitano

O prestígio do campeonato italiano levou Stromberg a deixar a residência em Cascais e o sol português em 1984. A constelação de craques na Serie A e um bom contrato, acreditamos, argumentos fortes para rumar à Atalanta. O início de uma bonita relação.

Pela ética de trabalho, a intensidade e o rendimento, o sueco não demorou a conquistar o carinho dos tifosi da Deusa. Numa Itália conservadora, bateu de frente com comentários provocadores e rumores devido à sua exuberante aparência - chegou a ser apelidado de Marisa -, com a resposta a ser dada dentro do campo. Os dois golos apontados à Squadra Azzurra campeã do Mundo, quando ainda representava o Benfica, talvez não tenham sido a apresentação mais simpática.

A nível coletivo, a Atalanta caiu ao segundo escalão, mas Stromberg não abandonou o clube. Contribuiu para o regresso dos Nerazzurri à elite e bons anos competitivos, já com a braçadeira de capitão envergada. De contrato na mão para renovar, optou por terminar a carreira no auge aos 32 anos. Até nisto diferente.

Apenas recentemente foi ultrapassado como estrangeiro com mais jogos disputados na equipa, prova de impacto e dedicação. Mais de 30 anos passaram desde a última partida naquelas cores, mas continua a ser alvo de homenagens constantes, incluindo uma linha de roupa, canecas e outros adereços vendidos de forma oficial pela Atalanta.

Por razões logísticas, a conversa entre o sueco e o zerozero ficou para outro momento. Ficam entregues, porém, o abraço a «todos os amigos portugueses» e os fortes de desejos de uma vitória da Atalanta esta quinta-feira. Um cromo dos bons, 80´s style.