Portugal Fresh diz que a sociedade olha para o sector agroalimentar como “envelhecido e parado no tempo”

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A Portugal Fresh continua a rumar a novos mercados para mostrar o que de melhor se faz em Portugal. Exemplo disso foi a última viagem ao Brasil, onde a agricultura pesa 25% do PIB. Além da abertura de portas para novas geografias, o presidente da associação, Gonçalo Santos Andrade, quer mostrar que o agroalimentar português produz com qualidade e tem vantagem competitiva.

A Portugal Fresh rumou recentemente até ao Brasil. Qual a importância deste mercado para o sector nacional?

O Brasil é um destino muito importante para alguns dos produtos portugueses, como a pera rocha, a maçã ou a ameixa, e é um mercado que conhece bem o nosso país. Nesta primeira edição da Fruit Attraction em São Paulo, marcaram presença cinco empresas que já têm laços de exportação ou importação no Brasil e que pretendiam reforçar parcerias.

Ao mesmo tempo, Portugal também funciona como porta de entrada na Europa para produtos brasileiros, como a manga, o mamão, o abacate, o abacaxi ou uva, por isso, estamos perante dois parceiros de longa data com muito potencial para reforçar uma abordagem “win-win”, com vantagens para ambos.

O objetivo da Portugal Fresh com esta presença foi mostrar a enorme diversificação que tem, hoje, o sector agroalimentar português e o seu potencial de crescimento.

O Brasil ocupa a nona posição entre os principais mercados de exportação das nossas frutas, legumes e flores. Em 2023, Portugal exportou para o Brasil 57 milhões de euros, o que equivale a 2,5% do total das exportações nacionais deste sector. No ano passado, as vendas internacionais atingiram um novo recorde de 2.303 milhões de euros e a União Europeia foi o principal destino.

Numa geografia como esta, qual o potencial de crescimento de Portugal nesta indústria?

Com 212 milhões de consumidores, o Brasil é o maior mercado da América Latina, o maior produtor da região e o terceiro maior do mundo, com mais de 40 milhões de toneladas produzidas anualmente. A agricultura pesa 25% do PIB. É, por isso, um destino estratégico. Ao mesmo tempo, é uma porta de entrada para outras geografias da região, com um potencial de crescimento muito importante. Como produzimos em contraciclo com o Brasil, há inúmeras oportunidades que devemos aproveitar. Estamos a identificar alguns produtos relevantes para as nossas exportações que ainda não tenham acordo de exportação a fim de conseguirmos maximizar essas oportunidades.

Qual o mercado que mais vos tem surpreendido?

Continuamos a apostar fortemente nos mercados de proximidade. A UE representa 81% do valor das nossas vendas e o Reino Unido 6%. Ou seja, 87% do valor das exportações destinam-se a mercados em que conseguimos colocar os nossos produtos entre 3 e 48 horas por transporte rodoviário refrigerado. O mercado alemão tem crescido em valor todos os anos. Há cerca de 10 anos era o nono mercado mais relevante e, neste momento, é o quarto. A valorização dos produtos neste mercado também tem melhorado.

Qual o feedback que têm obtido dos mercados internacionais?

Há sem dúvida uma crescente preferência dos consumidores estrangeiros pela qualidade e sabor dos nossos produtos. Portugal tem uma localização privilegiada, com um clima que nos permite produzir cada vez mais ao longo de todo o ano. É pela qualidade, sabor e frescura que queremos competir e é nesse campeonato que estamos. Ao mesmo tempo, a diversidade de produtos que produzimos é cada vez maior, o que nos permite dar resposta às tendências de consumo e ter produto para exportação durante quase todo o ano.

O vosso objetivo é fazer crescer as exportações. De que forma?

A Portugal Fresh tem em curso um Projeto Conjunto de Internacionalização que, até 2025, inclui a realização de missões empresariais e ações de prospeção em quatro novos mercados, a participação em seis feiras internacionais, e iniciativas de promoção para acelerar a presença internacional do sector. Este projeto tem o apoio do Portugal 2030 – Programa Operacional Competitividade e Internacionalização, e prevê um investimento global de 1.561.663,52 euros, financiado em 48,8% pelo FEDER – Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.

Apostamos na promoção internacional em eventos onde as empresas associadas da Portugal Fresh têm acesso a clientes de todas as geografias, e onde podem expor os seus produtos, as suas marcas e a sua oferta. A presença nas principais feiras internacionais são ações chave e funcionam como plataforma de negociação com os 136 países para onde são exportados os produtos portugueses. As missões empresariais, por outro lado, são fundamentais para conhecer tendências de consumo de mercados que não são tão próximos.

Ao mesmo tempo, a Portugal Fresh também apostou na disponibilização de indicadores de mercado através de uma plataforma, com dados muito úteis para as empresas que pretendem exportar.

Quais as missões empresariais e ações de prospeção para este ano?

As missões empresariais e ações de prospeção têm como foco os mercados dos Estados Unidos, Chile, Índia e Polónia (neste último caso em 2025). Em relação às feiras internacionais, o calendário entre 2023 e 2025 é o seguinte: Fruit Attraction (2023 e 2024), Fruit Attraction São Paulo (2024), Fruit Logistica (2024 e 2025) e IPM Essen (2024 e 2025).

Como caracterizam, neste momento, o sector agroalimentar nacional?

O sector agroalimentar português tem tido uma evolução extraordinária, não só nas exportações, mas também na inovação de produto, na comunicação e nas boas práticas de produção. Partimos de um território rico em termos de clima e solo, que nos dá vantagem competitiva na qualidade. Ou seja, o nosso produto é bom. A sociedade nem sempre tem essa percepção e continua a ver o agroalimentar como um sector envelhecido e parado no tempo. Há, claramente, muito para fazer mas basta ir a um supermercado e ver a diversidade de oferta, cor e sabor que temos à disposição.

Os números também demonstram essa evolução. O valor da produção do sector das frutas, legumes e flores passou de 2,2 mil milhões de euros em 2010, para 5,1 mil milhões de euros em 2023. No que toca às exportações, o ano passado, as vendas internacionais de frutas, legumes e flores alcançaram 2,3 mil milhões de euros, mais 11,4% face ao ano anterior, atingindo um novo recorde.

E o primeiro trimestre de 2024 mostra, mais uma vez, que este sector não para de bater recordes: registou um crescimento de 18,2% em valor, com 563 milhões de euros (476,5 milhões de euros em 2023), e mais 12,8% em quantidade.

Têm o objetivo de atingir os 2,5 mil milhões de euros em exportações em 2030, depois de cerca de dois mil milhões em 2022. É um valor ambicioso, na vossa perspetiva?

Depende das prioridades de investimento do país em reservas de água. Se avançarmos com obras rapidamente, seguramente que podemos rever esta ambição. O país tem potencial para muito mais. A tendência de crescimento das exportações de frutas, legumes e flores tem sido de crescimento consecutivo. Batemos recordes sucessivos há mais de 10 anos. E, com base nesta trajetória, temos todos os motivos para confiar de que em 2030 estaremos, no mínimo, nos 2,5 mil milhões de euros.

O plano de internacionalização tem a dotação de 1,5 mil milhões de euros. Para que servirá este montante?

Este montante será para concretizar as missões empresariais, ações de prospecção e presença nos eventos internacionais.

Sentem que as alterações climáticas estão a ter forte impacto no sector?

Sem dúvida. As alterações climáticas e as situações de seca extrema levaram a diminuições no volume de produção e implicam ajustes contínuos na produção. Procuramos sistemas cada vez mais eficientes para gerir os recursos disponíveis, nomeadamente, a água. Mas o sector não pode trabalhar sozinho. É urgente uma rede nacional de água, que nos permita aproveitar a procura crescente pelos nossos produtos. São urgentes as obras de modernização de vários perímetros de rega, a criação de vias verdes para construção de charcas e reservatórios de água, a construção de barragens de diversas dimensões e para múltiplos fins, bem como novas fontes de água em algumas geografias em que não haja outra alternativa.

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